Evolução da agricultura e pecuária
2.3. Evolução da agricultura e pecuária
Origem e difusão da agricultura
Uma apresentação profunda do processo evolutivo ou das etapas do desenvolvimento da agricultura ao longo do tempo afigura-se extremamente complexo para ser descrito neste livro, contudo, a melhor compreensão do mesmo só faz sentido se iniciarmos esta temática com o conhecimento da origem e difusão da agricultura.
Com efeito, o início da evolução histórica da agricultura está associado à arte de domesticar plantas e animais.
Afinal onde foram pela primeira vez domesticadas plantas e animais? Ter-se-iam difundido a partir de um único ponto de origem ou existiram descobertas independentes em muitos lugares?
Que plantas e animais foram pioneiras na domesticação? Que povos ou povo os domesticaram?
Estas e outras questões por colocar são de resposta complexa, contudo, alguns autores afirmam que a domesticação terá tido origem no Sudeste Asiático, nomeadamente com rizomas, árvores, pequenos animais domésticos como a galinha e o porco; a norte, tal como Costa et all (1989) referem, ter-se-ia desenvolvido uma Vida nómada a partir de caçadores das estepes do interior da Ásia. Do cruzamento destas comunidades nómadas (a de caçadores e a de civilização vegetal) teriam surgido camponeses cultivando cereais com arados puxados por bovinos.
Espacialmente, acredita-se que, inicialmente, o berço das domesticações se teria localizado no Próximo Oriente, nos vales dos seus principais rios. Todavia, outros autores defendem apenas origens tropicais para a domesticação. Contudo esta última hipótese parece estar a ser afastada e o Próximo Oriente aparece como o berço mais provável da domesticação. Actualmente, admite-se que o centro mais antigo da domesticação de plantas e animais é precisamente esta região, nas áreas onde actualmente se localizam Israel, a Jordânia, a Síria, Turquia, Irão e Iraque.
A partir daqui (Próximo Oriente), verificou-se uma paulatina difusão dos cultivos, tanto para o leste, como para o ocidente. Como corolário deste processo de difusão, a agricultura teria aparecido na Europa em consequência da migração dos povos da Anatólia, munidos dos correspondentes conhecimentos instrumentais e agrícolas.
Mais uma vez a partir do Próximo Oriente a agricultura com o arado evoluiu para o leste até China, Índia e Sudeste Asiático. Alguns autores advogam que certos cereais teriam sido introduzidos em regiões tropicais por cultivadores do Próximo Oriente e não o contrário, ou então, a domesticação tropical teria acontecido de forma independente relativamente aos centros mais antigos.
No que respeita ao continente americano, mantém-se duvidas quanto aos contactos via oceano e da independência no que toca à domesticação relativamente ao Velho Mundo: às semelhanças com os diversos cereais cultivados no Velho Mundo opõe-se a grande importância do cultivo de milho na América; aqui, o cultivo das leguminosas contrasta com a sua escassez no Velho Mundo, pois o continente americano não domesticou cereais de pragana e muito menos incorporou, nos seus sistemas agrícolas, animais domésticos.
Como centros de domesticação e difusão no continente americano indicam-se o México e o Peru. Entretanto, parece estar assente que as domesticações do continente americano são mais recentes comparativamente as do Velho Mundo. A difusão dos princípios da domesticação teria sido acompanhada da difusão das técnicas básicas de cultivo.
Fig.4: Centros de origem das plantas cultivadas, segundo N. I. Vavilov. |
A recoleção do Paleolítico
No Paleolítico, o Homem Vivia essencialmente da caça, da pesca e da recolha de frutos e plantas. Era nómada, deslocando-se em função das estações do ano, consoante a escassez ou abundância de alimentos, movimentando-se espontaneamente de acordo com o que a Natureza lhe proporcionava. Desconhecia o cultivo das plantas e a domesticação dos animais.
