Os Cnidários

3.1.2. Os Cnidários

Os cnidários (filo Cnidaria) foram sempre classificados como celenterados (filo Coelenterata) em alusão à sua cavidade gástrica. Contudo, a sistemática actual já separou estes grupos para cada um deles formar um filo independente: filo Cnidaria e filo Ctenophora. O filo Cnidaria inclui as hidras, medusas, as anémonas-do-mar e os corais.

Ecologia e modo de Vida

Embora se encontrem em água doce, os cnidários são maioritariamente de água salgada, com preferência para águas pouco profundas, na costa dos trópicos e do Indo-Pacifico, mas também para outros mares.

São maioritariamente sésseis, sobretudo no estágio de pólipo, a forma assexuada do ciclo de Vida da maioria das espécies. Fixam-se em rochas, cascos, conchas de animais ou em outros substratos, onde esperam encontrar alimento muito diversificado. Existem também formas de Vida livre e natantes. Tanto as medusas como os pólipos podem ser coloniais ou solitários. Algumas classes são quase obrigatoriamente coloniais, com uma divisão de trabalho bem desenvolvida.

Os cnidários (assim como os ctenóforos) são maioritariamente predadores. Aprisionam com ajuda dos tentáculos pequenos animais, incluindo peixes, quer em muitos casos, imobilizam com o veneno dos seus cnidócitos (células tóxicas). Por vezes, as toxinas podem ser fatais também para o Homem.

Ocorre a simbiose de cnidários com algas zooclorelas (água doce) e zooxantelas (água marinha). O parasitismo é raro.

Os cnidários mais conhecidos são naturalmente os que formam os bancos-do-coral, ou recifes, que geralmente pertencem à classe dos antozoários (Anthozoa), embora participem na formação deste ecossistema muitos outros organismos vegetais e animais. A estrutura básica, porém, sobre a qual se desenvolvem outros organismos é feita pela classe dos antozoários: anémonas-do-mar, corais pétreos ou escleractinios e octocorais. A estrutura dura com forma de pedra que nós encontramos nos recifes deve-se ao endurecimento do carbonato de cálcio, segregado pelo pé do pólipo séssil.

Os corais exigem condições ambientais especiais para que se possam desenvolver:

  • Não deve haver grandes variações térmicas (são estenotérmicos); as temperaturas devem estar sempre próximas dos 20 °C;
  • Não deve haver grandes variações de concentração do sal (são estenoalinos);
  • Não deve haver grandes correntes de água.

Morfologia e anatomia

A maioria dos cnidários possui um ciclo de Vida com alternância de gerações do tipo metagenético, no qual se alternam as fases medusoide (sexuada) e a polipoide (assexuada). Em consequência deste fenómeno peculiar no reino animal, desenvolveram-se modos de Vida, comportamentos, estratégias, formas de alimentação e estruturas especiais correspondentes. O pólipo, por exemplo, é séssil e para tal desenvolveu um disco pedálico de fixação. A medusa, por seu turno, é livre e natante, deslocando-se à vontade nas diferentes zonas da água. Para tal, desenvolveu órgãos de natação e, em alguns casos, trata-se mesmo de estruturas muito especializadas para auxiliarem nesta deslocação.

Fig. 9: Pólipo – fase polipoide (A); medusa – fase medusoide (B). Duas fases do ciclo de Vida do mesmo individuo.


As células das paredes do corpo da hidra são várias e desempenham diferentes funções.

Os cnidócitos distinguem-se pela sua particularidade. São células de captura de presa e de defesa, providas de estruturas venenosas. Das células mais importantes dos cnidários, destacam-se:

  • Células epitélio (musculares) – de revestimento do corpo;
  • Células intersticiais – funcionam como células germinativas; originam espermatozoides e óvulos, assim como qualquer outro tipo celular;
  • Cnidócitos – destinadas à captura de presa e defesa; estão providas de estruturas venenosas, disparadas contra o alvo (figura 10);
  • Células sensoriais e nervosas – células nervosas multipolares, cujo sistema nervoso é muito primitivo.

Cnidócitos.
Fig. 10: Cnidócitos.


Reprodução e embriogenia

A medusa possui gónadas masculinas e femininas. A fecundação é interna; o zigoto (ovo) abandona o corpo-mãe, desenvolve-se numa larva plánula que nada aleatoriamente até se fixar no substrato; a plánula desenvolve-se num pólipo jovem que, depois, vai resultar num adulto com capacidade de multiplicação assexuada (brotamento, estrobilação, etc.); do pólipo desenvolvem-se as medusas por vias bem diferentes em cada grupo. Os antozoários não apresentam a fase de medusa: são só pólipos que asseguram as duas formas de reprodução, podendo ou não ser hermafroditas. O pólipo reproduz-se assexuadamente (multiplicação vegetativa) por meio de brotamento.

Fig. 11: Ciclo de Vida metagenético da classe Hidrozoa.


Bibliografia

PIRES, Cristiano; LOBO, Felisberto. Biologia 11ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2010.

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