A 1ª Guerra Mundial e a Crise Económica e Social da Década de 1920

A 1ª Guerra Mundial e a Crise Económica e Social da Década de 1920

Em Maio de 1915, quando passava cerca de um ano após o início da Primeira Guerra Mundial, Portugal entrou no conflito al lado da Triplice Entnete contra a Alemanha. Esta guerra exigiu a utilização de recursos materiais e humanos não só dos países beligerantes, como também das respectivas colónias. A portugal coube o papel de ajudar a Grã-Bretanha na defesa das colónias britânicas de África.

O envolvimento de Portugal na guerra, teve consequências no sistema económico português em Moçambique, em especial no sector financeiro.

Isto traduziu-se na desvalorização contínua da moeda (o escudo) à razão de 100% entre 1914 e 1920, 200% em 1920 e 600% entre 1921 e 1924.

Perante a depreciação da moeda aumentou o custo de vida e os salários reais dos trabalhadores, rurais e urbanos, quedaram. Na tentativa de controlar os problemas económicos o estado colonial recorria ao aumento do mussoco, a cobrança do imposto de palhota em libras, tanto ao trabalhador migrante como aos outros trabalhadores locais. Igualmente diminuiu a qualidade dos tecidos importados, principal mercadoria no comércio rural.

Estes factores conduziram, por um lado, à migração para fora do país, onde a atracção da libra esterlina e de tecidos de melhor qualidade era cada vez mais evidente e, por outro lado, à deserção do trabalho pouco remunerado. Assim agudizaram-se todos os problemas relacionados com o recrutamento de mão-de-obra tanto pelo estado colonial como por empresas capitalistas. Perante esta situação, a administração colonial intensificou rusgas para o aprisionamento de pessoas que depois eram enviadas para o trabalho forçado nas companhias e obras públicas.

Nas cidades de Lourenço Marques e Beira os trabalhadores brancos, que usufruíam de privilégios coloniais, desenvolveram as suas acções separadamente dos trabalhadores negros, que, em geral, não gozavam dos mesmos direitos e, por conseguinte, moviam uma luta paralela, embora ilegal. Desta forma, registou-se uma série de greves em que os trabalhadores se manifestaram activamente contra os efeitos da crise.

Das greves levadas a cabo em Lourenço Marques, destacam-se as dos ferroviários (brancos) em 1917 e 1920, as dos estivadores (negros: quatro greves entre 1919 e 1923) e as do pessoal da empresa de transportes urbanos (brancos) em 1916, 1920 e 1923.

O estado colonial utilizou a estratégia de reprimir e dividir os trabalhadores, quer negros, quer brancos, deportando os activistas brancos em 1920 e neutralizando rapidamente as greves dos negros. Mas às vezes, aliciou o reduzido número de assimilados assalariados, garantindo-lhes algumas das regalias dos brancos.

Não obstante, a diferenciação de estatuto e tratamento dos brancos manifestou-se bem evidente entre 1918 e 1920, ao ser concedido o pagamento em divisas da maior parte do salário à maioria dos funcionários brancos.

Nos anos seguintes, a crise manteve-se e veio tomar proporções graves. O ano de 1925 iniciou-se num autêntico clima de agitação. Foi-se desenvolvendo com certa intensidade uma campanha a favor dos trabalhadores negros em Lourenço Marques, através do Brado Africano.

Este apelava aos africanos para se unirem por um objectivo comum.

Entretanto os atropelos à lei eram prática corrente. Em Fevereiro de 1925 mais de uma centena de trabalhadores negros recusou continuar a prestar serviços à empresa Delagoa BayAgency de Lourenço Marques, alegando maus tratos e exigindo que os deixassem regressar às terras de origem.

Pelo facto foram imediatamente presos pela polícia por ordem da Secretaria dos Negócios Indígenas.

Em Junho 300 trabalhadores negros dos caminhos-de-ferro de Lourenço Marques reuniram-se junto à casa dos Trabalhadores, manifestando-se contra o não pagamento de um aumento salarial estabelecido pelo governo no ano anterior.

Foi certamente animada pelo clima de descontentamento e agitação que pairava sobre cidade de Lourenço Marques que se deu, em 13 de Agosto de 1925, a greve dos trabalhadores da Delagoa Bay Development Corporation Limited, empresa concessionária de diversos serviços urbanos (água, energia eléctrica, e transportes públicos). Os grevistas lutavam pela actualização dos vencimentos.

Em Agosto de 1925 estalou uma greve geral na Beira. Tratou-se da paralisação geral e concentrada de trabalhadores, funcionários e pequenos empresários brancos, em protesto contra uma série de medidas decretado as pela administração da Companhia Magestática. Assim, em 7 de Agosto entraram em greve os comerciantes, protestando contra o controle de divisas por parte da Companhia, seguindo-se-lhes, por idêntico motivo, os pequenos agricultores colonos. Os funcionários da Companhia entraram em greve em 2 de Setembro, exigindo uma compensação salarial que cobrisse a depreciação da moeda e a alta do custo de vida, entre outras reivindicações. A situação só voltaria a normalidade a 10 de Setembro, tendo, os grevistas, conseguido uma vitória quase total embora temporária.

Em Setembro de 1925, começou a greve dos estivadores do porto da capital, reivindicando aumentos salariais e melhores condições sociais, seguindo-se a greve dos trabalhadores ferroviários e portuários brancos, em defesa dos seus interesses e privilégios, o que veio a transformar-se em greve geral. Iniciada em 1 de Novembro, a greve só viria a terminar em Março de 1926, tendo obrigado o governo a estabelecer o estado de sítio na cidade. Finalmente o governo colonial neutralizou a greve; foram presos e deportados para vários pontos de Moçambique os principais dirigentes grevistas.

Referências bibliográficas

MINEDH. Módulo 7 de História: O Colonialismo Português em Moçambique de 1890 a 1930. Instituto De Educação Aberta e à Distância (IEDA), Moçambique, s/d.

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