A Conquista do Centro de Moçambique
A Conquista do Centro de Moçambique
No
centro de Moçambique, com um quadro político bastante heterogéneo, a conquista
foi levada a cabo pela companhia de Moçambique. Siga a lição para uma leitura
de todo o processo que conduziu a conquista e ocupação do centro de Moçambique.
A Situação Política nas Vésperas da
Partilha
A
região centro de moçambique apresentava-se nas vésperas da conquista bastante
heterogénea. Ao longo do Zambeze encontravam-se os Estados Militares do Vale do
Zambeze. Grande parte do sul das províncias de Manica e Sofala fazia parte do
Estado de Gaza e Bárue apresentava-se como o último resquício dos Mwenemutapa.
O
quadro descrito reflectiu-se numa também variada capacidade de resposta a
invasão portuguesa. Por um lado, estes estados e reinos tinham uma grande
capacidade militar, graças ao comércio de escravos que lhes permitia a obtenção
de armas e munições, por outro lado, as rivalidades entre as diversas unidades
políticas jogaram a favor dos conquistadores.
A
conquista no centro foi essencialmente obra da Companhia de Moçambique criada
no âmbito das concessões feitas ao capital internacional.
Criada
a Primeira Companhia de Moçambique, em 1888, Paiva de Andrade, administrador da
campanhia, iniciou uma série de contactos com as aristocracias locais mais
influentes tentando obter concessões.
Dentro
desses esforços em 1889 assinou um acordo com Gungunhane pelo qual reconhecia à
Companhia direitos mineiros em Manica. Contudo a presença portuguesa no
interior continuou muito frágil.
A
ideia de que Manica era bastante rica em ouro originou, a partir de 1889,
disputas entre os portugueses e ingleses, que só foram ultrapassados com a
assinatura do acordo de fronteiras entre Portugal e Inglaterra de 27 de Junho
de 1891. Durante este período a questão da ocupação passou para segundo plano.
Terminados
os conflitos entre Portugal e Inglaterra a Companhia de Moçambique retomou os
esforços para a ocupação das terras de Manica.
Veja
as principais acções nesse sentido:
1892 – Morte de
Gouveia permite à companhia dominar Gorongosa após sufocar uma revolta liderada
por Cambwemba. Após a derrota Cambwemba reorganizou as suas forças
reforçando-as com camponeses.
1893 – Acordo entre a
Companhia e o Estado de Gaza segundo o qual Gungunhane renunciava aos impostos
a norte do Save a favor da Companhia.
1893 – Os prazos de
Tambara, Chiramba e ilhas vizinhas foram submetidos por uma força chefiada por
Paiva de Andrade. Uma expedição da Companhia e uma coluna portuguesa,
permitiram estender a cobrança do mussoco à área de Sena.
1895 – A Companhia
organizou expedições militares ao Búzi e Moribane visando impedir que se
solidarizassem com Ngungunhana ora vítima das campanhas portuguesas contra o Estado
de Gaza.
1896 – Novas
expedições em Moribane, Buzi, Save e Chichongue para extinguir a influência
Nguni e firmarem a autoridade da Companhia.
1896 – Uma força de
2000 homens liderados pelo filho de Cambuemba atacaram Gorongosa e cercaram a
residência do governador da Companhia, mas foi reprimida. Em seguida Cambuemba
assinou acordos com Massangano e Bárue para o fornecimento de armas e em 1897
tinha um exército com 5 a 10 mil homens.
Maio
de 1897 – Inicia o levantamento, tendo as forças de Cambuemba
expulso os portugueses dos prazos de Bandar, Tambara, Inharruca e Sone, e
bloqueado a navegação do Baixo Zambeze. Foram então enviados reforços de
Portugal, Niassa, Tate e Quelimane. As tropas de Cambuemba e seus aliados Gizi
e Luís de Gorongoza foram derrotados e estes obrigados a refugiar-se em Báruè.
A Revolta de Báruè
Após
a queda dos estados militares, Báruè passou a ser o único estado, em Manica e
Sofala, fora do controlo dos portugueses.
