Moçambique no contexto da partilha imperial do Mundo

Moçambique no contexto da partilha imperial do Mundo

A expansão imperialista esteve ligada à procura de novas fontes de matérias-primas, de mercados e de novos locais de investimento dos capitais europeus.

Pois bem, Portugal não era, no final do século XIX, um país industrializado. Grande parte da população, cerca de 60%, vivia da agricultura de subsistência.

Como se explica, então, que sem ser uma potência capitalista, Portugal tenha conseguido ser uma potência colonial? Este é um dos fenómenos de mais difícil explicação e compreensão no estudo da dominação imperialista e que nos leva a considerar que a penetração portuguesa assumiu um carácter específico.

É claro que, se Portugal manteve as colónias onde já tinha interesses mercantis desde o século XV, é porque estava, de facto, interessado em explorá-las.

Três questões surgem, perante esta realidade:

Como iria Portugal competir com as verdadeiras potências capitalistas para a obtenção de colónias?

Como iria Portugal equipar e manter exércitos para a conquista de Africa sendo pobre? Como iria Portugal desenvolver plantações, construir vias de comunicações, enfim, criar as infraestruturas necessárias para a exploração das suas colónias?

Tendo em conta esta realidade, a exploração das colónias sé podia ser levada a cabo, como o foi, através do apadrinhamento concedido pelo grande capital internacional e só podia reproduzir-se, como se reproduziu, mediante um complexo jogo de concessões e de alianças táticas às e com as diversas potências coloniais.

Intermediário atento da exploração imperialista, Portugal nela participou fazendo lucrar e lucrando.

Foi desse modo que surgiu o estado colonial português, como intermediário entre as principais potências capitalistas e as suas colónias.

Ao assumir essa mediação, Portugal preparou terreno para uma nova acumulação primitiva de capital na sua forma de capital-dinheiro, que permitiu o desenvolvimento da economia política portuguesa pós-1930.

Para conseguir isso, Portugal decidiu:

  • Ceder dois terços do território moçambicano às companhias, exigindo-lhes urna parte dos lucros.
  • Autorizar as companhias não majestáticas a cobrar impostos nas terras aforadas, exigindo-lhes uma percentagem da cobrança.
  • Promover a exportação de mão-de-obra, particularmente, a sul do Save para as minas sul-africanas, cobrando tarifas transitárias, beneficiando do pagamento diferido em divisas e fazendo com que lhe construíssem o porto de Lourenço Marques e as linhas férreas.

Fronteiras de Moçambique

O estabelecimento das fronteiras de Moçambique mostra claramente como Portugal conseguiu manobrar os interesses das diferentes potências de forma a salvaguardar os seus interesses em África.

Vejamos em seguida alguns aspectos:

Fronteira Sul

No século XVIII, os portugueses, os holandeses e os austríacos lutavam pelo controlo da baia de Maputo. Em 1820, os ingleses entraram igualmente na disputa.

Face ameaça inglesa, em 1869, Portugal assinou um acordo com o Transvaal que fixava o limite dos territórios portugueses pelo paralelo 260 30' S (Montes Libombos). Uma vez que os ingleses não desistiram de lutar pela baia, em 1875 foi solicitada uma arbitragem internacional, tendo sido convidado o presidente francês, o Marechal Mac-Mahon, que decidiu a favor dos portugueses, validando o acordo de 1869.

Fronteira Centro

Foi fixada apos conflitos entre os portugueses e os ingleses. Em 1887, Portugal publicou o seu plano de ocupação intitulado Mapa Cor-de-rosa, visando ligar Moçambique a Angola, mas prevendo recusa dos ingleses, em 1886, assinou tratados com a Alemanha e a França.

Fig.2 – Mapa Cor-de-rosa.

Este plano foi contestado pelos ingleses e, perante a insistência dos portugueses, em 1 1 de Janeiro de 1890, a Inglaterra fez um ultimato exigindo a retirada das tropas portuguesas do Chire e da Mashonalândia.

Face ameaça inglesa, Portugal tentou, em vão, apelar aos seus «aliados» e a Inglaterra enviou uma força da BSAC para Manica, onde prendeu Paiva de Andrade e construiu o forte Salisbury.

Isolado, o governo português teve que se submeter ao Ultimato Inglês – fracassava a ideia do Mapa Cor-de-Rosa.

Fronteira Norte

Os conflitos no norte envolveram Portugal e Alemanha, que tinha ocupado o Tanganica desde 1884. Em 1894 os alemães atravessaram o Rovuma para o sul, expulsando a guarnição portuguesa e substituindo-a por uma alemã. Os portugueses protestaram, mas os alemães continuaram e alargaram a ocupação até Quionga. SO a derrota alemã na I Guerra Mundial permitiu a Portugal recuperar as suas terras.

Resistência ao domínio colonial

Resistência dos Zulu

As acções de conquista de África motivaram desde o princípio a resistência africana, por vezes desajeitada, outras vezes ambígua, mas sempre presente até å reconquista da independência.

Em 1867 foram descobertas jazidas de diamantes em Kimberley. Para a exploração dessas jazidas, pretendia-se mão-de-obra barata, o que não alimentava o interesse nem da aristocracia nem da população. Para conseguir mão-de-obra era, pois, preciso submeter a população Zulu.

Tendo em vista esse objectivo, em Dezembro de 1878 as autoridades britânicas enviaram um ultimato ao rei zulu Cetswayo exigindo o desmantelamento do exército Zulu. Passados os 30 dias de prazo sem que o rei zulu obedecesse, em Janeiro de 1879 os ingleses atacaram os Zulus, tendo sido derrotados na batalha de Isandluana. Em Julho, apos receber reforços e reorganizar o seu exército, os ingleses voltaram a atacar os Zulus, tendo-os vencido na batalha de Ulundi. De seguida o território zulu foi dividido em 13 chefaturas. A resistência zulu era, assim, derrotada.

No Sudoeste Africano

Desde meados do século XIX, os alemães encontravam-se em Walvis Bay, de onde faziam comércio com as populações locais. A partir de 1883, no âmbito da expansão imperialista, os alemães iniciaram a anexação de terras do interior, suscitando de imediato a contestação dos principais grupos tribais — os namas, os hereros e os ovambos.

Optando por uma resistência armada, os nama e os ovambos tentaram, sem sucesso, impedir a ocupação alemã dos seus territórios.

Por seu turno, os hereros, liderados por Samuel Maherero, tentaram impedir a ocupação de seus territórios através do jogo diplomático. Assim, assinaram tratados de protecção com os britânicos do Cabo e também com os próprios alemães.

Depois de terem sido derrotados, no final do século XIX, os namas e os hereros protagonizaram, numa acção combinada sob a liderança de Jacob Murenga, uma revolta em 1905 que seria suprimida em 1907.

Bibliografia

SUMBANE, Salvador Agostinho. H9 - História 9ª Classe. 2ª Edição. Texto Editores, Maputo: 2017.

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