A universalidade e a particularidade da Filosofia

A universalidade e a particularidade da Filosofia

A Universalidade da Filosofia verifica-se nos problemas e não na sua solução ou resolução, pois a solução está em consonância com as condições concretas de cada sujeito - a particularidade. Daí que o universal alberga em si a particularidade.

Os problemas que a Filosofia levanta são problemas da humanidade (universais), que resultam da acção do Homem (particular) medida que a consciência se vai desenvolvendo ou construindo a sua realidade material e espiritual.

A Filosofia é, ainda, um saber universal, pois exprime preocupações e problemas que dizem respeito à humanidade em todas as suas dimensões.

Uma reflexão torna-se filosófica a partir do momento em que busca explicação sobre os mais profundos problemas do ser humano, tais como: os problemas relacionados com o amor como categoria filosófica, o da amizade, o da beleza ou justiça. Ao levantarmos estes problemas estaremos além do particular e estaremos a entrar numa reflexão universal.

Em Filosofia não se pode falar com propriedade do universal sem alusão ao particular, pois os dois conceitos anulam-se mutuamente no tempo e no espaço.

Funções da Filosofia

A Filosofia é uma maneira de estar no mundo, é um modo de existir. Como tal, não deve ser vista apenas como uma procura de compreensão e interpretação do mundo. Na verdade, o esforço de se apropriar do real passa pela maneira como o Homem interpreta a realidade, mas também como ele se situa perante ela. Disto resultam as várias e diferentes maneiras de estar no mundo, os vários e diferentes modos de existir, as várias dimensões da existência humana.

O Homem não só pensa e comunica com os outros, não só procura compreender e interpretar a ordem do mundo ou ordenar o «caos cósmico», como também sabe que pensa e pensa sobre o seu próprio pensamento, formulando para este princípios e regras que o tornem coerente. O Homem pensa também no «além», venerando um ente que não conhece, embora encontrando nele o sentido da sua existência. O Homem também goza a felicidade e sofre a dor do trabalho, do jogo, da espera, da descoberta, do desejo, etc. O Homem manifesta-se, com efeito, em planos diferentes: pensar, sentir e agir. Todos estes planos podem ser agrupados em dois: o teórico e o prático, circunscrevendo-se neles as funções da Filosofia.

As tarefas da Filosofia abrangem, as áreas do saber (área teórica) e da experiência (área prática), embora hoje seja questionável a oposição entre a teoria e a prática. Contudo, há razões suficientes para afirmar que o Homem é um ser teórico e prático.

plano teórico refere-se não só aos saberes instrumentais ligados as actividades artesanais, profissionais e técnicas, aos saberes relativos à interacção social e ao senso comum. Como também aos saberes considerados mais elevados, como os ligados à Arte, à Ciência, Política, ao Direito, Filosofia. O plano prático abarca a multiplicidade de experiências que o Homem adquire a partir da sua própria existência, do seu trabalho, da natureza, da sua convivência e da sua actividade cognitiva e valorativa, entre outras.

Este quadro mostra-nos a dificuldade de opor a teoria à prática. Para além disso, também nos mostra que o Homem é, por um lado, um ser aberto ao mundo enquanto dotado de sentido e razão, meios pelos quais ele se relaciona com a Natureza e a sociedade, procurando dar-lhes sentido, transfigurando os, reconstruindo-os, ordenando-os ou globalizando-os. Por outro lado, o Homem está arrojado para a existência, tanto na interacção comunicativa com os outros como na coexistência com a Natureza.

Pela etimologia da palavra, a Filosofia satisfaz, nos dois planos, o desejo de saber: saber pensar (plano teórico) e saber agir (plano prático).

Saber pensar significa não só ordenar as ideias de forma coerente, questionar de forma inteligível (só uma pergunta Clara é susceptível de uma resposta Clara), ordenar um discurso argumentativo, como também tomar consciência da amplitude, complexidade e profundidade do real. No entanto, saber pensar significa também questionar-se sempre de novo sobre a coerência, a inteligibilidade do seu próprio pensamento e sobre os princípios em que se baseiam os seus próprios argumentos.

Saber agir significa saber aplicar o saber pensar. Responde pergunta «saber pensar para quê?»: para a orientação existencial e social do Homem, ou seja, para uma atitude racional perante a realidade que o rodeia.

Assim sendo, cabe Filosofia proporcionar ao Homem um procedimento critico em relação ao seu próprio pensamento, ao pensamento dos outros, aos diferentes saberes e opiniões, aos valores, às crenças e aos poderes. A Filosofia é também imprescindível ao Homem enquanto cidadão, proporcionando-lhe a capacidade de ser tolerante perante as opiniões e interesses alheios, de trabalhar para a paz, para o bem comum, para a justiça, para o respeito, para uma ordem pública salutar e para a liberdade e autonomia dos seres humanos.

A Filosofia torna o Homem lúcido, livre e autónomo, fazendo com que se torne corajoso no pensar e no agir. Nesta fase de globalização e de mudanças rápidas, dota o Homem de pressupostos para desafiar as tensões que delas resultam.

Como se pode depreender, as tarefas da Filosofia não se podem encontrar fora do Homem. As tarefas da Filosofia estão naquilo que ela produz no próprio Homem.




Bibliografia
CHAMBISSE, Ernesto Daniel; COSSA, José Francisco. Fil11 - Filosofia 11ª Classe. 2ª Edição. Texto Editores, Maputo, 2017.

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