Onde encontrasse raízes, caules, folhas e frutos, aí permanecia até que estes recursos se esgotassem. Depois procurava outros locais ou regiões que lhe pudessem proporcionar subsistência e, deste modo, ia perambulando de região em região, com um único objectivo e preocupação, o de se alimentar.
Como já foi atrás mencionado, existem várias correntes ou hipóteses que tentam explicar o aparecimento da agricultura. Todas elas não passam de suposições e todas as teorias são dignas de serem aceites, tal como Cruz (1990) refere.
Para muitos, a agricultura surge por mera curiosidade natural do Homem que, a partir das suas observações, vai acompanhando o desenrolar dos acontecimentos da Natureza e vai tentando imitá-la. Para outros, ela surge por necessidade, provavelmente devido escassez dos seus recursos alimentares por causa das mudanças ambientais (climáticas) verificadas nos finais do Paleolítico, e assim na luta pela sobrevivência começa a aguçar paus e pedras, e lança a semente terra, esperando seguidamente que produzam. Enquanto espera, o Homem encurrala os animais que produzem novas crias, e, deste modo, surge a domesticação.
Muitos autores sugerem que as primeiras espécies a serem cultivadas foram as gramíneas, com destaque para o trigo e a cevada, o que possibilitou a passagem da Vida nómada para a sedentária.
O início da agricultura coincidiu então com a passagem do nomadismo ao sedentarismo.
A passagem do estádio de recolector e caçador ao estádio de pastor e agricultor teria acontecido entre os anos 10000 e 7000 a. C., em diferentes lugares do globo. Estas fixarão que, historicamente, se localiza no Neolítico, representou uma autêntica revolução económica e social. O surgimento da agricultura repercutiu-se imediatamente na Vida das pessoas, com O aparecimento de habitações fixas, a existência de famílias e de grupos sociais, e a diversificação no trabalho.
Mas onde e quando terá surgido a agricultura?
Uma corrente aceite é que esta não seria fruto do mero acaso ou de invenção individual, mas sim o resultado de um longo processo colectivo em vários pontos do globo, ou seja é opinião unânime que a agricultura teria surgido em diferentes locais da Terra e cada um com sua cultura.
Nos fins do Paleolítico e inícios do Neolítico, os glaciares recuam, o mamute desaparece a rena migra para o norte, as terras húmidas cobrem-se de prados e florestas, ao mesmo tempo que o Saara começa a desertificar-se. O Homem refugia-se para os planaltos e vales dos grandes rios (Eufrates, Tigre e Nilo). Embora ainda caçador, o Homem dedica-se à prática agrícola, durante alguns períodos.
Fig.7: Machados do Paleolítico. |
No Próximo Oriente, especificamente na Mesopotâmia, teriam sido o trigo e a cevada as primeiras plantas a serem domesticadas, isto por volta de 10 000 a. C. e na Ásia central 9000 a. C. Na América, nomeadamente no México e no Peru, a mandioca e a abóbora teriam sido cultivadas por volta de 7500 a. C. e o milho no México, por volta de 6500 a. C., seguindo-se o algodão, o amendoim e a ervilha.
No Egipto, no vale do Nilo, surge o trigo por volta de 6500 a. C. e o algodão em 4500 a. C., embora já fosse conhecido na Índia, onde o arroz aparece por volta de 4200 a. C. Estas culturas vão-se expandindo e por conseguinte, a Vida vai-se alterando. O espaço rural começa a ser colonizado e ordenado ao longo do tempo segundo técnicas variadas, criando paisagens rurais que reflectem o esforço do Homem, de lugar em lugar, ao longo de milénios.
Revolução agrícola do Neolítico
A revolução do Neolítico caracterizou-se pelo aumento da população, e foi este aumento que catapultou a expansão agrícola, lenta, mas progressiva. Presume-se que a sementeira fosse inicialmente feita com o recurso ao calcanhar ou a um pau afiado.
