As personagens do texto dramático

 As personagens do texto dramático

As personagens podem ser classificadas quanto ao relevo:

  • Protagonistas ou personagens principais: as que têm um papel central são os heróis da obra.
  • Personagens secundárias: são aquelas cujo papel tem menor relevo na economia da obra.
As personagens podem também ser classificadas quanto à sua composição:
  • Modeladas ou redondas: são dotadas de densidade psicológica e capazes de alterar os seus comportamentos å medida que os acontecimentos avançam. Revestem-se de complexidade suficiente para constituir uma personalidade bem vincada. Trata-se, neste caso, de uma entidade que quase beneficia do relevo que a sua peculiaridade justifica: é uma personagem que é, ao mesmo tempo, submetida a uma caracterização relativamente elaborada e não definitiva.
  • Planas: são as personagens que não apresentam densidade psicológica, assumindo sempre acções e reacções previsíveis ao longo do decurso da história, sem sofrer alterações.
  • Tipo: são as que representam um determinado espaço social, sendo-lhe, portanto, atribuídas características desse grupo social.
  • Colectivas: são constituídas por um conjunto de indivíduos que actuam em grupo.

Caracterização das personagens

Entende-se por caracterização todo o processo de pendor descritivo, tendo como objectivo a atribuição de características descritivas aos elementos que integram uma história, designadamente os seus elementos humanos ou entidades de propensão antropomórfica; nesse sentido, pode dizer-se que é a caracterização das personagens que faz delas entidades identificáveis no universo diegético em que se movimentam e relacionáveis entre si e com outros componentes diegéticos.

No que diz respeito às modalidades de caracterização, pode falar-se em caracterização directa e caracterização indirecta.

  • Caracterização directa: consiste na descrição eminentemente estática dos atributos da personagem consumada num fragmento discursivo expressamente consagrado a tal finalidade; a sua execução pode caber à própria personagem (autocaracterizarão) ou a outra entidade, normalmente outra personagem, no caso do texto dramático (heterocaracterização).

Da autocaracterização decorrem irrecusáveis consequências de tipo apreciativo, com óbvias repercussões no retrato finalmente configurado: quem a si mesmo descreve tende a perfilhar uma atitude positiva ou desculpabilizadora, ao passo que a heterocaracterização, revela, em principio, outra capacidade de análise, favorecendo uma atitude critica mais intensa.

  • Caracterização indirecta: constitui um processo marcadamente dinâmico.

É, de uma forma mais dispersa, a partir dos discursos da personagem, dos seus actos e reacções perante os outros que o receptor vai inferindo um conjunto de características significativas do ponto de vista psicológico, ideológico, cultural, social, etc.

O espaço e o tempo no texto dramático

O texto dramático, tal como o texto narrativo, engloba as categorias espácio-temporais. São elas que organizam os microcosmos da acção e estão presentes nos cenários e nas didascálicas.

  • Espaço: o espaço cénico é caracterizado nas didascálias onde surgem indicações sobre pormenores do cenário, efeitos de luz e som.
  • Coexistem normalmente dois tipos de espaço.
  • Espaço representado: constituído pelos cenários onde se desenrola a acção e que equivalem ao espaço físico que se pretende recriar em palco.
  • Espaço aludido: corresponde às referências a outros espaços não representados em cena.

Tal como no texto narrativo, as personagens e o seu discurso remetem para o desenrolar de uma acção. Mas, ao contrário do que acontece no texto narrativo, não há, ao mesmo nível do texto das personagens, nenhuma voz que organize essa acção, ou seja, no texto dramático, sem embargo de uma ou outra excepção, não há narrador, razão pela qual neste tipo de texto o diálogo é predominante.

O tempo é mais ou menos concentrado e os espaços não conhecem a variedade que, na maioria das vezes, o romance apresenta.

A estrutura do texto dramático

Estrutura externa: o teatro tradicional e clássico pressupõe a divisão em actos,

que correspondem à mutação de cenários, e em cenas e quadros, que equivalem à entrada ou saída de personagens em cena.

Estrutura interna

  • Exposição: apresentação das personagens e dos antecedentes da acção.
  • Conflito: conjunto de peripécias que fazem a acção progredir.
  • Desenlace: desfecho da acção dramática.

2. Estilística

Estilística é o estudo das diferentes formas e espécies de estilo e das figuras e ornatos de linguagem. Este escudo visa dar a conhecer a maneira como cada escritor põe em jogo os recursos da sua língua com fins expressivos e estéticos e, por isso, deve permitir determinar as leis gerais que regem a escolha da expressão e a relação existente entre esta expressão e o pensamento (Curso de Português, 1983, pág. 268).

Figuras de estilo são formas de expressão que tornam os pensamentos mais expressivos e dão mais beleza, graça e encanto às frases.

Figuras de sintaxe

  • Elipse: consiste na supressão de palavras fáceis de se subentenderem.

Ex.: «A cada um o que é seu» (= deve dar-se a cada um...)

  • Zeugma: omissão de palavra ou palavras já expressas noutra oração do mesmo período.

Ex.: «O lobo ataca com os dentes, o touro com as hastes.» (= o touro ataca...)

  • Pleonasmo: emprego de palavras que parecem desnecessárias por repetirem ideias, mas que servem para dar mais força expressiva.

Ex.: «Vi claramente visto o lume vivo.» (Luís de Camões)

  • Anáfora: repetição da mesma palavra ou expressão no início de um verso, de uma frase ou de um segmento frásico, para dar realce ao que se repete, pela insistência.

Ex.: «Tinha um berço pequenino

E uma criada velha com seu terço...

Cresci de mais, como destino!

Cresci de mais para o meu berço.» (José Régio)

  • Anástrofe: inversão da ordem normal das palavras na frase para evidenciar um conceito que é colocado numa posição de destaque.

Ex.: «Qual vermelha a arma faz de brancas.» (Luís de Camões)

  • Hipérbato: interposição violenta de um termo ou expressão entre outros que estão relacionados entre si; é uma variação menos violenta da anástrofe.

Ex.: «Casos que Adamastor contou futuros.» (Luís de Camões)

  • Anacoluto: emprego de um termo solto (ou expressão) a que se faz na frase alguma referência. Verifica-se uma mudança de construção já começada por outra de estrutura diferente.

Ex.: «Quem te não roga, não lhe vás boda.» (Popular)

  • Assíndeto: eliminação das conjunções coordenativas copulativas numa enumeração.

Ex.: «Brancos, negros, amarelos, mestiços, todos têm igual direito å cultura, aos benefícios da civilização.»

  • Silepse: concordância de uma palavra com a ideia que se tem no pensamento e não segundo as regras gramaticais.

«Os dois passeámos muito.»

 

Bibliografia

FERNÃO, Isabel Arnaldo; MANJATE, Nélio José. Português 12ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2010.

 


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