A Atenção e Percepção (Processos Psíquicos Cognitivos)
A Atenção e Percepção
Pode-se dizer que a
atenção constitui o estado selectivo da própria percepção, isto é, na atenção
há processo de selecção de informações na qual se dirige ou se focaliza a
percepção sobre um determinado estímulo ou objecto específico. Estas
informações não só são recebidas como também são processadas, isto é, o
indivíduo à medida que vai recebendo as informações vai pensando e imaginando
sobre o material que é percepcionado.
Imagine que você
está explicando um conteúdo, um microscópio, por exemplo a um aluno. Ele
receberá a explicação do professor e também de certeza lhe ocorrerá na mente
sobre outros vários aspectos atinentes ao estímulo que está sendo
percepcionado. Esta capacidade de atenção é distributiva porque o aluno poderá
prestar atenção à explicação do professor e simultaneamente apreciar o objecto.
Ou durante o processo ele concentra-se num aspecto único (explicação do
professor ou sobre o microscópio). Esta é a chamada atenção concentrativa.
A atenção
distributiva ocorre quando um indivíduo focaliza a sua atenção sobre vários
objectos, enquanto que a concentrativa apenas quando se destina a um objecto.
Estes dois tipos de atenção diferem entre si pela intensidade, havendo
logicamente maior intensidade na atenção distributiva pela quantidade de
objectos envolvidos no processo de atenção.
Quais seriam as
funções fundamentais da atenção e o que a determina?
Uma das funções da
atenção é o de identificação primária das informações. Quer dizer, as
informações (os estímulos) antes do seu processamento são primeiramente
identificados como imagens, palavras ou acções mas sem nenhum significado. Só
depois são armazenadas.
Depois da
identificação das informações ocorre a selecção, isto é, das diversas
informações recebidas selecciona-se a desejada. Depois segue-se o processo de activação
o qual tem a ver com a concentração de energias sobre o objecto desejado.
Por outro lado a
atenção é determinada por factores internos (inerentes ao indivíduo) e externos
(alheios a este). A tabela 1 mostra alguns desses factores.
Tabela 1. Factores da atenção
Factores Internos |
Factores Externos |
Sistema Sensorial |
Quantidade de informações |
Capacidade
de processar informações |
Stress social |
Características da personalidade |
Complexidade dos estímulos |
O sistema sensorial
desempenha um papel essencial na apreensão dos estímulos. A atenção seria
influenciado portanto pela experiência do indivíduo na maneira como este
movimenta os seus olhos, posiciona o seu ouvido para captar sons ou aproxima o
estimulo junto ao nariz para captar o cheiro do objecto.
Na percepção do
conteúdo ou objecto novo certamente que vai reparar que alguns dos seus alunos
serão mais lentos ou terão dificuldades em captar os estímulos deste. Enquanto
que outros fá-lo-ão com muita rapidez devido exactamente ao contacto prévio que
tiveram com este objecto. Isto significa que a sua experiência sensorial, isto
é o contacto que tiveram com este irá acelerar a captação rápida ou não do
estímulo.
Os nossos órgãos dos
sentidos são, vezes sem conta, bombardeados por estímulos de diversa natureza
que se encontram a nossa volta. Estes estímulos são captados e processados
pelos órgãos dos sentidos. Por outros razões (biológicas ou outras) pode
acontecer que o cérebro esteja impedido de processar estas informações
fazendo-o de uma forma mais lenta. Mas por outro lado pode dever-se a
quantidade de informações a processar. Por exemplo, se na sua aula de quarenta
e cinco minutos planeia transmitir muitas informações isso poderá criar
dificuldades aos alunos para processar essas informações.
Outro aspecto
importante a tomar em conta na atenção relaciona-se com as características de
personalidade de um indivíduo. Indivíduos introvertidos conseguem aguentar por
mais tempo em tarefas prolongadas que os indivíduos extrovertidos. (Os
conceitos de introversão e extroversão são discutidos no capítulo sobre a
personalidade).
