A Evolução Filogenética do Psiquismo

PSICOFISIOLOGIA

1. A Evolução Filogenética do Psiquismo

A vida vegetativa

Uma das condições fundamentais do surgimento da vida está ligada ao surgimento de pequenas mas complexas moléculas albuminosas. Estas moléculas interagem com o meio ambiente buscando nutrientes para a sua sobrevivência, segregando aquelas que não são necessárias ao seu organismo. Estes dois processos – assimilação e desassimilação - constituem parte integrante do processo do metabolismo destas células albuminosas. As células albuminosas são organismos que possuem a capacidade de reagir positivamente aos estímulos de luz e de calor por estes serem o principal mecanismo para desencadear o processo do metabolismo. Isto significa que, estes organismos só reagem positivamente aos estímulos de luz e calor porque é a partir destes estímulos que eles se alimentam.

Por outro lado, estímulos super-fortes tais como sons e efeitos químicos não contribuem para o processo do metabolismo para estes organismo.

Portanto, há uma reacção negativa perante sua presença. Isto significa que os coacervatos ou células albuminosas se orientam no meio ambiente através do processo de excitabilidade ou de irritabilidade que é a capacidade de reagir só aos estímulos que provocam o processo do metabolismo e não reagem àqueles que não provocam esse processo.

Fazem parte deste grupo as plantas e as algas marinhas (vida vegetativa).

Estes organismos, por exemplo, se alimenta da luz solar, isto é a luz do sol é a fonte principal para o desencadeamento do processo do metabolismo. Pense portanto na planta que está em sua casa. Para ela sobreviver deve coloca-la em direcção à luz solar, caso contrário ela morre, mesmo que a fonte de luz esteja muito próximo. Estes organismos têm por outro lado a capacidade de conservar e transmitir este elementos de uma geração para outra o que deixa antever que eles possuem uma espécie de memória primitiva. Neste nível de desenvolvimento dos organismos não se pode falar de existência do psiquismo.

Estágio de vida animal

Na vida animal começando mesmo pelos protozoários os organismos reagem não só às substâncias que integram o processo imediato de metabolismo mas também com todos os estímulos que anunciam esse processo. O que quer dizer que na vida animal existe um processo de procura. Os organismos podem se deslocar à procura de alimentos para a sua sobrevivência. Esta capacidade observa-se em organismos mais minúsculos da vida animal como é o caso dos protozoários. Sabe-se que o que desencadeia o processo de metabolismo nos protozoários é o calor.

Foi confirmado que estes organismos em circunstâncias onde existe a luz e sabendo-se que a luz é também fonte de calor, elas podem se deslocar e concentrarem-se no ponto de incidência de luz esperando-se que se produza um calor suficiente que desencadeie o processo de metabolismo.

Este nível de desenvolvimento é chamado de sensibilidade – a capacidade que os organismos têm de reagir aos estímulos que dão sinal para o surgimento de substâncias que integram o processo de metabolismo.

Neste nível de desenvolvimento já se pode falar do indício biológico e objectivo do surgimento do psiquismo diferentemente do estágio da vida vegetal. O que diferencia os dois níveis é que no estágio animal desencadeia-se o processo de resposta aos estímulos que sinalizam o aparecimento de substancias que integram o metabolismo, enquanto no estágio vegetal a planta pode morrer tento por perto uma bacia de água.

Origem do sistema nervoso e suas formas mais simples

O sistema nervoso começa com a transição dos organismos unicelulares – que tem uma célula (os protozoários por exemplo) para os pluricelulares (que tem mais que uma célula). Estes organismos pluricelulares orientam-se activamente pelo meio à procura de comida. Para tal estes organismos devem estar dotados de mecanismos para executar movimentos especiais que lhes facultam a obtenção do alimento desejado. Isto significa que a estrutura do seu corpo deve ser mais complexa para se adaptar às condições do meio. Pertencem a esta classe a medusas, anêmona-do-mar, estrela-do-mar que possuem já o indício do sistema nervoso que ainda não é centralizado. Contudo o seu sistema nervoso é descrito como sistema nervoso reticulado ou difuso (em forma de rede) e não possui uma extremidade. Cada ponto que se lhe toca transforma-se no principal centro de excitação.

O sistema nervoso ganglionar

A fase seguinte de desenvolvimento do sistema nervoso está relacionado com o desenvolvimento de gânglios frontais em alguns organismos da vida animal. Se reparar para minhoca notará que possui um glânglio frontal na sua extremidade composto por antenas hidroreceptores que lhe permitem identificar a humidade. A actividade de procura obedece essas características, isto é, ele se desloca em direcção à humidade onde vai encontrar os seus alimentos. É nas minhocas onde começa a surgir o principio de centralidade do sistema nervoso. A extremidade nervosa da minhoca se localiza no gânglio frontal desta. Aí que constitui o centro da actividade nervosa, o sistema nervoso centralizado.

