Memória e ensino-aprendizagem

Memória e ensino-aprendizagem

1. Memória

Memória é a capacidade do individuo tem de reter e conservar informações manifestada ao longo do tempo que através de hábitos ou lembrança. Aprendizagem é uma modificação sistemática da conduta.

1.1. Processo de memória no ensino-aprendizagem

A realização de qualquer tarefa exige que o homem recorra a experiências, conhecimentos, percepções, imagens, conceitos, emoções e sentimentos anteriores.

No processo de ensino-aprendizagem, o professor recorre aos conhecimentos sobre o conteúdo aprendidos no curso de formação, aos conceitos de ensino aprendizagem adquiridos no curso de formação, os conhecimentos do manual de professor relativos ao conteúdo e indicações metodológicas e ás experiências da leccionação do conteúdo adquiridos nas práticas pedagógicas e trocas de experiências no grupo de disciplinas, vivência tidas na aprendizagem do mesmo conteúdo como aluno.

A possibilidade de fixar algo, conservá-lo e actualizá-lo é o que caracteriza a memória. Os estímulos que actuam no cérebro deixam traços e isso deve-se á plasticidade do cérebro. Também a forma do professor se dirigi aos alunos chamados pelos seus próprios nomes caracteriza a memória.

Os processos de recepção e armazenamento permitem fixar e conservar as informações.

1.2. Tipos de fixação

  • A fixação involuntária tem lugar quando se fixa algo sem intenção. Esta fixação é provocada pelos estímulos fortes, pelas vivências emocionais profundas e estímulos contratantes;
  • A fixação voluntária conserva algo intencionalmente e exige um esforço no sentido de fixar os conhecimentos através da repetição. Esta fixação pode dirigir-se a conhecimentos sem relação, não compreendidos, sem sentido ou significado.

Quando o aluno repete e fixa conhecimentos que têm não tem relação, sentido ou significado estamos perante uma fixação mecânica.

Ebbinghaus, um psicólogo Alemã, realiza experiência para verificar a eficácia da fixação sensata e mecânica, tendo concluído que a fixação de material compreendido, com significado é mais eficaz que a de material não compreendido, sem significado, sem relação (Sprinthall e Sprinthall, 1993: 208).

Ebbinghaus também constatou que a repetição espaçada do material conduz á fixação e a reprodução mais eficazes que a repetição concentrada, que o material fixado com o tempo vai-se aquecendo quando não repetido (Sprinthall e Sprinthall, 1993: 208).

Outros autores referem-se o papel da relação entre o todo e a parte na fixação e reprodução eficazes e indicam que para a fixação eficaz dos conteúdos é necessário que primeiro se leia o texto, o capítulo e depois se devida em partes de forma a compreendê-las e, em seguida, se relacione os conteúdos das partes de modo a compreender o texto ou capítulo.

Os factos acima apontados por Ebbinhaus, demonstram que no ensino-aprendizagem, o professor deve colocam tarefas que exigem a repetição do aprendido na própria aula, através de exercícios de consolidação, trabalhos de casa, repetição da matéria dada através da da leitura dos conteúdos para a aula seguinte de modo a fixarem os conteúdos. O professor deve recomendar que os alunos dividam os conteúdos em partes de forma a compreendê-los.

A reprodução refere-se á evocação de informações anteriores armazenadas na memória. A reprodução pode ser reconhecimento e de identificação.

  • A reprodução de reconhecimento consiste na identificação do percebido anteriormente.

Exemplo: Depois de ter contacto com os alunos no primeiro dia de aula o professor reconhece os alunos de turma nos dias subsequentes graças á reprodução de reconhecimentos.

É a reprodução de reconhecimentos que permite ao indivíduo não prender sempre de novo o percepcionado anteriormente.

1.3. Tipos de reprodução

  • A reprodução involuntária refere-se a evocação de informações sem intenção, sem por esforço voluntário do sujeito.

Exemplo: Ao seleccionar um amigo, antigo colega de carteira pode recordar-se de outros colegas da turma, momentos alegres que passaram juntos.

A recordação involuntária ocorre sem esforço do sujeito. Os factos e os acontecimentos aparecem sem intenção do sujeito.

  • Na reprodução voluntária trata-se da evocação de informações de forma intencional.

Exemplo: O professor coloca aos alunos um teste sobre os tipos de clima. Ao resolverem o teste sobre os tipos de clima os alunos são obrigados a fazerem um esforço intencional de evocar os conhecimentos sobre os tipos de clima.

1.4. Características de memória ontogénese

A memória da criança, tal como de outros processos psíquicos tem características especificas, consoante faixas etárias.

Dos 3 aos 6 anos

Caracterizam-se por uma memória involuntária. A criança fixa factos e acontecimentos acentuadamente emocionais, aquilo que lhe causa prazer, alegria, o colorido e contratantes. Daí que os educadores infantis tenham que apresentar os conteúdos de maneira interessante, usar meios didácticos de diferentes formas, tamanhos e cores, criem vivências emocionais agradáveis na aprendizagem.

