Revolução Americana (Colónias inglesas da América, Primeiros europeus na América)

Revolução Americana

Colónias inglesas da América do Norte

Depois de longos anos em que as populações originárias da América viveram sem contacto com os europeus, a partir do século XVI começaram a ver chegar povos vindos da Europa. Foram povos de diferentes países europeus, mas os ingleses apareceram em número muito superior ao das outras nacionalidades e fundaram na América do Norte várias colónias.

Primeiros europeus na América

O povoamento da América pelos europeus teve início no século XVI com a chegada dos espanhóis logo a seguir descoberta da América por Cristóvão Colombo e pouco depois com o reconhecimento de novas terras pelo florentino Américo Vespúcio.

Estes fixaram-se por todo o continente, mas em locais específicos: no Sul, na costa do Pacifico e na foz do rio Mississipi.

No século XVII, começam a chegar os holandeses, que se fixaram na foz do rio Hudson, na América do Norte e na América do Sul, assim como os franceses, que se fixaram no actual Canadá e no vale do Mississipi.

Fig. 77 – Os europeus na América do Norte

Formação de colónias inglesas na América do Norte

Os ingleses começaram a chegar América no século XVII. Essa migração foi resultado das perseguições religiosas e políticas de que eram vítimas na Inglaterra, que iremos descrever em seguida.

Perseguições religiosas

O movimento protestante foi acompanhado pela tentativa da Igreja Católica de o travar. Muitas foram as pessoas que, para fugir à Inquisição, tiveram de abandonar os seus países.

Tal como nesses países onde decorreu a reforma protestante, durante o reinado de Jaime l, na Inglaterra, muitos ingleses foram obrigados a emigrar para a América para fugir às perseguições religiosas.

Perseguições políticas

A Revolução Burguesa na Inglaterra foi caracterizada pela luta entre os reis absolutistas e o Parlamento que, em alguns momentos, levou a confrontações militares e a perseguições. No tempo de Carlos l, e depois no período de Cromwell, muitos ingleses foram também obrigados a emigrar para evitar as perseguições políticas.

Colónias inglesas na América

Uma grande parte dos emigrantes ingleses fixou-se na América, onde fundaram 13 colónias. No início, essas colónias eram independentes, e eram povoadas maioritariamente por ingleses, mas a partir de 1680 começaram a ser povoadas também por alemães, irlandeses, escoceses, franceses e italianos.

Cada colónia tinha características próprias, segundo alguns aspectos:

  • A natureza do solo e o clima da região.
  • O modo de povoamento e nacionalidade dos colonos.
  • A classe social a que pertenciam na Europa.
  • O género de mão-de-obra utilizada (servil ou livre).
  • As actividades económicas da região, forma de organização social e religião praticada.

Assim, existiam na América três grupos de colónias:

Colónias do Norte (quatro colónias)

  • As populações destas colónias dedicavam-se ao comércio, pesca e caça.
  • As indústrias eram de pequenas dimensões; a agricultura estava pouco desenvolvida porque as condições naturais eram pouco favoráveis.
  • No Norte fundaram-se os primeiros colégios e a primeira Universidade (Harvard, em 1 636); Boston era a principal cidade.
  • Eram maioritariamente da corrente puritana da religião.

Neste grupo de colónias encontravam-se Nova Hampshire, Massachusetts, Rhode-Island e Connecticut.

Colónias do Centro (quatro colónias)

  • Formavam o grupo menos homogéneo de colónias pois a proveniência dos povoadores era variada: holandeses e suecos (os primeiros a estabelecerem-se) britânicos, alemães e franceses, entre outros.
  • Dedicavam-se ao comércio e å agricultura de cereais; também criavam animais para o aproveitamento das peles.
  • Filadélfia era a maior cidade, tornando-se uma das maiores cidades americanas do século XVIII.

Neste grupo de colónias figuravam Nova lorque, Pensilvânia, Nova Jersey e Delaware.

Colónias do Sul (Cinco colónias)

  • Situam-se numa região extensa de clima quente e húmido, propicio agricultura.
  • Cultivava-se o tabaco, o arroz, e mais tarde o algodão.
  • A população era maioritariamente formada por anglicanos e católicos.