Entre 5000 e 4000 a. C., com a utilização dos metais (cobre, bronze e ferro), o solo passa a ser mais facilmente trabalhado e arroteado, o que permite o aumento das áreas de cultivo; aparece a enxada, inicialmente de pedra e, mais tarde, de ferro; aparece igualmente o arado de madeira e posteriormente de ferro, já conhecido na Mesopotâmia e Egipto cerca de 3000 a. C., puxado por bois, na Europa e Norte de Africa no segundo milénio. Este permitiu lavrar em terrenos mais duros e fazer sulcos mais profundos. São inventados dois tipos de charruas, uma no Egipto e outra na Ásia Central, que se espalharam em direcção Europa Setentrional, ao Cáucaso, e por terras ainda mais longínquas, onde substituem a enxada e o pau de semear, contribuindo para urna major prosperidade agrícola.
A foice e o moinho foram também aperfeiçoados e transformados, mas sem dúvida a roda afigura-se como a maior invenção no Neolítico. Esta era muito arcaica, composta de três pegas de madeira encaixadas umas as outras, presas por tiras de couro e pregadas com pregos de cobre.
Apesar deste seu carácter rudimentar, revolucionou os transportes, bem como foi utilizada na producä0 da época, por exemplo na olaria, com a roda do oleiro. O carro de rodas surge em Ur (Caldeia) cerca de 3500 a. C., passou para o Indo e Egipto e mais tarde para a Europa e Sul da Rússia.
No Neolítico acontece o aperfeiçoamento do amanho da terra e aumenta a produção agrícola, o que estimula o início das trocas comerciais.
Pratica-se o afolhamento e a rotação de culturas com o pousio. Reconheceu-se igualmente o esgotamento dos solos, pelo que alguns povos deram início à utilização de estrume dos animais para fertilizar os campos.
A irrigação é conhecida, o que estimula o aumento da producão e da produtividade, consolidando a sedentarização do Homem e consequentemente, projectando-o na categoria de produtor e transformador das paisagens. Nesta conformidade, tal como Costa et al (1989) referem, as realizações tecnológicas do Homem do Neolítico, as plantas que este pela primeira vez submeteu ao cultivo, os animais que conseguiu domesticar e as técnicas de olaria, da cestaria e da tecelagem que inventou, são evidências do papel do aparecimento da agricultura, do inicio da humanização da terra e do intenso, antigo e continuo convívio do Homem com ela. Foram todos estes acontecimentos extraordinários que permitiram o surgimento da Revolução Neolítica.
Agricultura no Mundo Antigo
Civilização Egípcia
Até ao século XVI a. C. o Egipto, país cercado pelo deserto, e implantado no Nilo, permanece fechado em si mesmo devido estrutura política centralizada e déspota. Toda a sua Vida económica e política andava à volta do Estado e dos deuses. Tinha como base económica a agricultura.
O faraó era o senhor das terras, e estas eram trabalhadas por camponeses sujeitos ao regime de servidão e por escravos procedentes das guerras. A agricultura estava associada ou subordinada rega, por isso a construção de condutas era prioridade na agenda do Estado. Surgiu naturalmente uma agricultura irrigada acompanhada de um intenso trabalho de distribuição das águas e apropriadas obras hidráulicas, represas, diques e toda uma rede de canais. A administração das águas e a sua distribuição nos campos comportava vários intervenientes e graus: fiscais, escribas e superintendentes que usavam o título de intendentes das bocas que conduziam canais dos pântanos.
As inundações periódicas do rio Nilo fertilizavam os solos e contribuíam para a produção de cereais (centeio, trigo, cevada e milho miúdo), legumes (cebola e pepino) e frutas (melão). Da cevada fabricavam a cerveja que era considerada bebida nacional.
Estava igualmente muito difundida a cultura do linho para o vestuário comum e para as mortalhas das múmias e a recolha do papiro.
