Reino Protista: introdução aos seres eucariotas

2.5. Reino Protista: introdução aos seres eucariotas

As células de todos os animais, plantas, algas verdadeiras e fungos são eucariotas. Isto significa que possuem núcleo com membrana nuclear, nucléolo e cromossomas. Assim, opõem-se filogeneticamente aos procariotas.

As células de todos os animais, plantas, algas verdadeiras e fungos são eucariotas.
Fig. 11: As células de todos animais, plantas, algas verdadeiras e fungos são eucariotas.

Os organismos eucariotas, representados pelos protozoários (unicelulares) e pelas algas (unicelulares e pluricelulares), constituem o Reino Protista. Sendo eucariotas, os protistas possuem um núcleo individualizado por uma membrana nuclear, além de organelos membranosos.

A grande diversidade morfológica deste grupo leva a que alguns cientistas não aceitem a inclusão de certas espécies neste reino. Isto porque existem, no mesmo reino, organismos autotróficos e heterotróficos, assim como a ocorrência de formas transitórias destes dois. Desta forma, alguns cientistas preferem incluir os seres unicelulares eucariotas autotróficos no Reino Plantae e considerar os seres unicelulares eucariotas heterotróficos no Reino Animalia.

Quanto aos seres com hábitos alimentares entre seres heterotróficos e autotróficos, os cientistas estudam-nos tanto no reino vegetal, como no reino animal. A Zoologia Sistemática moderna considera animais apenas os seres claramente heterótricos.

Ao longo da última década, tem havido grande consenso quanto ao alargamento das fronteiras do Reino Protista e inclusão neste de todos os seres unicelulares eucariotas, bem como de todos os Seres vivos que, pela sua simplicidade, não demonstrem ter tecidos especializados (como é o Caso das algas).

Os protistas habitam em praticamente todos os ambientes onde exista igual, sendo um importante grupo na composição do plâncton. Podem ainda habitar meios terrestres húmidos, parasitando ou em simbiose com outros seres vivos.

Esquema da possível evolução dos principais grupos protistas.
Fig. 12: Esquema da possível evolução dos principais grupos protistas.


2.5.1. Os protozoários

Familiarizamo-nos com os protozoários de várias formas, mas a mais comum é através das doenças que eles causam ao Homem de modo directo ou indirecto. Na sua grande maioria, os protozoários são parasitas do Homem, de animais, assim como de plantas.

Aspectos gerais

Os protozoários constituem um grupo de seres de organização unicelular simples, mas eucariótica. Existem aproximadamente 50000 espécies muito heterogéneas.

Arquitectura celular

A única célula que constitui o protozoário evoluiu no sentido de ser capaz de resolver os problemas relacionados com os seguintes aspectos: aquisição de alimentos, locomoção, coordenação da relação com o ambiente (recepção, condução, percepção dos estímulos, assim como a reacção a estes), reprodução, defesa, etc.

Nos organismos pluricelulares (fungos vegetais e animais), estas funções são desempenhadas por grupos de células bem diferenciadas e especializadas em tecidos, órgãos, aparelhos e sistemas.

Mesmo a nível evolutivo mais elementar, coma é o caso das esponjas (poríferos), existem tecidos diferenciados.

Fig. 13: Exemplos de foraminíferos.
Foraminíferos

Fig. 13: Exemplos de foraminíferos.
Fig. 13: Exemplos de foraminíferos

Na sua maioria, os protozoários são microscópicos (um a mm). Apenas muito poucos chegam a ter alguns centímetros (há foraminíferos com 10 cm).

O protozoário vulgar e mais comum em praticamente todas as preparações microscópicas do tipo infusões é a paramécia. Esta serve como representante das características mais comuns de todos os ciliados.

2.5.2. Modo de Vida dos protozoários

Habitat

Os protozoários ocupam quase todos os habitats, desde que sejam lugares húmidos (água doce, mar, solo, sistemas límnicos, águas paradas, etc.). Podem ser solitários ou de Vida colonial.

Alimentação

Os protozoários são, como se disse, heterotróficos. Alimentam-se de matéria viva e morta (são saprofíticos quando vivem em substâncias dissolvidas e saprozoicos quando se alimentam de matéria animal morta). Podem ser de Vida livre, simbiótica ou parasítica.

Dentro dos parasitas, podemos destacar os seguintes:

  • Parasitas facultativos – tanto vivem livres, como dependem do hospedeiro;
  • Parasitas obrigatários – não vivem sem hospedeiro;
  • Exoparasitas – parasitas externos;
  • Endoparasitas – parasitas internos.

Podem existir formas transitórias. Também existem formas comensais, isto é, que vivem colectivamente com diferentes organismos, sem prejuízo mútuo.

