Teoria de Aprendizagem Cognitiva de Jerome Bruner

1. Teoria de Aprendizagem Cognitiva de Jerome Bruner

Psicólogo americano pós-piagetiano, que se preocupou em explicar como é que se realiza a aprendizagem através de processos cognitivos e como é que o professor pode organizar a actividade do aluno de modo que ele aprenda eficazmente.

Bruner insiste que o objectivo último do ensino e promover a “compreensão geral da estrutura de uma matéria”. Entender a estrutura de um assunto é compreendê-la de uma forma que permite que muitas outras coisas se relacionem significativamente com esse assunto.

Bruner pede ao professor que ajude a promover as condições em que o aluno se possa aperceber da estrutura de um determinado. Quando a aprendizagem se baseia numa estrutura, e muito mais duradoura e menos facilmente esquecida;

Bruner chama a sua posição uma teoria da instrução é não uma teoria da aprendizagem. Acha que uma teoria da aprendizagem é descritiva: faz uma descrição dos factos a posteriori. A teoria da instrução e prescritiva: prescreve antecipadamente como um assunto pode ser melhor estudado.

Se a teoria de aprendizagem nos diz que as crianças de seis anos ainda não estão prontas para compreender o conceito de reversibilidade, a teoria da instrução prescreve a melhor maneira de guiar a criança a adquirir este conceito quando tiver idade suficiente para o compreender.

4.1. Características da Teoria de Aprendizagem de Bruner

Bruner considera que o mecanismo principal de aprendizagem é a descoberta. O método da descoberta consiste em levar o aluno aquisição dos conhecimentos através de procura por si efectuada. Neste processo, a tarefa do professor é a de organizar actividades de modo a conduzir o aluno a chegar de forma independente aos conhecimentos, a formar habilidades, hábitos e aptidões.

O professor promove o ensino pela descoberta na medida em que coloca o aluno como pequeno investigador, orienta o aluno na procura de exemplos ilustrativos do conceito a ser dado – tais exemplos devem ser concretos, sempre que possível - promove a comparação dos exemplos ilustrativos através de instruções a serem realizadas individualmente e /ou em grupo, até os alunos acederem às caracteristicas essenciais e atribuirem a designação do conceito a ser estudado.

A aprendizagem por descoberta exige que o professor envolva os alunos em actividades de análise e síntese nos três momentos essenciais da aula: na preparação, realização e avaliação.

Exemplo: Tendo em vista o tratamento do tema “A Forma das Folhas” na aula de Biologia da 9ª classe, o professor dirá aos alunos que depois de estudar as folhas quanto a sua estrutura externa e classificá-las de folhas completas e incompletas, simples e compostas, na aula que vai seguir tratar-se-á do estudo das diferentes formas das folhas. Cada aluno deverá trazer 3 tipos de folhas diferentes para a próxima aula de Biologia.

No dia do tratamento do tema o professor vai organizar os alunos em grupo e pedir para agruparem as folhas de acordo com a semelhança na forma.

Realizada a actividade de agrupamento de folhas de acordo com a forma, o professor poderá perguntar se sabem como se pode designar cada uma das formas das folhas.

E afirmar que para tal deverão observar atentamente cada forma de folhas e tentar encontrar algo semelhante.

É possível que os alunos achem que as folhas tenham a forma de lança, coração, a linha elíptica. Aí, o professor poderá afirmar que as folhas que possuem a forma de lança designam-se de lanceoladas, as de forma de coração cardiformes, as de forma linha elíptica elítpticas e acrescentar que as folhas cuja forma não conseguiram encontrar algo com a qual se assemelhasse, se assemelha a uma seta e se designam de folhas sagitadas.

O passo seguinte poderia ser o desenho das formas das folhas nos cadernos, pelos alunos com a escrita do respectivo nome da forma.

O grupo seria convidado a misturar as folhas de diferentes formas, para, em seguida, cada aluno mostrar uma folha, de acordo com a forma mencionada pelo professor.

O Trabalho Para Casa consistiria em colar numa folha de cartolina quatro folhas de diferentes formas: lanceolada, cardiforme, elíptica e sagitada.