Bárue
foi produto da desagregação do Estado dos Mwenemutapa, que conseguiu resistir à
devastação dos nguni e às disputas com os estados militares vizinhos.
Entre
1870 e 1892 esteve sob controlo de Gouveia, que, depois de casar com andriana,
filha do macombe (rei) Chipapata, usurpou o poder e tentou submeter Chipapata.
Para reforçar o seu poder mandou construir aringas e fortificações pequenas
onde instalou forças chicunda. Para tentar legitimar o seu poder colocou as
suas principais esposas nas aringas mais importantes, donde lhe informavam
sobre a situação. Contudo a oposição manteve-se.
A
prisão de Gouveia juntamente com Paiva de Andrade pelas forças da BSAC, em
1890, permitiu ao macombe Hanga, filho de Chipapata reagrupar as suas tropas e
restaurar a independência do reino. Após libertado em 1891, Gouveia atacou
Bárue com um exército de cerca de 4000 homens, mas foi derrotado.
A
partir deste acontecimento o prestígio de Bárue, como foco de
resistência,
aumentou começando a preocupar a própria coroa portuguesa que decidiu intervir.
30
de Julho de 1902 – três pelotões de soldados portugueses e africanos e 2000
soldados de reserva invadiram Báruè. As tropas africanas, comandadas por Hanga,
Mafunda, Cambuemba, Cabendere e outros foram derrotadas no final do ano e aí
instalada a administração colonial.
Razões da Derrota
- Elevado número de reforços vindos de Angola, Inhambane, Lourenço Marques e norte de Moçambique;
- Inovações tecnológicas no armamento;
- Erros tácticos e deserções.
A
derrota de 1902 não foi, contudo definitiva. Novas acções de resistência como
os levantamentos contra o mussoco, as fugas para fora do país e outras, continuaram
a registar-se. O ponto mais alto da resistência nesta fase foi atingido com a
Revolta de Báruè de 1917/8.
Causas
- 1914 – o governo português mandou construir uma estrada ligando Tete a Macequece passando por Báruè com a finalidade de conseguir maior controlo administrativo do interior e facilidade de recrutamento de homens para a luta contra os alemães (IGM).
- Milhares de camponeses foram recrutados para trabalhar nas obras em regime forçado o Paralelamente, os camponeses estavam sujeitos a pagar impostos cada vez mais altos.
- 1916 – a situação agravou-se devido a decisão do governo português de recrutar 5000 homens para a guerra contra os alemães.
Face
a estes acontecimentos os principais chefes de Báruè, nomeadamente, Nongué –
Nongué e Macossa decidiram reorganizar o exército para lutar contra os
portugueses.
Estes
chefes conseguiram juntar cerca de 15000 guerreiros e atrairam Gorongosa,
tauara, Nsenga, Tonga e grupos A-chicunda para a luta.
Os
preparativos terminaram em 1916 com a formação de três frentes:
- Frente Sudeste – comandada por Macossa, apoiado por Ngaru, a frente dos exércitos de Báruè, Sena, Tonga e Gorongosa, com a missão de capturar Sena e destruir as propriedades da Companhia de Moçambique;
- Frente de Mungari-Tete – liderada por Nongué – Nongué e Cuedzania frente do exército conjunto Báruè – Tauara;
- Frente noroeste – onde as tropas de Tauara, Nsenga e grupos Achicunda que deviam expulsar os portugueses de Zumbo, Cachomba e Chicoa.
A
rebelião começou em Março de 1917, espalhando-se rapidamente pelo Zumbo, Tonga
e Sena.
A
revolta só foi reprimida em Novembro de 1920, devido:
- A Incorporação de soldados Nguni e de mercenários vindos da Rodésia do Sul;
- Conflitos e deserções entre os membros da elite da resistência.
Com a derrota de Báruè colocou-se ponto final à
resistência primária armada contra a ocupação colonial no centro de Moçambique.
Referências
bibliográficas
MINEDH. Módulo 7
de História: O Colonialismo Português em Moçambique de 1890 a 1930. Instituto De Educação Aberta e à
Distância (IEDA), Moçambique, s/d.
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