Os egípcios criavam vários tipos de animais tais como bois e vacas, das quais obtinham carne e leite. Criavam ainda animais de carga, porcos, camelos, aves de capoeiras e carneiros. O pão e a cerveja eram a base da alimentação. Comiam também muitos vegetais, como o feijão, rabanetes, pepinos, alfaces, entre outros. Comiam muito queijo e peixe. Todos estes produtos oriundos da terra fértil do Egipto eram utilizados para o consumo como também para a exportação, uma vez que eram produzidos em grandes quantidades.
A Mesopotâmia
A Mesopotâmia possuía solos férteis localizados ao longo das bacias e entre os rios Tigre e Eufrates e uma comunidade muito dependente da irrigação. O trabalho agrícola era realizado com recurso a sofisticados sistemas de canais e represas geridas pelo Estado, o que contribuía para aumentar a fertilidade e a produção. Na Mesopotâmia existiam regras muito exactas (Código Hamurabi) sobre a construção de diques, canais de irrigação, maneira de conservar e forma de distribuição da água. O Estado era responsável por vigiar a actividade agrícola de forma a garantir o cumprimento dessas regras e assim garantir o desenvolvimento da produção agrícola.
Utilizava-se o estrume de aves como adubo e o boi e o burro puxavam o arado rudimentar de madeira. Cultivava-se o trigo, o milho, a cevada, a tamareira e sésamo para o Óleo. O trigo e a cevada eram utilizados no fabrico da cerveja.
Idade do Ferro
É o período que corresponde à utilização da metalurgia do ferro, que começou a desenvolver-se por volta de 1800 a. C., na Ásia Menor, e que chega Europa por volta de 1200 a. C.
A descoberta do ferro impulsionou a agricultura, aumentando a produção agrícola. Por sua vez, o desenvolvimento da agricultura impulsionou outros ramos de produção, como a metalurgia do ferro, a carpintaria e a olaria. Registam-se igualmente progressos na produção alimentar e nos transportes, repercutindo-se na economia de troca, tendo sido o Mediterrâneo o centro de expansão, principalmente com os gregos. Dominavam as grandes propriedades de produção de cereais, e pastos trabalhados por trabalhadores e escravos. A base da alimentação provinha não só dos cereais, como também do gado miúdo, do cultivo da amendoeira, da oliveira e da videira.
Império Romano
Nos séculos III a. C. e V d. C., Roma era o grande centro do mundo. Possuía um império que se estendia desde a Síria ao Egipto e da Península Ibérica Inglaterra.
Os romanos eram um povo de camponeses e pastores por excelência, característica essa que foram perdendo devido ao seu envolvimento em guerras cíclicas e na expansão militar. Este fenómeno transformou os romanos em soldados profissionais, o que influenciou negativamente o desenvolvimento económico de Roma, especialmente no ramo agrícola, devido ao abandono da construção das obras de regadio e do arroteamento da terra. Porém, apesar deste abandono do trabalho agrícola, os romanos transplantaram para a Europa árvores provenientes do Oriente como são os casos do damasqueiro, da vinha e do castanheiro.
O rendimento da terra era escasso, e as culturas de regadio, muito exigentes em mão-de-obra, foram-se perdendo, tal como se foram abandonando gradualmente as áreas de cultivo. Os cereais importados do Egipto eram menos caros comparativamente aos produzidos pelos pequenos proprietários romanos, e esta situação acabou arruinando os pequenos proprietários, que não tiveram outra saída senão vender as suas terras aos mais ricos, que paulatinamente se foram transformando em latifundiários de grandes áreas agrícolas, também conhecidas pelo nome de Vilela. Os proprietários dos latifúndios preferiam criar gado ou cultivar a vinha e a oliveira do que produzir cereais (que importavam das províncias a baixo preço), produção que foi gradualmente sendo abandonada.
Todavia há relatos de que a agricultura romana era uma actividade muito importante da antiga Roma. Prova disso é que as suas conquistas eram principalmente constituídas de propriedades agrícolas, pagas mais com sangue do que propriamente com dinheiro. Nas novas províncias conquistadas, eram criadas fazendas romanas. A grandeza do Império romano assentava na propriedade do solo pelos cidadãos e na grande homogeneidade agrícola.
