Teoria de Aprendizagem de Piaget (1896-1936)

2. Teoria de Aprendizagem de Piaget (1896-1936)

As teorias cognitivas de aprendizagem explicam como as informações são adquiridas, processadas actualizadas através de processos cognitivos, através do processo de cognição.

Segundo Tavares & Alarcão (2002:102) o papel da escola e integrar e enriquecer o desenvolvimento normal da criança; o currículo deve acompanhar o ritmo normal do seu desenvolvimento.

As experiências de ensino formal não devem dissociar-se das experiências naturais, sempre que possível, um determinado tópico ou assunto seja ensinado a diferentes níveis, consoante os estádios de desenvolvimento (sensório-motor, pré-operatório, operações concretas, operações formais).

Piaget chama atenção dos educadores para que os assuntos a aprender sejam apresentados tendo em conta o ponto de vista da criança que se ensina, e não a maneira como os adultos compreendem o conhecimento.

Para Tavares & Alarcão (2002:102), a aprendizagem é um processo normal, harmónico e progressivo, de exploração, descoberta e reorganização mental, em busca da equilibração da personalidade.

O ensino deve estar de acordo com os interesses e a curiosidade da criança, deve ser significativo.

As tarefas e o material a apresentar devem ser seleccionados e organizados de tal modo que a criança sinta uma certa tensão que a leva em busca da equilibração e que traduz num desejo de aprender (motivação da aprendizagem).

2.1. Características da Teoria de Aprendizagem de Piaget

Piaget concebe que a aprendizagem se realiza como processo de assimilação, acomodação e equilibração.

Assimilação compreende-se a aquisição de novos conhecimentos e novas experiências integrando-os ou absorvendo os nas estruturas ou esquemas existentes do pensamento.

A acomodação, por sua vez, designa as modificações que as novas experiências provocam nos esquemas ou estruturas existentes de modo que haja adaptação. Para que haja adaptação é necessário que haja equilíbrio entre assimilação e acomodação.

O desequilíbrio entre assimilação e acomodação provoca conflitos para outros patamares de equilíbrio de nível superior.

Exemplo

Investigações sobre a aprendizagem de conceitos de alunos da 5ª e 6ª Classes da Escola Primária de Bagamoyo e da Escola Primária de Maxaquene realizadas por Chiau (1993: 29-30) no que diz respeito a explicação do conceito de rio conduziram aos seguintes resultados:

  • Rio é um lugar é “um lugar grande onde existe água” (23%), o que significa praia;
  • Rio é “um lugar onde existe água” (14%), ligado com qualquer conjunto de água incluindo lagos, rios, reservas de água, valas, canais de irrigação ou água da chuva acumulada;
  • Rio é “porção de água cercada por todos os lados ou corrente de água doce” (11%);
  • Rio tem é “água da chuva acumulada num sítio que, passado algum tempo, devido ao peso fura uma parte do terreno e escorre num longo percurso”.

Neste exemplo, não consegue explicar o que é um rio. Isto demonstra que, ao assimilarem o conceito de rio não o compreenderam, não o acomodaram, isto é, não o incorporaram nos conhecimentos anteriores de rio, e, consequentemente não modificaram a sua ideia de rio, continuaram a explicar o conceito de rio de acordo com suas percepções e vivências pessoais confundindo-o com a praia e valas e água corrente da chuva.

O que deveria fazer o professor para que efectivamente os alunos compreendessem o conceito de rio?

Ele deveria começar por perguntar aos alunos o que entendiam por um rio e depois utilizar essas definições para elaborar o conceito de rio.