Dos 6 aos 10 anos

Possuem uma memória involuntária e voluntária ao mesmo nível. Os alunos devem ser informados sobre a importância dos conteúdos a serem tratados. Os conteúdos devem ser tratados de forma interessante, promover a participação activa dos alunos na elaboração dos conteúdos ao mesmo tempo que se devem colocar actividades de consolidação da matéria anterior através de exercícios, trabalho de casa. No inicio de aula, deve-se colocar perguntas relativas á matéria tratada na aula anterior.

Dos 10 anos á adulto

Passam a fixar a informações de forma predominante voluntária. O professor deve colocar de forma clara a importância dos conteúdos a serem tratados para que os adolescentes e adultos se esforcem intencionalmente em fixar as informações.

1.5. Regras a observar para a fixação e reprodução eficazes no processo de ensino-aprendizagem

  • Aprender o objectivo da aula e sua importância;
  • Relacionar o novo conteúdos com o anterior através de perguntas;
  • Utilizar métodos participativos de ensino-aprendizagem em que os alunos participam na elaboração dos conteúdos, conceitos, regras, leis e, garantindo assim a sua compressão;
  • Usar meios de ensino interessantes, sublinhar o essencial no quadro, apresentar esboços, repetir o mais importantemente oralmente;
  • Dar exercícios de consolidação da matéria da aula através de perguntas, exercícios escritos, fichas de trabalho;
  • Dar trabalho para casa;
  • Instruir os alunos a dividirem o material de estudo em partes e relacioná-los num esboço;
  • Recomendar aos alunos para que façam repetições espaçadas;
  • Corrigir o TPC no início de cada aula.

1.5. Importância da memória no comportamento

A memória é um fenómeno biológico e psicológico, dependente da interacção entre vários sistemas cerebrais como o lobo temporal, a amígdala e o córtex pré-frontal.

A memória está na base de todas as funções psíquicas: da percepção, da aprendizagem, da imaginação, do raciocínio, etc.

Não podemos conceber a vida humana sem memória. É a partir das informações que o indivíduo possui que se adapta ao meio e atribui significado às experiências vividas. Sem ela, seria impossível a transmissão e desenvolvimento cultural. O homem seria um ser puramente biológico.

É a memória que nos dá o sentimento de identidade pessoal: as experiências vividas, acumuladas e que nos reconhecemos como nossas constituem o nosso património pessoal que nos distingue dos outros e nos torna únicos. Sem memória não existe identidade.

A memória humana é limitada na sua capacidade de armazenamento e afectada pelos sentimentos, emoções, experiências, imaginação e, ainda, pelo tempo.

1.6. Processos de memória

Se a memória é a capacidade do cérebro em armazenar, reter e recordar a informação, então são estes os três processos base de memória.

A codificação é a primeira operação da memória. Prepara as informações sensoriais para serem armazenadas no cérebro. Traduz os dados recebidos em códigos visuais, acústicos ou semânticos. Quando queremos memorizar algo, agimos em função de uma aprendizagem deliberada que nos exige mais atenção e, como tal, uma codificação mais profunda.

Depois de codificada, a informação deve ser armazenada, o que acontece por um período variável. Cada elemento de uma memória é guardado em várias áreas cerebrais. Engramas são traços mnésicos resultantes das modificações no cérebro que ocorrem para o armazenamento. Cada engrama produz modificações nas redes neuronais que permitem a recordação do que se memorizou sempre que necessário. O processo de fixação é complexo e a informação que se armazena está sempre sujeito a modificações, o que implica que, para que ela se mantenha estável e permanente, seja necessário tempo.

A recuperação é, como o nome indica, a fase em que recuperamos, recordamos, reproduzimos a informação anteriormente guardada.

1.7. Memória como processo activo e dinâmico

A memória é um processo activo e dinâmico na medida em que não reproduz fielmente aquilo que armazenou. A memória reconstrói os dados, o que implica que dê mais relevo a uns, distorça outros ou mesmo os omita. Por outro lado, quando os acontecimentos são muito emotivos, a memória deixa escapar pormenores que depois são substituídos/reconstruídos pelo cérebro. Quem conta um conto, acrescenta um ponto e, assim, quanto mais se reproduz o que aconteceu, mais elaborada e complexa vai ficando a história, chegando a um ponto em que muitos factos não passam de imaginação.

No entanto, as representações que temos são sempre tão claras como se fossem plenas reproduções da realidade, o que faz com que este processo activo e dinâmico nos passe completamente despercebido. Por este motivo, o mesmo acontecimento pode ser descrito de formas bastante diferentes por diferentes pessoas. Não mentem, apenas têm diferentes interpretações resultantes de diferentes sentimentos, emoções e atenção.

Bibliografia

RODRIGUES, A. & BILA, L. V. Módulo de Psicologia de Desenvolvimento e de Aprendizagem. Maputo. Universidade Pedagógica. S/d.

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