Os problemas sociais
da família, amigos, etc., criam também perturbações na atenção na medida em que
um indivíduo estressado devido a problemas de varia índole não iria de certeza
poder prestar atenção.
O que é a percepção
Você de certeza já
reparou que uma criança recém nascida pode retribuir um sorriso por um outro
sorriso seu, seguir os objectos que cruzam o seu campo visual, seguir até a chucha
do biberão. Apesar de a criança ter essa capacidade ainda não reconhece vários
aspectos desse objecto. Não sabe qual é a função da chucha nem do biberão.
Depois de alguns meses esta mesma criança será capaz de esboçar movimentos de
sucção nos seus lábios quando vir uma chucha. Isto significa que o bebé
reconhece a chucha ou mesmo o biberão como objectos. Reconhecerá também o seu
alimento quando este estiver colocado em diferentes recipientes.
Da mesma forma que
reconhece o seu alimento, a chucha do biberão e o próprio biberão vai também
reconhecendo os rostos das pessoas mais próximas e outros objectos que a
circundam.
Contudo, não percebe
o objecto como um todo mas sim determinadas características de configuração,
como por exemplo à ponta redonda da chucha Identifica o objecto através de
características que não são muito importantes.
A pouco e pouco vai
aprendendo a separar a apreensão do objecto, o biberão por exemplo do leite que
ela toma. Vai também gradualmente apreendendo a situação que dá origem ao
aparecimento do alimento, etc.
O exemplo dado
anteriormente ilustra como o processo de percepção decorre nos nossos órgãos
dos sentidos. Contudo, olhando para este exemplo pode-se ter a ilusão de que a
percepção é um fenómeno simples.
Ele é muito complexo
e pressupõe uma série de actividades cognitivas. Um fenómeno que decorre ao seu
redor pode se lhe atribuir vários significados.
Suponhamos que está
sentado no cinema a ver um filme ou está apreciando uma paisagem pela primeira
vez. Essa paisagem pode lhe fazer lembrar uma série de episódios semelhantes.
As montanhas podem se parecer com outras figuras, os lugares podem fazer
lembrar outros que por ventura lá tenha passado. Desta paisagem ou deste filme
pode-se extrair uma série de ideias significativas. Quer dizer sempre que
alguém presta atenção sobre um objecto ou fenómeno facilmente pode encontrar
sentido nas informações captadas, associar essas informações às experiências
passadas e lembra-las mais tarde.
A percepção é um
fenómeno complexo através do qual se apreende e se interpreta o mundo exterior
como sendo ordenado em totalidades. Os estímulos presentes bem como as experiências
anteriores são todos integrados e elaborados numa visão de conjunto.
A percepção de um
objecto depende pois de um lado também do nosso estado de espírito isto é ela
depende da nossa consciência. Ao contemplar uma paisagem às vezes nos sentimos alegres
ou tristes, lembramos de situações que em algum momento nos deixaram nervosos;
aí choramos. Ou nos lembramos de momentos bons que passamos com os nossos
amigos; aí ficamos alegres.
Outro aspecto
importante no estudo da percepção é a memória. A memória influi no
processo perceptivo de diversas maneiras. Através dos órgãos dos sentidos
(visão, audição, tacto, paladar) nós recebemos informações sobre o mundo
exterior, os objectos e os fenómenos. Para percebermos um determinado objecto
ou fenómeno compara-lo continuamente com um outro objecto semelhante.
Comparamos as características de cor, tamanho, cheiro, etc., com as do outro
objecto que por ventura o tenhamos conhecido. Para isso usamos a memória para
discernirmos estas características.
Depois de compararmos
as características deste objecto com as de um outro fazemos interpretações e
avaliações comparando situações anteriores com a presente. Este processo
implica, portanto, o processamento da informação.