Os romanos atingiram um grande nível de prosperidade agrícola. Eram peritos na construção de barragens e canais, no saneamento do meio, no uso de métodos de drenagem e na instalação de canalizações subterrâneas, que permitiam cultivar em regiões pantanosas ou devastadas por inundações. Os romanos cultivavam a espelta (espécie de trigo), a cevada, o frumento, o feijão, o alho, a cebola, a figueira, a Oliveira e a vinha. Os romanos já utilizavam os sistemas agrícolas e uma das técnicas utilizadas consistia em revolver a terra três vezes antes da sementeira. perto das cidades praticava-se a agricultura intensiva de legumes e frutas nas hortas, cultivavam.se cereais em regime extensivo e estas propriedades também forneciam vinho e azeite às cidades vizinhas.
Os progressos da agricultura romana estavam associados, em parte, massiva utilização de ferramentas melhoradas e especializadas (charruas de diferentes modelos adaptados natureza dos solos e ao sistema escolhido; grades de estorroar, ancinhos, enxadas, pás, sachas, picaretas de metal, cestos, baldes entre outras), e autênticas máquinas agrícolas (máquina de ceifar, com dentes metálicos puxada por animais, prensa de parafuso e o moinho de vento ou de água).
A alimentação era baseada na farinha de trigo transformada em pão ou em sopa, condimentada de azeitonas, vegetais e legumes, e o azeite era o principal tempero. A carne era um alimento de luxo, mas consumiam massivamente queijo, leite, fruta e adoçavam tudo com mel (ver menu para o banquete) e bebiam muito vinho.
Tabela 11: Menu para Banquete
Aperitivos | Pratos principais | Sobremesas |
Mariscos e ovos. | Gamo selvagem assado com molho de cebolas. arruda, tâmaras de Jericó, uvas e mel. | Fricassé de rosas em pastel. |
Uberes de porco estufados com ouriços do mar salgados. | - | Tâmaras secas recheadas com nozes e pinhões, fritas em mel. |
Pasta de miolos cozinhados com leite e ovos. | Ostras cozidas com molho doce. | Bolos africanos de vinho, quentes. com mel. |
Cogumelos de árvore cozidos com molho de peixe gordo apimentado. | Presunto cozido com figos e empastelado com mel. | Frutos. |
Ouriços-do-mar com condimentos, mel, e molho de azeite com ovo. | Flamingo cozido com tâmaras. | - |
Agricultura medieval
No Ocidente cristão
Verifica-se a invasão dos bárbaros e a queda do Império Romano do Ocidente (476) e isso gera uma grande desorganização na Europa. O sistema económico sofre um grande retrocesso e a Europa Ocidental transforma-se numa sociedade meramente agrária, com uma economia basicamente rural, de subsistência, fechada dentro dos limites de cada senhorio e onde cada um destes Vivia dependendo de si próprio. As invasões bárbaras arruinaram a economia romana e perturbaram a circulação de produtos na Europa, tornando as rotas comerciais inseguras.
Os muçulmanos, a partir do século VII, ocuparam o Norte de África e detiveram o controlo das rotas para o Oriente. Estes dois factos contribuíram para a redução do comércio e moeda em circulação. Verificava-se internamente a má qualidade de transportes e estradas, o que não incentivava as trocas comerciais. Assim, na primeira Idade feudal, observa-se um grande declínio do comércio em toda a Europa, e os senhorios praticavam urna economia de subsistência; decai a actividade artesanal, o que confere importância à agricultura.
Fortalece-se o sistema feudal como forma comum de propriedade, no século IV, e assim nasce uma estrutura agrária, onde, a partir do século V, a Igreja e os nobres obtém as maiores concentrações fundiárias. Paulatinamente, a Igreja converte-se no maior proprietário de terras, usurpando as propriedades dos camponeses rurais, que por coação ou protecção passaram a ser arrendatários, servos, camponeses livres ou colonos.