O exemplo acima apresentado mostra a descoberta como mecanismo de condução do processo de ensino-aprendizagem.

Trata-se de uma descoberta didáctica, na qual o aluno é envolvido em actividades de análise e síntese desde a procura de material didáctico, sua análise e síntese e descoberta de características mais comuns e essenciais e, consequentemente a descoberta de sua designação. Essa descoberta pode não ser total e aí o professor estimula com perguntas e completa onde o aluno não consegue chegar.

O facto de o aluno ser conduzido a chegar por si só às conclusões, sob a condução do professor explica o facto de a teoria de aprendizagem de Bruner ser classificada como uma teoria construtivista de aprendizagem.

4.2. Princípios Fundamentais da Teoria de Ensino-Aprendizagem

Sprinthall & Sprinthall (1993: 239-243) considera que o processo de ensino-aprendizagem eficaz exige a consideração das seguintes condições: a motivação, a estrutura, a sequência e o reforço.

4.2.1. Motivação

A motivação é a predisposição do indivíduo para a aprendizagem. A motivação é provocada pelos impulsos da curiosidade, da aquisição de competência e da reciprocidade ou de viver com outras pessoas e cooperar com elas. 

Bruner destaca a motivação intrínseca, a vontade de aprender como condição principal que predispõe o indivíduo a aprender.

A aprendizagem pode garantir a curiosidade caso se baseie na descoberta e na resolução de problemas. Nestas condições exige-se a exploração de alternativas através da activação, manutenção e direcção do processo.

A activação designa a colocação de tarefas que envolvam um grau de dificuldade que esteja ao nível das possibilidades de solução pelos alunos, que espevite sua curiosidade de procura de alternativas de solução. No exemplo da aula de Biologia da 8ª Classe de tratamento do tema “A forma das folhas” a tarefa consistia em procurar folhas e procurar agrupá-las em diferentes  formas.

A manutenção caracteriza os mecanismos utilizados pelo professor para garantir que a criança realize a tarefa do princípio ao fim. Esta manutenção realiza-se através das instruções que os alunos têm que realizar e do controle de sua realização.

No exemplo da aula de Biologia, da 8ª Classe de tratamento do tema “A forma das folhas” as instruções foram as seguintes: recolher folhas de formas diferentes, formar grupos de alunos, agrupar as folhas de acordo com formas semelhantes, comparar a forma das folhas com objecto, algo conhecido, dar um nome a cada um dos tipos de forma, misturar as folhas, apresentar uma folha de acordo com a forma mencionada pelo professor por cada aluno, desenhar as folhas de formas diferentes no caderno e escrever o respectivo nome.

A direcção da realização das tarefas caracteriza a orientação ao objectivo que inicia com a colocação da tarefa pelo professor, continua com o seguimento das instruções colocadas pelo professor na aula. Como se pode observar, a direcção da realização de tarefas é inseparável da activação dos alunos para a aprendizagem e manutenção da curiosidade e procura de soluções através de instruções do professor.

4.2.2. Estrutura

A estrutura diz respeito à organização dos conteúdos de um tema, assunto no processo de ensino-aprendizagem de modo a ser compreensível pelos alunos.

Para Bruner, citado por Sprinthall e Sprinthall (1993: 240-241) a organização dos conteúdos depende de modo de apresentação, da economia de apresentação e do poder de apresentação.

A apresentação dos conteúdos pode ser feita de forma motora, icónica e simbólica.

A apresentação dos conteúdos de forma motora designa a aprendizagem através de acções.

A criança de 6 anos, ao ingressar na Escola Primária, aprende a noção do número 1 começando por observar o professor a retirar muitos objectos de modo a restar apenas um. Poderá também chamar para a frente 10 alunos e mandar sentar 9 e perguntar quantos ficaram. Depois pode pedir que cada aluno mostre um dedo, uma orelha, um olho, um lápis, uma cadeira, um caderno, um menino uma menina.