O surgimento de formas complexas de comportamento (o comportamento instintivo)

Se você olhar para um insecto (mosca, abelha, vespa, etc.), notará uma diferença em relação aos outros organismos já estudados. Notará que na extremidade frontal da mosca aparece um aparelho de recepção da luz (o olho).

Este aparelho permite assimilar a informação altamente especializada que provem do mundo exterior. Para além do receptor de luz os insectos possuem vários outros receptores altamente especializados. Eles possuem também receptores químico-tácteis especializados que se situam nas antenas, os receptores de sabor localizados na cavidade bucal e nas patas, e os receptores de vibração que se localizam nos tímpanos das pernas que permitem receber vibrações ultra-sónicas de mais de 600.000 vibrações por segundo. Esses aparelhos receptores permitem transmitir estímulos até ao gânglio frontal para a sua descodificação. O insecto reage posteriormente. O comportamento dos insectos permitiu especular que fosse um comportamento racional, contudo conclui-se que este tipo de comportamento é apenas instintivo e não racional. O que acontece é que estes organismos estão dotados de programas congénitos (hereditários) que lhes permitem executar movimentos complexos que se confundem com actos inteligentes.

O comportamento individualmente variável dos animais vertebrados e o aparecimento do sistema nervoso central

A vida dos vertebrados é totalmente diferente da dos invertebrados tanto nas formas de comportamento como na sua constituição. As condições de alimentação são mais complexas. O alimento deve ser preparado antes de ser consumido. Tudo isto eleva a actividade mental destes seres bem como a estrutura do sistema nervoso. Nos vertebrados os estímulos são captados pelos órgãos nervosos e transportado para o cérebro onde são analisados e estabelecidos novas conexões. Isto equivale dizer que a informação recebida não é consumida tal como está mas senão analisada e estabelecidas novas ligações apropriadas para cada animal. Isso permite a que cada um reaja de acordo com as suas necessidades. O órgão especializado que se encarrega em fazer estas analises ó cérebro. As respostas aos estímulos do exterior são diversificadas dependendo do tipo de vertebrado. Mas importa dizer que a diferença parte mesmo dos invertebrados inferiores até aos superiores incluindo o homem.

As bases Anatómicas e Fisiológicas da Conduta

Como dissemos anteriormente este capítulo requer que se recorde dos aspectos básicos que aprendeu no ensino secundário em matéria de biologia especialmente no estudo da célula, apesar de neste estudarmos apenas a célula nervoso nos homens.

Antes de fazermos uma abordagem profunda sobre os temas propostos iremos fazer referência a um historial das descobertas realizadas por diversos cientistas no estudo da célula.

Em 1667, o físico inglês Robert Hooke, experimentando o seu microscópio composto verificou que a cortiça não é homogénea como o vidro, ou qualquer metal, mas que nela existiam numerosas cavidades, semelhantes aos alvéolos de um favo de abelhas. A essas cavidades deu o nome de células (pequenas celas).

Em 1671, o sábio italiano Malpighi confirmou a observação de Hooke, e verificou também que vários vegetais são constituídos por pequenas cavidades muitas das quais, ao contrário das da cortiça, são cheias de líquido.

Em 1831 o botânico inglês Robert Brown, examinando a epiderme de várias plantas descobriu que cada célula tem no seu interior, um suco em movimento constante, e um corpúsculo arredondado e refringentes a que deu o nome de núcleo.

Em 1838 o botânico alemão Schleiden demonstra que todas as plantas são formadas por unidades independentes, com a sua vida própria e que a vida da planta inteira é a soma da actividade vital de todos os seus elementos. O Schleiden é assim considerado o fundador da teoria celular.

Em 1839 o zoólogo Schwann demonstrou haver o mesmo processo nos seres animais. Assim, hoje todos os seres vivos são constituídos por uma célula ou por um conjunto de células.

O conjunto de células forma o tecido, o conjunto de tecidos forma o órgão e o conjunto de órgãos desempenhando a mesma função forma o sistema.

O cérebro

O cérebro tem a função de coordenar todas as acções consciente (voluntárias) e inconscientes (involuntárias) desenvolvidas pelo indivíduo. Divide-se em duas partes ou hemisférios: hemisfério esquerdo e hemisfério direito. Os dois hemisférios, têm no entanto, funções diferentes. O hemisfério esquerdo é o hemisfério da linguagem, sendo responsável pelas representações lógicas e analíticas que desenvolvemos da realidade que nos rodeia.