O sistema de cultura comum neste período era o da rotação trienal, onde a terra estava dividida em três áreas, com rotação de culturas de três anos; no primeiro, cultivava-se cereal de Inverno (trigo ou centeio), no segundo, era a vez dos cereais de Verão (aveia ou cevada) e no terceiro o terreno ficava a descansar, em regime de pousio. O afolhamento trienal permitiu aumentar a produção e proporcionou alimentação mais abundante para homens e animais.
Neste período foi inventado o moinho de água, já conhecido pelos romanos sob forma manual.
Cerca do século IV, os moinhos são introduzidos, mas a sua difusão acontece de forma muito lenta. Só mais tarde, no século XII, é que são introduzidos na Europa.
Os cereais comummente produzidos eram o trigo, o centeio, a cevada, as ervilhas e lentilhas. Difunde-se igualmente a videira por razões litúrgicas, e cultiva-se o linho e o algodão.
A criação de gado era débil devido ausência de pastos, contudo, a carne de porco constituía uma parte importante da dieta do Homem medieval.
Nos finais do século XV, ainda que com imperfeições técnicas, a agricultura europeia começa a desenvolver-se, o que permitiu o aproveitamento do solo em algumas regiões. Algumas regiões especializam-se e inicia-se um processo de melhoramento dos transportes e do comércio.
Nos países muçulmanos
Os países islâmicos do Oriente desfrutavam de uma agricultura muito mais próspera, variada e rica, comparativamente aos países cristãos. As culturas resistentes à seca, na altura desconhecidas no Ocidente, eram cultivadas próximo das de regadio e tiveram um papel de destaque na diversificação da dieta alimentar. Um aspecto marcante da agricultura muçulmana foi a sua grande dependência das condições naturais, sobretudo da água e, por isso, houve grande preocupação com a gestão e conservação dos canais bem como na invenção de noras que permitissem elevar a água dos poços e dos rios. Analogamente ao mundo ocidental, a área da propriedade também ficou concentrada nas mãos da burguesia comercial e dos militares.
Os instrumentos agrícolas eram bastante rudimentares. O arado era muito primitivo, o que não permitia penetrar profundamente no solo. Utilizava-se também a foice lisa ou dentada, a forquilha, o ancinho e a enxada. Para debulhar as espigas malhavam-se as mesmas ou aproveitava-se o pisoteio dos animais.
Empregaram novos métodos de culturas e foram responsáveis pela introdução de muitas plantas provenientes da Índia, Pérsia e do Egipto. Na Península Ibérica cultivavam o arroz, e várias espécies de sorgo, o linho, o algodão, introduziram a bananeira, cana-de-açúcar, hortaliças, legumes, amoreira, alguns citrinos (limoeiro, laranjeira azeda e a laranjeira doce no século XIII).
Os árabes contribuíram para a melhoria das técnicas agrícolas e para a difusão de novas espécies, marcando deste modo uma nova era no domínio da agricultura.
Progresso e crise no Ocidente cristão
O século XII é a fase decisiva na evolução da Vida económica da Idade Média, pois houve o aumento da produção agrícola, novas condições de trabalho, mudança na paisagem agrária e aumento demográfico. Os moinhos mecânicos movidos à água moem grãos e azeitonas. Entre os séculos XII e XIII, aparece no Ocidente o moinho de vento trazido pelos árabes e são difundidos os instrumentos agrícolas de ferro como o arado de rodas e com aiveca, a foice e o forcado.
No século XIII, a Inglaterra afirma-se como o pais de maior progresso agrícola. As principais culturas de sequeiro (cereais panificáveis) são cultivadas seguindo a rotação trienal e planta-se aveia para alimentar o gado de tracção, cultiva-se também o linho, cânhamo, plantas tintureiras (ruiva e pastel) e oleaginosas. Ocorre a difusão da Oliveira e videira pelo Mediterrâneo.