Para dar o conceito de rio o professor poderia proceder do seguinte modo:

  • 1. Começar por dizer que vão falar sobre o rio.
  • 2. Perguntar se alguém na sala já teria visto um rio?
  • 3. Perguntar: O que é um rio? Respostas poderiam aparecer tais como: Rio é como água que corre nas valas da Avenida Acordos de Lusaka; Rio é com a água que corre quando chove; Rio é como a água que corre do Mulauze.
  • 4. Perguntar o que acham das respostas dadas, o que seria rio, a água da chuva que corre, a água das valas da Avenida Acordos de Lusaka, a água do Mulauze? Quem já viu um rio? Como é que é o rio?
  • 5. Mostrar que o rio é água que corre e que nasce de um lugar, tem superfícies em cada um dos lados, que damos o nome de margens e que tem um lugar onde termina, que se chama foz.

O exemplo acima ilustra o processo de aquisição do conceito rio, em que o professor partiu dos conhecimentos anteriores dos alunos e conduzi-los a um conhecimento científico de rio. Deste modo, os alunos puderam modificar as ideias anteriores que tinham sobre rio, incorporar o novo conhecimento nos conhecimentos anteriores. Os alunos passariam a definir e explicar correctamente rio, havendo, assim, equilíbrio entre o conceito e sua explicação.

O processo de assimilação, acomodação e equilibração realiza-se por meio de processos cognitivos e, em especial, através do pensamento. Com efeito, quando o professor do exemplo 2 acima apresentado pede a diferentes alunos para darem o seu conceito de rio e os coloca a compararem suas respostas, ele está a levar os alunos a analisarem e sintetizarem seus conceitos de rio, isto é, a pensarem.

Piaget defende que a aprendizagem deve ter em conta os estágios de desenvolvimento do pensamento sensório-motor, pré-operatório, operatório-concreto e lógico-formal.

No pensamento sensório-motor domina a apreensão das características das coisas através do manuseio dos objectos; no pensamento pré-operatório a criança apreende as características dos objectos através dos órgãos dos sentidos; a criança no estágio do pensamento operatório concreto apreende as características essenciais das coisas e fenómenos com base nos objectos e fenómenos reais, concretos; no estágio do pensamento operatório formal a apreensão das características mais essenciais das coisas e fenómenos baseia-se na análise e síntese de descrições verbais quando o aluno possui experiências anteriores sobre o fenómeno, objecto em estudo.

O processo de assimilação, acomodação e equilibração realiza-se de forma activa pelo sujeito que aprende. O exemplo 2 ilustra este facto. Os alunos não ouviram passivamente a definição e a explicação do que é um rio, mas deram suas ideias de rio, compararam suas ideias de rio para chegarem ao conceito de rio. O educador tem um papel estimulador, mediador na aprendizagem do conceito rio, ele ajudou os alunos a chegarem ao novo conceito, a construir o novo conceito.

Pelos factos acima apontados, a teoria de Piaget é considerada de interaccionista, pois defende que os educandos devem interagir com a matéria e interagir entre si.

A teoria de Piaget é uma teoria construtivista pois defende que os educandos devem construir os conhecimentos estimulados e orientados pelo educador.

2.2. Aplicações Pedagógicas da Teoria de Aprendizagem de Piaget

  • A elaboração dos curricula adaptados às particularidades dos estágios de desenvolvimento do pensamento;
  • A formulação de objectivos, selecção de métodos e meios de ensino-aprendizagem pelo professor tendo em conta as particularidades do pensamento nos diferentes estágios;
  • A estimulação do processo de análise e síntese do aluno no processo de ensino-aprendizagem;
  • A consideração do aluno como ser activo, detentor de formas próprias de assimilar e elaborar os conteúdos;
  • A consideração das experiências e conhecimentos anteriores dos alunos no processo de ensino-aprendizagem.

Bibliografia

TAVARES, José e ALARCAO Isabel. Psicologia de desenvolvimento e de aprendizagem. Coimbra. Livraria Almeida. Porto, 2002.

RODRIGUES, A. & BILA, L. V. Módulo de Psicologia de Desenvolvimento e de Aprendizagem. Maputo. Universidade Pedagógica. S/d.

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