Fazem parte deste grupo de colónias Maryland, Virgínia, Carolina do Norte, Carolina do Sul e Geórgia.

Fig. 79 – Colónias inglesas na América do Norte

Revolução Americana

A Revolução Americana foi conduzida por ingleses que se fixaram na América como colonos e que, a dado momento, se revoltaram contra a Inglaterra, a sua terra de origem. Assim, a revolução americana teve a particularidade de colocar os ingleses que viviam na América como colonos contra a Inglaterra, tentando liberar-se e constituir uma nação independente.

Motivações da Revolução Americana

Os conflitos entre os colonos ingleses e a metrópole tiveram a sua origem no choque de interesses de uns e outros à volta das pretensões de cada uma das partes. Vejamos, em seguida, como evoluíram as relações entre os colonos e a Inglaterra até eclosão da luta pela independência.

Relações entre os colonos e a metrópole

Durante o período da sua formação, as colónias tinham a liberdade de se desenvolverem de acordo com as circunstâncias. O rei inglês nomeava funcionários que tinham a missão de controlar as actividades dos colonos. Porém, estes, através dos seus representantes, em assembleias, conseguiam fazer-se ouvir, defendendo os seus interesses.

Portanto, a nível político, as relações entre os colonos ingleses e a Inglaterra eram boas pois, de uma forma geral, as autoridades coloniais respeitavam os direitos civis mais importantes, tais como a liberdade de expressão e a liberdade de assembleia.

A nível da economia, a política inglesa relativamente as colónias americanas foi a de uma verdadeira potência colonial. O seu princípio orientador era baseado no princípio mercantilista imposto pelo Pacto Colonial, segundo o qual «as colónias deveriam fornecer metrópole as suas matérias-primas e nunca com ela competir com artigos manufacturados».

Seguindo este princípio, as colónias deviam apenas produzir matérias-primas e enviá-las para a Inglaterra e não deviam desenvolver a sua própria indústria. As colónias sé deviam receber produtos manufacturados vindos da metrópole.

Esta política não agradava à burguesia mercantil que Vivia na América porque dessa forma não havia condições para a burguesia colona enriquecer.

Agravamento das tensões entre as colónias e a Inglaterra

Os colonos ocupavam, inicialmente, uma pequena faixa junto da costa e por isso, para poder ter mais terras, pretendiam ocupar novas terras no interior. Nos séculos XVII e XVIII, os colonos enfrentaram dois obstáculos ao seu avanço em direcção do interior:

  • Os índios: as populações originais americanas.
  • Os franceses: desde o século XVII estavam instalados no Canadá e no vale do Mississipi.

Os colonos, na tentativa de ocupar os territórios do interior, entraram em choque com os franceses.

As disputas territoriais entre a Franca e a Inglaterra conduziram chamada Guerra dos Sete anos, entre 1756 e 1763, da qual a Inglaterra saiu vencedora. Com esta vitória, a Inglaterra ocupou toda a área que ia do Canadá ao vale do rio Mississipi.

Pouco depois da Guerra dos Sete anos, o conflito entre os colonos e a Grã-Bretanha agravou-se devido a diversos factores:

A política de repressão colonial: a Inglaterra, baseada nos ideais mercantilistas, queria impedir o desenvolvimento industrial das colónias e impôs o chamado regime exclusivo, que se permitia as colónias fazer comércio com a metrópole. Por outro lado, para evitar que os fazendeiros, que emigravam para as novas terras, entrassem em guerras com os índios, proibiu que estes ocupassem as terras do interior, o que para os colonos era uma violação aos seus direitos.

A questão dos impostos: o parlamento inglês, no qual os colonos americanos não estavam representados, defendendo que as colónias eram as mais beneficiadas com a Guerra dos Sete anos, achava que estas deviam pagar os gastos da guerra. Para fazer com que os colonos pagassem os gastos com a guerra, obrigou as colónias a pagar vários impostos, nomeadamente:

O imposto de selo: sobre contratos, licenças, livros e jornais. Ficavam também proibidas de emitir papel-moeda.