Indivíduos de Vida livre

Estes protozoários alimentam-se geralmente de detritos orgânicos, bactérias e outros microrganismos, incorporando-os em vacúolos digestivos, A digestão é intracelular. Neste caso, as formas mais importantes de alimentação são as seguintes:

  • Fagocitose – forma de abraçar os alimentos por meio de braços ou pés falsos (pseudópodes o corpo celular evagina-se);
  • Pinocitose – incorporação de alimentos desintegrados pela superfície do corpo celular;
  • As espécies parasitas aproveitam substâncias orgânicas solúveis absorvidas a partir dos tecidos do hospedeiro, resultando na ausência de estruturas digestivas.

Formas de reprodução dos protozoários

Existem basicamente duas formas de reprodução nos protozoários:

  • Reprodução assexuada por divisões mitóticas, que ocorre praticamente em todos os protozoários (o corpo-mãe divide-se e forma novos indivíduos idênticos);
  • Reprodução sexuada por conjugação.

Doenças provocadas por protozoários

Dada a importância de alguns protozoários para a saúde pública, destacamos os seguintes grupos taxonómicos na tabela à direita.

Grupos

Agente Infeccioso

Flagelados

Tricomonas, Giardia, Tripanossoma, Leishmania

Sarcodinos

Amibas

Esporozoários

Plasmódio

 

Tricomonas (Ordem Trichomonadida)

Para o Homem, a importância desta ordem reside no facto de ela ser constituída por parasitas.

Trichomonas vaginalis é um parasita da vagina humana e do tracto genital masculino. Causa vaginite, que se propaga por contacto venéreo.

Provoca corrimento abundante e branco, com um cheiro fétido, acompanhado de prurido intenso. É, pois, uma Doença Transmitida Sexualmente (DST). A forma de prevenção mais adequada é o uso do preservativo.

Giardia (Ordem Diplomonadida)

É importante referir a Giardia lamblia, uma forma parasítica propagada na população humana, que causa diarreias. A doença designa-se giardiase e é mais frequente em crianças, que a contraem por contacto directo com indivíduos infectados. Dissemina-se sob a forma de quistos.

Os vírus parasitam no intestine) delgado, tanto no duodeno coma no jejuno, causando inflamações intestinais graves. Também existem outras formas não parasitas.

A característica mais assinalável é a sua simetria bilateral, onde se destacam dois núcleos, dois flagelos terminais e vários outros na região dos núcleos.

Tripanosoma (Ordem Kinetoplastida)

Este grupo é de interesse particular para o Homem, sobretudo em África e em regiões tropicais e subtropicais. Dele fazem parte alguns dos principais causadores de doenças tropicais.

Além de formas parasíticas, também existem indivíduos de Vida livre.

Nesta ordem, encontram-se diversos parasitas característicos de Moçambique e de África.

Há diferentes formas de tripanosoma, mas todas elas causam a chamada doença-do-sono ou tripanosomiase:

  • Trypanosoma gamhiense (vector – mosca tsé-tsé, Glossina sp.);
  • Trypanossoma rhodensiense (vector – mosca tsé-tsé, Glossina sp.);
  • Trypanosoma congolense (vector – mosca tsé-tsé, Glossina sp.),
  • Trypanosoma vivax (vector – mosca tsé-tsé, Glossina sp.);
  • Trypanosoma cruzi – causadora da doença de Chagas, na América do Sul (vector – barbeiro, Triatoma);
  • Trypanosoma brucei — causador de nagana, doença-dos-gados (vector – mosca tsé-tsé, Glossina sp.).

Leishemania (Ordem Kinetoplastida)

leishmanioseleishmaniase, calazar ou Úlcera-de-Bauru, é outra doença causada por flagelados, neste caso a Leishmania sp., cujo vector são mosquitos dos géneros Phlebotomus e Lutzomy.

Leishmsniose cutânea na de um adulto

Fig. 15: Leishmsniose cutânea na de um adulto.

 

Amibas (Ordem Amoebida)

As amibas comuns (Amoeba proteus) não têm exoesqueleto.

Vivem em ambientes húmidos e nas águas salgada e doce; algumas espécies vivem em terra.

Algumas amibas são comensais no intestino dos invertebrados e vertebrados, podendo ainda ser encontradas formas parasíticas (Entamoeba histolyticaEntamoeba Coli) são causadoras de disenteria amebiana ou amebíase e diarreias. Outras formas podem atacar o sistema nervosa central, os pulmões, os olhos e a pele.

Esporozoários (Sporozoa)

Os esporozoários incluem grande parte dos protozoários parasitas que mais doenças têm causado em África e no mundo em geral. E neles que se encontra o plasmódio (plasmodium) causador da malária ou paludismo. O plasmodium é um parasita humano unicelular, que infecta os eritrócitos.