No campo pecuário, a Inglaterra chega a possuir rebanhos com cerca de 30 000 cabeças, cuja finalidade era satisfazer o mercado flamengo e italiano.
No século XIII, a lavoura melhora, os adubos são utilizados na fertilização dos solos, o que contribuiu significativamente para aumentar a produção agrícola, uma vez que as sementes passam a produzir seis vezes mais. Alterna-se a cultura de cereais com verduras, legumes (ervilha, fava e lentilha) e plantas aromáticas (anis, cominho e açafrão) muito usadas na época medieval.
Os finais e princípios dos séculos XII e XIII são igualmente marcados pela difusão da rega pelos mosteiros, favorecendo a plantação de culturas hortícolas. Na Espanha, graças ao recurso das técnicas dos muçulmanos, introduzem-se as verduras e frutas, açúcar, arroz, algodão e amoreira.
No século XII, os holandeses iniciam a conquista das terras ao mar (os polders), e até ao século XV a paisagem rural e a exploração agrícola sofrem grande transformações na Europa. Reorganizam-se os campos para aumentar as áreas cultiváveis, excepção dos países mediterrânica os, que mantiveram os seus campos nas formas e aspectos tradicionais (irregulares). Porém, o Sul da Inglaterra, o Noroeste da França, a Alemanha e a Polónia, mantiveram os seus campos abertos, mais ou menos alongados, de configuração geométrica, e uma organização comunitária de lavoura baseada na rotação trienal e no aproveitamento dos restos das plantas e vegetais das colheitas.
A aparente melhoria nas técnicas e o aumento das áreas de cultivo não foi, contudo, suficientes para alimentar uma população em crescimento e que atinge o seu pico no início do século XIV. Resultado disso foi o aumento da crise alimentar e da fome na Europa, em especial na bacia mediterrânica. Esta crise alimentar era resultado, por um lado, das fracas precipitações que ocasionavam fracas colheitas e, por outro, pela existência de terras estéreis que não propiciavam a prática agrícola. Esta situação, fez propagar doenças por toda a Europa.
A agricultura nos séculos XIV e XV
Este período é caracterizado por um grande retrocesso no campo agrícola devido as catástrofes agrícolas, ao flagelo da peste negra, ás pilhagens e devastações decorrentes da Guerra dos Cem Anos. Isto teve impacto negativo muito profundo na Vida das populações, traduzindo-se no abandono dos campos e provocando um êxodo rural incontrolável para os centros urbanos, reduzindo a mão-de obra rural e transformando a paisagem rural.
Agricultura na época dos Descobrimentos
Até ao século W, a agricultura europeia baseava-se nas plantas cultivadas desde tempos remotos. Isto acontecia pois o mundo conhecido estava nessa altura restrito franja da bacia do Mediterrâneo e certas áreas da Ásia, África e Europa.
Com as grandes navegações, novas terras foram descobertas e os europeus entram em contacto com diferentes partes do globo terrestre, tendo, por conseguinte, conhecido os hábitos e costumes de diferentes povos e plantas cultivadas desconhecidas até então na Europa e que foram posteriormente aí introduzidas. Este processo ocorreu após os séculos XV e X VI. Mais tarde, com a colonização das terras descobertas, os colonizadores europeus transportaram plantas da Europa para as novas terras. O comércio (o mercantilismo) foi a base da economia europeia entre os séculos XV e XVIII e deste modo, produtos tropicais como a cana-de-açúcar, o cacau e outros, assumiram grande papel no comércio e davam grandes lucros.
A difusão das plantas cultivadas
No Canadá, Austrália e Nova Zelândia, o trigo, a aveia, o gado e as frutas de clima temperado foram introduzidas pelos colonizadores ingleses e franceses.