O imposto sobre os produtos importados (1773): abrangia produtos tais como: papel, vidro, chumbo, pinturas e chá. A partir desta altura, a Companhia das índias passou a ter o monopólio da venda do chá, ou seja, só ela podia vender o chá nas colónias.

Portanto, nos meados do século XVII, as relações entre os colonos e a Inglaterra eram de rivalidade. Assim, a partir de 1773, as tensões entre os colonos e a Inglaterra agravaram-se pelos factores referidos.

Principais acontecimentos ligados à Revolução Americana

1773 – Reagindo contra os novos impostos, cerca de cinquenta colonos vestiram-se como se fossem carregadores índios, entraram no porto de Boston e começaram a lançar o chá que estava em três navios para a água (este acontecimento ficou conhecido por «festa do chá de Boston». Para tentar controlar a revolta, o governo inglês mandou fechar o porto de Boston e ocupou militarmente a cidade.

1774 – Reunião dos representantes das treze colónias (1º congresso) em Filadélfia, com a finalidade de obter o reconhecimento dos seus direitos. Decide-se um boicote a todas as mercadorias britânicas.

1775 – Realização do 2º congresso de Filadélfia. Neste congresso, os representantes das treze colónias decidiram criar um exército para resistir dominação inglesa e indicaram para comandante George Washington. Começa assim a guerra da independência.

1776 – A colónia de Virgínia declarou-se independente, proclamando uma Declaração dos Direitos e em seguida uma Constituição. Seguindo o exemplo da Virgínia, as treze colónias decidiram pela união pelo que se realizou o Congresso de Filadélfia, que aprovou a Declaração da Independência dos Estados Unidos da América. A declaração da independência deu início guerra aberta contra a Inglaterra.

1777 – Derrota das tropas inglesas na batalha de Saratoga – a França reconheceu a independência dos Estados Unidos e interveio directamente na guerra ao lado dos revoltosos.

1781 – Derrota das tropas inglesas na batalha de Yorktown.

1783 – A Inglaterra reconheceu a independência americana, assinando com os colonos o Tratado de Versalhes.

1787 – Adopção de uma nova Constituição dos Estados Unidos da América, o novo país que resultou da unificação das treze colónias inglesas na América do Norte.

1789 – George Washington, uma das principais figuras da luta pela independência, tornava-se o primeiro presidente dos Estados Unidos da América.

Como ficou claro na descrição dos acontecimentos, na sequência do confronto entre os colonos e a Inglaterra, as colónias inglesas decidiram declarar a sua independência e depois de cerca de quinze anos de guerra, o novo estado chamado Estados Unidos da América foi reconhecido pela Inglaterra e dotado de uma nova constituição.

Constituição Americana

Iniciada em 1775, a luta pela independência na América terminou formalmente em 1783 com a assinatura do tratado de Versalhes, pelo qual a Inglaterra reconheceu a independência das suas colónias na América e cedeu-lhes todas as terras a leste do Mississipi.

Uma vez conseguida a independência, novas questões se colocavam para as antigas colónias inglesas em relação ao seu futuro. Por um lado, passavam por uma fase de dificuldades económicas como consequência da guerra. Por outro lado, era preciso definir como seria a organização política a seguir.

As colónias deviam manter-se independentes? Ou deviam unir-se num só estado?

Depois de longas negociações, as antigas colónias chegaram a um compromisso de união e aprovaram, em 1787, uma constituição, ou seja, um documento que fixava a organização dos poderes do sob a forma de uma república federada. Assim, cada uma das antigas colónias era um estado autónomo possuindo uma administração, uma justiça, uma polícia e um ensino próprios, mas dependentes de um governo central no que dizia respeito a questões comuns, como defesa e negócios estrangeiros. O governo central tinha também a tarefa de controlar o cumprimento da constituição.

Documento

Quando, no decurso dos acontecimentos humanos, se torna necessário a um povo romper os laços políticos que o prendem a um outro povo e assumir, entre as nações da terra, o lugar livre e igual a que as leis da Natureza e o Deus do Universo lhe dão direito, o respeito devido å humanidade obriga-o a declarar as causas que o levam separação.