Contamina os seres humanos através da picada da fêmea do mosquito Anopheles. Tem duas fases de reprodução: assexual no ser humano e sexual no mosquito. Porém, o ciclo de Vida deste grupo é muito complexo e envolve diferentes estágios, cada estágio tem o(s) seu(s) hospedeiro(s) específico como é o caso do plasmódio da malária (que envolve estágios que vivem no mosquito e estágios que hospedam o Homem e outros primatas com grande virulência).

Ciclo de Vida do Plasmodium

O ciclo de Vida do plasmódio inicia-se com a picada de um mosquito fêmea do género Anopheles.

Antes de sugar o sangue dos capilares, injecta uma pequena quantidade de saliva anticoagulante rica em plasmódios na corrente sanguínea (são necessários dez para causar a infecção). Os plasmódios estão na fase de esporozoíto e chegam em menos de 30 minutos, via corrente sanguínea, ao fígado, onde invadem os hepatócitos; aqui transformam-se em esquizontes, maiores e multinucleados. Estes dividem-se assexuadamente, gerando milhares (mais se forem P. Falsiparum, menos se forem outras espécies) de merozoitos, uma fase que dura seis dias (P. falsiparum) ou algumas semanas (no caso de outras espécies). São os merozoitos que invadem os glóbulos vermelhos.

No caso do P. Falsiparum, todos os esquizontes se transformam em multidões de merozoitos. 

Nas outras espécies, alguns ficam adormecidos no fígado, uma forma conhecida como hipnozoite, podendo a infecção reincidir, mesmo se aparentemente curada, muitos anos depois. Os merozoitos dividem-se assexuadamente no interior dos eritrócitos, até rebentarem, saindo a descendência e substâncias tóxicas para o sangue, infectando assim mais eritrócitos. Alguns merozoitos transformam-se em formas sexuais apos a meiose. As formas sexuais (macrogâmetas e microgâmetas) são aspiradas por um novo mosquito Anopheles quando este pica a pele. No estômago do mosquito, o microgâmeta sofre exflagelação e funde-se com o macrogâmeta, gerando um zigoto. Este transforma-se em oocineto, uma forma móvel, que atravessa a parede do estômago e se aloja na membrana basal; depois, transforma-se em oocisto, divide-se em milhares de esporozoítos, rebentando o oocisto, e migra para as glândulas salivares do insecto, de onde invadem um novo hóspede humano, perpetuando assim o ciclo de contaminação.

Dentro das hemácias, os merozoitos não são detetáveis pelo sistema imunológico. Só quando a hemácia rebenta, e antes de terem tempo de penetrar noutra, é que são detectados. Há a produção de citocinas pelos leucócitos, o que produz febre, tremores e mal-estar. Como todos os merozoitos originais são libertados do fígado ao mesmo tempo, e cada um demora mais ou menos o mesmo tempo a reproduzir-se na sua hemácia, os rebentamentos das hemácias com sintomas de febre violenta tendem a ocorrer em períodos sincronizados, com períodos assintomáticos intercalares (que correspondem divisão dos merozoitos dentro das células, onde não são detectados).

Fig. 17: Ciclo de Vida do Plasmodium no mosquito e no Homem.

O plasmódio, nos diferentes estágios do seu ciclo de Vida, afecta os seguintes órgãos: tecido hepático, logo a seguir infecção; glóbulos vermelhos, já como merozoito e gametócito.

Os esporozoários exibem também uma divisão celular, quando se reproduzem assexuadamente, numa bipartição longitudinal ou múltipla.

Além do género Plasmodium, existem outros parasitas, coma, por exemplo, a Eimeria.

Plasmodium

Tipo de Malária

Ciclo febril

Distribuição geográfica

Plasmodium malariae

Malária quartana

72h

Trópicos e subtrópicos

Plasmodium vivax e ovale

Malária tertiana ou terciana

48h

Trópicos e subtrópicos

Plasmodium falsiparum

Malária tropical

irregular

Idem. Em Moçambique é responsável pela malária resistente e cerebral, provocando grande número de mortes.

 

Principais parasitas de animais

Espécie

Doença e Geografia

Vítima

Vector

Tripanossoma brucei

Nagana / África Tropical

Todos os animais domésticos

Glossinas

Tripanossoma equiperdum

Aborto / África

Equídeos

idem

Eimeria stiedae

Coccidioses / mundo

Cunículos

 

Eimeria tonella

Coccidioses / mundo

Galinhas

 

 Bibliografia

PIRES, Cristiano; LOBO, Felisberto. Biologia 11ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2010.

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