Nos Estados Unidos da América, a semelhança com o clima da Europa, permitiu igualmente que os colonizadores ingleses reproduzissem as práticas agrícolas das suas terras. Levaram o trigo, a aveia, o centeio, e a cevada, além de animais. Na região da Califórnia, nos Estados Unidos da América, os europeus introduziram a vinha e os citrinos, já cultivados no Mediterrâneo.
No Brasil, os portugueses introduziram a cana-sacarina, planta de origem asiática (Índia), que já tinha sido introduzida em Cabo Verde, Acores e Madeira. Foi também levada para as Antilhas e depois para o Sul dos Estados Unidos da América.
O café é de origem africana (Etiópia). Foi levado para a Europa e depois introduzido no Haiti (América central). Dai foi levado para Caiena, na Guiana Francesa, e introduzido depois no Brasil e na Colômbia, onde se adaptou muito bem.
O cacau originário da Amazónia e das florestas tropicais da América Central, já era utilizado como alimento pelos povos nativos, quando os europeus (espanhóis) chegaram ao continente americano. Foi levado para África, onde as suas plantações prosperaram e apresentaram um grande desenvolvimento. Os países do Golfo da Guiné, como o Gana, Nigéria e Costa do Marfim, tornaram-se grandes produtores.
O arroz, cultivado no Extremo Oriente, foi levado para a região do Mediterrâneo europeu e depois para a África e América. O milho, vegetal tipicamente americano, difundiu-se pela Europa, África e Ásia. A mandioca americana foi levada para África, onde se tornou um alimento básico de muitas populações. O chá da Índia expandiu-se para a Africa e para o Brasil. A banana, proveniente das regiões quentes e húmidas da Ásia, foi difundida pela África e América.
O algodão, planta nativa das regiões quentes da América e da Ásia, foi também introduzido na Europa e Africa. As plantas frutíferas também foram alvo de grande difusão. Por exemplo, a melancia foi introduzida no Brasil, vinda do Sul dos Estados Unidos. A mangueira e a jaqueira vieram da Ásia (Índia) enquanto o cajueiro, nativo do Brasil, foi levado para a Índia.
O tabaco, planta nativa da América, trocado no Brasil por escravos africanos até meados do século XIX, teve grande difusão pela Africa, Ásia e Europa.
A revolução agrícola no século XX
O século XX apresentou uma verdadeira revolução das técnicas agrícolas. Por intermédio da Agronomia, ciência que aplica um conjunto de conhecimentos científicos, a agricultura conseguiu, com sucesso, variedades vegetais resistentes a certas doenças, variedades de maior produtividade, mais ricas em proteínas e também de crescimento mais curto. A obtenção dessas variedades tem possibilitado que a agricultura esteja em diferentes áreas da Terra, aumentando assim áreas cultivadas. O trigo já é plantado em áreas frias das planícies centrais do Canadá e Rússia.
Outro grande avanço alcançado foi o aperfeiçoamento das técnicas da irrigação. Estas permitiram produzir em regiões desérticas de Naguev (Israel), e áreas do Peru, Chile e Asia Central.
Nas áreas de clima frio e temperado, tem sido possível cultivar flores, hortaliças e legumes em grande quantidade em grandes estufas aquecidas. Criou-se assim um ambiente favorável para o desenvolvimento dos vegetais.
Contudo, apesar de todos estes avanços da ciência e das técnicas de cultivo, grande parte da população mundial passa fome. Muitas sociedades ainda não conseguiram ter o controlo da água e assim estabelecer um equilíbrio entre o Homem e a terra. A fome, a subnutrição e todas as consequências que delas derivam São o dia-a-dia de muitas comunidades de países pobres da Asia, Africa e da América Latina. Esse é um grave problema ambiental ainda por resolver, e exige de todos os seres deste planeta maior atenção e interesse, por forma a se construir um mundo mais justo, ecologicamente saudável e livre de fome e pobreza.
Bibliografia
MANSO, Francisco Jorge; VICTOR, Ringo. Geografia 12ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2010.
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