Significa que o
processo de percepção desagua no processamento dos dados que recebemos através
dos órgãos dos sentidos. Para que os dados sejam percebidos estes devem depois
sofrer um teste em forma de hipótese. No contexto geral há uma
interpretação que se considera razoável dos dados que recebemos pela via dos
órgãos sensórias (órgãos dos sentidos). Nesse processo desencadeia-se uma busca
rápida e automática da hipótese preceptiva correcta. Situações há em que ao
ouvirmos uma música distinguimos imediatamente o seu estilo. Contudo, em certos
casos podemos duvidar sobre o estilo da musica colocando imediatamente como
hipótese tratar-se de semba, ou marrabenta. À medida que vamos escutando melhor
colhemos mais informações sobre ela a hipótese de que seja marrabenta ou semba
poderá mudar. As representações gráficas são as que podem ser interpretadas
mais ou menos da mesma maneira.
Por último é preciso
salientar que a linguagem tem também uma influencia no modo como
percebemos os objectos. Através da linguagem podemos moldar a nossa percepção
indirectamente.
Figura 2: As aptidões cognitivas que intervêm na percepção. |
A percepção como actividade cognitiva depende de outros factores tais como: a consciência a linguagem, a memória e do processamento da informação.
Tipos de percepção
A condição essencial
para que a percepção ocorra é a existência de um objecto exterior para ser
captado. Se isso não ocorrer estamos perante uma alucinação. De acordo com os
objectos percebidos existem três tipos de percepção.
- b) Percepção real ou percepção do objecto físico. Por exemplo, percepção de uma caneta, de um lápis, duma casa, etc.
- c) Percepção pessoal ou percepção de uma pessoa. Por exemplo, perceber o Carlos.
Percepção social ou
percepção de grupos ou realidades sociais. Por exemplo, percepção dos
moçambicanos, percepção da igreja católica.
Apesar de haver esta
classificação da percepção cada um destes tipos tem os seus subtipos. Por
exemplo a percepção pessoal pode dividir-se em auto percepção ou percepção de
si mesmo: “ A Joana percebe-se a si mesma como esposa de António.
A heteropercepção é
percepção que um indivíduo tem do outro. Por exemplo, o aluno percebe que o
Jorge é seu professor.
Auto-heteropercepção
é a percepção que um indivíduo tem do outro sobre si mesmo. É a percepção que o
professor tem de como o aluno se percebe a si mesmo.
Metapercepção é a
percepção que o outro tem de mim. Por exemplo, os alunos percebem o Jorge como
seu professor.
Factores da percepção
A percepção depende
de alguns factores. Tais factores podem estar relacionados com as características
do estimulo quer dizer do objecto a ser percepcionado ou da constituição do
receptor quer dizer a experiência, os motivos, as expectativas da pessoa que percepciona.
Exemplo: você neste
momento ouve sons, vê imagens de objectos, sente cheiros, frio, calor, etc.
Esta percepção pode
ser física resultante meramente de processos fisiológicos ou psicológica
resultante da sua interpretação.
Ante uma situação
perceptiva, você estrutura o seu campo perceptivo de acordo com certos
princípios gerais e em conformidade com a sua própria experiência.
Esses princípios
podem ser: agrupamento,
proximidade, semelhança, continuidade, simetria. Em relação a este conceitos
debruçar-nos-emos mais adiante.
A relação entre a percepção e a sensação
Alguns autores
quando abordam a questão da percepção fá-lo em conjunto com a sensação. Outros
estudam-na separadamente. Na realidade seria inconcebível separar estes dois
fenómenos porque a ocorrência de um depende da ocorrência de outro. Neste caso,
ao falarmos da percepção devemos evocar muitos aspectos ligados à sensação
entre os quais as características fisiológicas que desencadeiam o processo da
percepção.
Neste tema,
abordaremos as características fisiológicas dos órgãos sensórias para
fundamentar como o processo da percepção se desencadeia. Aconselhamos pois que
faça uma ligação entre o que aprendeu na unidade sobre o sistema nervoso e esta
unidade. Vamos nos debruçar também sobre o conceito das sensações.