O hemisfério direito parece ser especializado na compreensão holística dessa realidade, na construção de conceitos abstratos e reconhecimento de padrões.

Os hemisférios cerebrais encontram-se envolvidos por uma camada muito fina designada de córtex cerebral.

Nesta camada normalmente, distingue-se duas áreas fundamentais entre elas: a de projeção e a de associação.

Nas áreas de projeção motoras, ou sensoriais, encontra-se “projetadas” ou representadas as informações referentes aos movimentos ou às sensações. As áreas de associação estão provavelmente implicadas nos processos mentais superiores

O cerebelo é uma outra componente do sistema nervoso cuja responsabilidade é coordenar os movimentos e intervir no equilíbrio do corpo e na orientação.

Esta componente desempenha ainda duas funções fundamentais: a) coordenação da actividade motora e; b) manutenção da harmonia dos movimentos do nosso corpo isto é, mantém a posição do equilíbrio do corpo.

O bulbo raquidiano controla as funções ou respostas orgânicas somáticas como por exemplo o ritmo respiratório, e circulação sanguínea. Também controla actividades reflexas vitais como engolir, tossir, vomitar e espirrar. As drogas tais como a cocaína, heroína e anfetaminas danificam o bulbo raquidiano impossibilitando o controle dessas acções reflexas.

O Tronco cerebral recebe informações da pela e dos músculos da cabeça e também grande parte da informação dos sentidos especiais como a audição o equilíbrio e o gosto. Controla também a saída motora dos músculos da face, pescoço e olhos e determina os níveis de vigília de alerta.

Figura 1. As partes do sistema nervoso

Bases anatómicas e fisiológicas da conduta

Para se estudar e compreender-se o comportamento humano importa compreender também a constituição do organismo, isto é, o seu funcionamento do ponto de vista fisiológico. Dos diferentes sistemas que constituem o organismo humano destaca-se o sistema nervoso capitulo que estamos agora a tratar. O sistema Nervoso compreende o conjunto de órgãos que transmitem a todo o organismo os impulsos necessários aos movimentos e às diversas funções, e recebem do próprio organismo e do mundo externo as sensações.

A figura 1 representa as partes constituintes do sistema nervoso central sendo a destacar 1. O cérebro, o cerebelo e a medula espinal.

O sistema nervoso constitui portanto, o centro da actividade comportamental do ser humano. Ele é constituído por uma rede complexa de células nervosas cuja função é regular as reacções ou respostas dos estímulos do mundo externo.

Pode-se dizer que tudo o que o homem faz o que lhe acontece é coordenado e processado por este sistema.

O sistema nervoso como um todo é constituído por células nervosas chamadas neurónios. Estas células são responsáveis pela condução de impulsos nervosos de e para o sistema nervoso.

Cada neurónio funciona como um gerador de impulsos. Isto é, em cada instante cada neurónio “decide” emitir ou não um impulso nervoso em função das informações fornecidas por outros neurónios.

 

Ligação entre o neurónio e o sistema nervoso.

O sistema nervoso como referimos anteriormente é um sistema altamente organização que advém da combinação de células especializadas chamadas de neurónios (nervos) motores, neurónios sensoriais e de conexão. Certa literatura designa os neurónios de conexão como sendo de associação ou mistos.

Os neurónios motores conhecidos também por eferentes têm a função de transportar mensagens do sistema nervoso central para os músculos nos quais se produz a resposta em forma de movimento ou contracção. Pense por exemplo numa tomada eléctrica a partir do qual se pode ligar uma ficha e fazer funcionar a máquina. Atenção, não estamos a tentar comparar o funcionamento do organismo com uma máquina. Estamos apenas a dar exemplos ilustrativos do mecanismo de funcionamento deste.

Os neurónios sensoriais também designados de aferentes têm a função de conduzir os impulsos captados pelos receptores dos órgãos sensoriais para o sistema nervoso central.

Os neurónios de conexão estão ligados ao processamento de informações mais complexas e estabelecem a mediação entre os neurónios sensoriais e motores. Portanto parece que tudo funciona num sistema de circuito fechado matéria que aprendeste na física no ensino secundário.

Sistema nervoso humano, suas partes fundamentais e funções

Quadro 1: As partes constituintes do sistema nervoso

Do ponto de vista anatómo-funcional o sistema nervoso divide-se em: Sistema nervoso central que regula todas as interacções entre o organismo e o meio externo, isto é, recebe e processa a informação proveniente do meio exterior e comanda a resposta. O sistema nervoso central é constituído por encéfalo e espinal medula.

