Métodos Básicos para a Investigação Evolutiva

3. Métodos Básicos para a Investigação Evolutiva

Os psicólogos evolutivos dispõem da mesma variedade de recursos metodológicos que os outros psicólogos: observação, experimentação de natureza diversa, estudo prolongado de casos individuais, etc. O que é específico da investigação evolutiva é a utilização destes recursos dentro de certos métodos de investigação que sejam sensíveis aos progressos de desenvolvimento, ou seja, que sejam sensíveis às mudanças que ocorrem ao longo do tempo. Os métodos de investigação evolutiva mais clássicos são o longitudinal e a transversal. Posteriormente foram idealizados os métodos sequenciais (Martinez, 1983; Veja, 1983).

Os métodos longitudinais têm a vantagem fundamental de permitirem estabelecer a trajectória evolutiva de um indivíduo ou grupo de indivíduos e com isto temos acesso tanto às mudanças intra-individuais, quanto às diferenças inter-individuais (caso haja, por exemplo, numa amostra de criança procedentes de diferentes classes sociais, podemos comparar as diferenças entre os diferentes subgrupos). Estes métodos têm ainda a vantagem de que, ao estudar sempre os mesmos indivíduos, não há problema de homogeneidade entre diferentes faixas etárias, pois a princípio, de uma colecta de dados à seguinte, as crianças são iguais em tudo, excepto na idade. Mas este tipo de métodos também apresenta alguns problemas: costumam ser muito onerosos, já que exigem que a investigação prolongue-se durante vários anos, o que em si constitui um outro inconveniente; frequentemente surgem problemas de “mortalidade infantil”, ou seja, de indivíduos que se perdem de um ano para outro (devido às mudanças de domicílio, que tornam a localização difícil, por exemplo); quando se utilizam testes padronizados que se repetem uma colecta de dados à seguinte, surge o problema das medidas repetidas (o indivíduo transforma-se em especialista em resolver um determinado teste).

Uma forma alternativa de colocar as coisas consiste em recorrer à utilização de um plano transversal, que consiste em estudar em um determinado momento uma criança ou grupo de crianças de cada uma das idades que sejam interesse. No caso do exemplo, poderíamos tomar um grupo de crianças de um ano e avaliar seu léxico, fazendo o mesmo com outro grupo de crianças de dois anos, outro grupo de três anos, etc. Supõe-se que as nossas crianças de um ano sejam bons representantes das crianças de um ano em geral, e o mesmo se aplica a cada uma das demais idades.  

Comparado ao longitudinal, a vantagem mais evidente de um plano transversal é sua rapidez e economia. Em poucas semanas pode-se realizar uma investigação que de outra forma, no caso do nosso exemplo, levaria cinco anos. Trata-se, pois, de um planeamento muito menos oneroso. Mas junto a estas vantagens evidentes de rapidez e economia, os métodos transversais apresentam alguns problemas importantes. Por um lado, não fornecem dados sobre a mudança intra-individual ao longo do tempo, pois os indivíduos são estudados uma única vez. Desta forma, não podemos estabelecer trajectórias evolutivas que reflictam a evolução real de uma pessoa, temos que inferir esta trajectória supondo que a evolução de uma determinada criança entre os três e quatro anos será a mesma que a observada entre o grupo de crianças de três anos e o grupo de crianças de quatro anos de nossa amostra. Além disso, podem surgir problemas de homogeneidade entre as amostras utilizadas para cada idade.

Tanto os métodos longitudinais quanto as transversais têm ademais o inconveniente de não serem sensíveis às mudanças históricas, fazendo com que o que é válido no que se refere a uma determinada geração não o seja a uma outra.

Para comparar duas gerações diferentes podia-se recorrer métodos sequenciais. A lógica fundamental destes métodos sequenciais (estudar o mesmo, da mesma maneira, em grupos o mais equivalentes possível, pertencentes a diferentes gerações) pode ser utilizada tanto em um planeamento longitudinal quanto em uma transversal. Em qualquer um dos casos, a despeito de terem a vantagem de proporcionar informação relevante em relação à influência das mudanças histórias sobre o desenvolvimento psicológico, os métodos sequenciais têm o inconveniente de serem mais onerosos.

Bibliografia

COLL, C. et al. Desenvolvimento Psicológico e Educação, Psicologia Evolutiva. Vol.1. Editora ARTMED, 1993, págs. 24-26.

RODRIGUES, A. & BILA, L. V. Módulo de Psicologia de Desenvolvimento e de Aprendizagem. Maputo. Universidade Pedagógica. S/d.

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