A aprendizagem através de acções é a forma mais privilegiada de aprendizagem de crianças que se encontram no estágio do pensamento sensório-motor de Piaget. Neste estágio, as crianças aprendem as características das coisas com base na manipulação dos objectos.

Os principiantes escolares começam a aceder a muitos conhecimentos através da acção. Note-se que os adolescentes aprendem por acções, por exemplo, as línguas e conteúdos de outras disciplinas que exigem a prática.

A apresentação dos conteúdos de forma icónica designa a aprendizagem através de imagens.

Exemplo: Tomemos como ponto de partida a aprendizagem da noção de número 1 dado no exemplo anterior. Na aula seguinte o professor pede aos alunos para mostrarem um feijão, uma pedrinha, um lápis, um menino, uma menina. Depois pede a diferentes alunos para irem ao quadro desenhar uma coisa de seu gosto.

Finalmente, pede a cada aluno para desenhar no seu caderno e pintar uma coisa de seu gosto.

As acções realizadas com objectos, coisas e pessoas constituíram um ponto de partida para a compreensão da noção 1. A representação de imagens de 1 objecto, coisa e pessoa vai consolidar a compreensão de 1. As crianças incluirão também objectos não presentes.

A apresentação dos conteúdos de forma simbólica realiza-se com base na linguagem verbal.

Exemplo: Depois de os alunos da 1ª Classe terem aprendido a mostrar um objecto, coisa e pessoa e desenhá-los numa outra aula o professor diz que vão aprender a escrever 1 e escreve no quadro 1.

Seguidamente, passa com o dedo sobre o número 1. À medida que pede aos alunos para escreverem no ar 1, como ele o faz no quadro.

Escreve a tracejado vários 1 no quadro e pede aos alunos para completarem a escrita de um no quadro. Em seguida, escreve a tracejado o 1 no caderno de cada aluno e pede aos alunos para passarem o lápis sobre o 1. Finalmente, os alunos deverão escrever 1 e encher uma linha do caderno repetindo os gestos anteriores.

O exemplo da aprendizagem da noção de número 1 mostra que o conteúdo foi apresentado de forma motora, icónica e simbólica para facilitar a compreensão por parte dos alunos. O início da aprendizagem com a escrita de 1 não seria compreensível aos alunos, pois não compreenderiam que 1 representa a quantidade 1.

A apresentação dos conteúdos de forma simbólica com base na linguagem verbal aplica-se em casos em que os alunos têm experiências e imagens vivas sobre os assuntos a serem tratados.

O modo de apresentação do conteúdo deve ser visto em estreita relação com a economia de apresentação e o seu poder.

A economia de apresentação refere-se à quantidade de informações que o conteúdo abrange, enquanto que o poder da apresentação diz respeito à simplicidade ou complexidade do conteúdo. A quantidade de informações a ser apresentada deve adequar-se às características de desenvolvimento etário do aluno. Isto também é válido no que diz respeito à sua simplicidade e complexidade. O professor deve organizar os conteúdos de modo a que eles sejam compreensíveis.

4.2.3. Sequência

Ao tratar da estrutura dos conteúdos referiu-se à questão da sua organização. De facto, falar da organização dos conteúdos implica referir-se à sua sequência lógica, à inter-relação entre os conteúdos, à relação entre o simples e o complexo, ao modo de apresentação dos conteúdos de modo a torná-los compreensíveis.

4.2.4. Reforço

O reforço tem relação com a motivação do aluno no processo de ensino-aprendizagem. Bruner citado por Sprinthall e Sprinthall (1993: 242) refere-se à necessidade de se dar uma retro-informação aos alunos no decurso da realização das tarefas, na realização dos diferentes passos das tarefas de modo a conduzi-los a novos passos de solução e tarefas com êxito.

Bibliografia

SPRINTHAL, N.A. e SPRINTHAL, R.C. Psicologia Educacional, Uma Abordagem Desenvolvimentalista. Lisboa, Editora Mcgraw-Hill, 1993.

RODRIGUES, A. & BILA, L. V. Módulo de Psicologia de Desenvolvimento e de Aprendizagem. Maputo. Universidade Pedagógica. S/d.

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