A função de espinal medula é de conduzir impulsos de e para o encéfalo e coordenar actividades reflexas que se resume em transmitir sinais entre o corpo e o encéfalo; dos órgãos dos sentidos e dos músculos para o cérebro; envia para o cérebro informações referentes a estimulação táctil.

Permite a execução de respostas motoras rápidas, instantâneas, autónomas que antecedem à consciência de um estímulo.

Uma lesão nesta região pode originar a incapacidade em controlar as pernas, os braços, os intestinos ou a bexiga uma situação de paraplégica.

Figura 4. As partes que compõe a espinal medula.


O sistema Nervoso Periférico

O Sistema Nervoso Periférico é uma das partes do sistema nervoso que é constituído por todos os nervos que se encontram fora do cérebro e da medula espinal e estende-de por todo corpo. Ele é constituído pelo Sistema Nervoso Somático e Sistema Nervoso autónomo.

O Sistema Nervoso Somático

Pense por exemplo num sistema eléctrico da sua casa, da sua escola ou do seu vizinho. Os cabos que se conectam às lâmpadas ou que derivam a energia para as tomadas estão ligados ao quadro central. Estes cabos extraem energia do quadro central para acender a lâmpada e ao mesmo tempo mandam sinais da lâmpada ao quadro central. Da mesma forma, o Sistema Nervoso Somatico é constituído de nervos que se ligam directamente aos músculos e aos receptores voluntários. Estes receptores assemelham-se aos cabos que carregam a informação dos receptores da pele e dos músculos e levam-na ao sistema nervoso central e este por sua vez emite ordens aos músculos. Por exemplo, se toca no olho, ele começa a lacrimejar. Mas antes deste processo, o estímulo foi conduzido ao sistema nervoso central de receptores para o sistema nervoso central para reconhecido e só depois se manda a resposta adequada. Os receptores da informação são constituídos por dois tipos de fibras nervosas:

  • Fibras aferentes que são os axônios que levam a informação directamente para o sistema nervoso central a partir da periferia do corpo e;
  • As fibras eferentes, que são os axônios que devolve a informação do sistema nervoso central para a periferia do corpo.

Cada nervo do corpo é constituído por vários axônios de cada um destes dois tipos mencionados acima. Pode-se dizer que os nervos somáticos são como um sistema eléctrico que é constituído por dois fios, um negativo e um positivo. O sistema nervoso somático permite-nos o contacto com o mundo exterior.

O Sistema Nervoso autónomo

Este tipo de sistema nervoso é constituído por nervos que se ligam ao coração, aos vasos sanguíneos, aos músculos lisos e às glândulas. Embora seja controlado pelo sistema nervoso central o Sistema Nervoso autónomo ele funciona separadamente. Como o próprio nome indica ele é autónomo. Ele controla as funções automáticas, involuntárias e das vísceras do nosso corpo. Imagine por exemplo o funcionamento do coração, dos rins, pulmões, etc., não dependem da nossa vontade. O Sistema Nervoso autónomo ele é o mediador das funções fisiológicas que acontecem quando uma pessoa experimenta emoções. Pense por exemplo que você às vezes tem uma discussão desagradável com uma outra pessoa. Se você se aborrece-se com isso, o seu ritmo cardíaco, quer dizer as batidas do teu coração aumentam de intensidade e isso pode aumentar a sua pressão sanguínea que pode algumas vezes se transformar em arrepios ou transpirações.

O Sistema Nervoso autónomo subdivide-se ainda em sistema nervoso simpático e sistema nervoso parassimpatico.

O sistema nervoso simpático é o responsável pelo transporte do sangue e do oxigénio para todas as partes do corpo preparando o corpo para a acção, enquanto o parassimpático diminuem a acção energética do corpo. Este tipo de sistema nervoso é que é responsável pela diminuição do ritmo cardíaco quando o nosso coração se acelera e promove a redução da pressão sanguínea e da digestão. Isto significa que depois de uma pessoa se emocionar muito para voltar para o seu estado normal precisa que o sistema nervoso parassimpático actue.

Imagem: LOPES, SÔNIA. Bio 2.São Paulo, Ed. Saraiva, 2002. Fonte: www.afh.bio.br/nervoso/nervoso4.asp

O sistema Nervoso Parassimpático (SNP) como se referiu anteriormente funciona como refreado do Sistema Nervoso Simpático. O SNP actua sobre os órgãos tais como o coração, os brônquios, os intestinos, a bexiga e outras glândulas secretórias estabelecendo as suas funções normais.

Referências bibliográficas

ALÍPIO, Jaime da Costa; VALE, Manuel Magiricão. Psicologia Geral. EaD – Universidade Pedagógica, Maputo: S/d.

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