O fundamento fisiológico da percepção
A percepção tem como
base os sistemas sensoriais e o próprio cérebro. Isto é, captamos as
características dos objectos através dos nossos órgãos dos sentidos.
Através da visão identificamos
a cor, a luz. Através do olfacto sentimos o cheiro, da audição ouvimos o som e
do tacto apercebemo-nos da superfície rugosa ou lisa desse mesmo objecto. Os
sistemas sensoriais são os detentores das informações e transformam-na (ou
fazem a transdução) em impulsos nervosos.
A informação é
depois processada e enviada para o cérebro através de fibras nervosas (os
nervos aferentes e eferentes). É o cérebro que desempenha o papel mais
importante do processamento da informação.
Para que a percepção
ocorra devem se observar quatro operações a saber: detecção, transdução (conversão da energia de
uma forma para outra), transmissão e processamento da informação. A figura
reporta as quatro operações necessárias para uma percepção.
Figura 1: As operações de uma percepção. |
Os sistemas sensoriais e sua influencia na percepção
No capitulo
destinado ao sistema nervoso debruçamo-nos em relação ao mecanismo da captação
do estimulo nervoso até chegar a ser descodificado nos centros nervosos. Com
isso podemos concluir que o organismo humano possui um conjunto de sistemas
especiais que lhe permitem captar a informação (órgãos sensoriais), envia-la ao
cérebro através dos neurónios e descodifica-la (através dos centros nervosos localizados
no cérebro) para depois a resposta ser reenviada novamente a qual aparecerá em
forma de comportamento. É pois dos órgãos dos sentidos também denominados de
órgãos sensoriais que nos vamos debruçar um pouco.
Ao falar dos órgãos
sensoriais falamos concrectamente dos órgãos dos sentidos. Certamente, deve
saber que entre os onze sentidos humanos catalogados pelos cientistas, de entre
eles vista, audição, tacto, pressão profunda, calor, dor, paladar, olfacto,
sentido vestibular, e sentido sinestésico cinco são do seu maior domínio: a
visão, a audição, o paladar e o olfacto. O tacto é composto de sistemas
dérmicos em número de cinco separados entre si. São eles o contacto físico,
pressão profunda, calor, frio e dor.
Estes sistemas são
também conhecidos por somato-sensoriais que se designa aqueles sistemas que nos
dão informações sobre as características dos objectos quando estes entram em
contacto com a superfície do nosso corpo. As células especializadas que reagem
a essas sensações encontram-se espalhadas em quase, senão mesmo em todo o nosso
organismo. A córnea do olho é uma das partes do sentido da visão que não possui
as mencionadas células especializadas do tipo somatosensorial.
Contudo, têm
capacidade de registar sensações tácteis, de temperatura e dor.
O ser humano
serve-se não só destas células especializadas para discernir as características
dos objectos como também usa outros dois sentidos importantes para reconhecer
as diversas sensações tácteis. Tais são: o sentido sinestésico e o sentido
vestibular. Imaginemos por exemplo que você empreende um deslocamento do seu
corpo para qualquer sentido (para frente, para trás, para esquerda, para direita
ou para cima).
Neste movimento
entra em acção vários grupos musculares. Isto é, você contrai um certo número
de músculos e descontrai outro. Move as articulações do joelho, da coxa, do
cotovelo, enfim para que o seu corpo se desloque quer dizer se mantenha em
equilíbrio dinâmico. O sistema cinestésico informa-nos do posicionamento
relativo das partes do nosso corpo durante o movimento e depende dos receptores
dos músculos, dos tendões e articulações.
Referências
bibliográficas
ALÍPIO, Jaime da Costa; VALE, Manuel Magiricão. Psicologia Geral. EaD – Universidade Pedagógica, Maputo: S/d.
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