Consideramos verdades evidentes que todos os homens foram criados iguais e dotados de direitos inalienáveis, como sejam a Vida, a liberdade e a procura de felicidade. Foi para assegurar esses direitos que se instituíram os governos, derivando os seus justos poderes do consentimento dos governados. Portanto, sempre que qualquer forma de governo se torna um obstáculo à realização destes objectivos, é um direito do povo alterá-la ou aboli-la. (...)

Ora, a história do actual rei da Grã-Bretanha é uma história de repetidas injúrias e usurpações, tendo todas como objectivo o estabelecimento de uma absoluta tirania sobre estes estados. (...), portanto, nós, representantes dos Estados Unidos da América (...) declaramos que estas colónias unidas são e devem ser de direito, Estados livres e independentes.

Declaração da Independência dos Estados Unidos da América (Adaptado)

  • Com base no extrato acima, indica as principais razões que levaram as colónias a declarar a independência em relação a Grã-Bretanha.

Segundo o texto acima, a Constituição Americana defendia:

  • Liberdade e igualdade de direitos
  • O poder pertencente ao povo
  • Os poderes executivo, legislativo e judicial devem estar separados.
  • Os representantes do povo devem ser escolhidos através de eleições livres.
  • Qualquer cidadão tem direito å propriedade.

A Revolução Americana consagrou a liberdade individual e os direitos de cada um a produzir e a comerciar livremente. Destruiu as estruturas do período de transição como a renda feudal, a primogenitura (o direito de herança só para o primeiro filho), etc., trazidas pelos colonos.

Ao assumir essa forma, podemos dizer que foi uma revolução liberal.

De acordo com a Constituição Americana, o poder central foi organizado segundo o Princípio da Separação de Poderes e orientava-se pelos princípios da liberdade e da igualdade de direitos. Os principais órgãos do poder eram eleitos através do voto dos cidadãos, como acontece também no nosso pais.

O sistema político americano tinha como principais órgãos de poder os seguintes:

Congresso: era formado pelo senado e pela câmara dos representantes. Detinha o poder legislativo e as suas funções eram:

  • Fixar os impostos.
  • Regulamentar a política comercial e alfandegária.
  • Declarar a guerra.

Presidente (e vice-presidente): detinha o poder executivo, cabendo-lhe as funções de:

  • Nomear os ministros.
  • Comandar as Forças Armadas.
  • Dirigir a administração central e os negócios estrangeiros.

Supremo Tribunal: controlava o poder judicial e a sua principal função era zelar pelo cumprimento da Constituição.

Fig. 83 – Representação esquemática da estrutura definida pela Constituição Americana.

Importância da Revolução Americana

A Revolução Americana teve grande alcance, muito para além dos estados americanos:

Provocou grande entusiasmo na Europa os acontecimentos revolucionários da América do Norte chegaram å Europa através de diversas formas:

  • Propaganda dos diplomatas americanos na Europa.
  • Soldados que participaram na luta pela independência na América do Norte.
  • Lojas maçónicas, locais de reunião dos membros da Maçonaria uma sociedade secreta cujos princípios assentam-se na fraternidade, na caridade e no humanitarismo universais e que usa como símbolos os instrumentos do pedreiro e do arquitecto (triângulo e compasso).
  • Publicações (jornais e revistas).

Serviu de exemplo para outras colónias americanas: ao verem que as colónias inglesas na América do Norte tinham conseguido a sua independência, outras colónias, principalmente da América Central e do Sul, começaram a perceber que também podiam libertar-se e começaram a organizar-se para lutar pelas suas independências.

Deu início a uma onda revolucionária: esta onda atingiu o seu ponto mais alto com a Revolução Francesa.

Maçonaria – associação de carácter universal, cujos princípios afirmam cultivar a filantropia, a justiça social, o aclassismo, humanidade, a liberdade, a democracia, a igualdade, o aperfeiçoamento intelectual e a fraternidade; afirma-se como uma associação iniciática, filosófica, filantrópica e educativa. Os maçons estruturam-se e reúnem-se em células autónomas, designadas por Oficinas ou Lojas, «todas iguais em direitos e honras, e independentes entre si.»

Bibliografia

SUMBANE, Salvador Agostinho. H9 - História 9ª Classe. 2ª Edição. Texto Editores, Maputo: 2017.

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