Capacidades didácticas essenciais do professor

Capacidades didácticas essenciais do professor

Introdução
Na lição anterior terminamos com a ideia de que a didáctica pode ser definida como “a capacidade de tomar decisões acertadas sobre o que e como ensinar, considerando quem são os nossos alunos e por que o fazemos; considerando ainda quando e onde e com que se ensina. Na verdade, o domínio da didáctica pelo professor ajuda-o a ter consciência e domínio dos pressupostos a ter em conta para que se realize o ensino capaz de mobilizar a actividade do aluno para a aprendizagem. Mas o que significa essa capacidade de tomar decisões acertadas sobre o que e como ensinar, a qual, neste caso, inclui o que designamos de capacidades didácticas essenciais do professor?

Seleccionar o que ensinar (o conteúdo) em função da sua relevância para formação da pessoa na sua integralidade abrangendo os domínios cognitivo, psicomotor e afectivo.

 A capacidade de tomar decisões acertadas sobre o que e como ensinar inclui capacidades didácticas essenciais, envolvendo, dentre outros aspectos, o seguinte:
  • a.     Capacidade de tomar decisões
  • b.    O que ensinar
  • c.     Falar e ler
  • d.    Aprender a escrever
  • e.     Aprender a contar
  • f.      Porque ensinar
  • g.    Como ensinar
  • h.    Quando ensinar
  • i.       Com que ensinar
  • j.       Onde ensinar, senão na escola?
  • k.     O professor que ensina.

Explique o significado de cada um destes aspectos sob ponto de vista do que o professor deve ser capaz entanto que acto didáctico?

É interessante que você apresentou suas ideias sobre os aspectos acima indicados, mesmo sem termos como sendo de grande importância a ordem. O mais essencial são as conclusões a que chegou no sentido em que, para cada um destes aspectos, a capacidade do professor consiste no seguinte:
  • a)    Capacidade de tomar decisões. A habilidade de tomar decisões é saber escolher as melhores alternativas, se decidir por aquilo que é melhor para si e para os outros, para o agora e para o futuro. Tomar decisões é uma das grandes habilidades que toda a pessoa deveria possuir em grau altamente desenvolvido. O professor que sabe tomar decisões não se prende de forma categórica a uma só alternativa. Ele busca muitas soluções possíveis, e, apos uma análise profunda e criteriosa, vai optar pela mais segura e real. 
  • b)    O que ensinar. Eis a grande questão que os professores enfrentam no momento em que pretendem ensinar a alguém que está ali para aprender, mas que não tem visão clara do que é necessário aprender. Escolher o que ensinar é, muitas vezes, uma atitude critica do professor. O que deve ser ensinado para que o aprendizado seja útil à vida? É preciso seleccionar conteúdos que transformem e acompanhem a vida da criança. Conteúdos que sejam significativos e que surjam da própria realidade em que a criança vive, que não sejam puras abstrações. Devemos deixar a vida jorrar nos programas, nos conteúdos, nos métodos utilizados, no clima de trabalho, nas pessoas presentes. Ensinar não é só ministrar conteúdos que sejam assimilados pelos alunos. Todo conteúdo deve ser educativo e formador de personalidades. A dimensão da pessoa não se limita ao intelectual, a pessoa também é emoção, sentimentos e habilidades, dai deve o ensino se ocupar da formação da pessoa como totalidade. 
  • c)    Falar e ler: Uma das primeiras necessidades da pessoa é se comunicar, falar, entender e se fazer entender. Saber dizer o que pensa, com firmeza e espírito critico e se comunicar através da escrita. Aprender a falar, ler e escrever passam a ser os rudimentos da historia do ensino, que ainda não foram superados por outras necessidades mais importantes. Aprender a ler, para interpretar, de forma critica e segura, os embustes da propaganda, que cria necessidades incansáveis. Ler criticamente a sociedade, o mundo, o trabalho, a vida, a realidade. Ler a vida na escola, na rua, em casa, na vida social, no desporto, na religião. 
  • d)    Aprender a escrever. A escrita é a comunicação gráfica. Com a escrita a pessoa pode registar ideias, pensamentos, conhecimentos. Por que não ensinar à que provavelmente abandonará a escola a dar um recado por escrito, a escrever um bilhete aos pais, aos amigos e, futuramente, uma cartinha ao namorado ou namorada, a elaborar um requerimento, a preencher um cheque? A aprendizagem da escrita é um acto educativo e de afirmação pessoal, livrando da vergonha de não saber registar o pensamento de forma clara. 
  • e)    Aprender a contar. Assim como o falar e escrever, contar é uma necessidade básica. A matemática é uma ciência imbricada no cotidiano. O número não é uma abstração, mas concretização da realidade. São infinitas as situações em que se necessita da matemática para a solução de inúmeros problemas. Grande parte da vida é regida pela matemática. Para contar os anos da vida usa-se a matemática. A todo o momento todo mundo se pergunta: quanto é possível; quanto posso faze; quanto é necessário; quanto ganhei; quanto perdi. E diz: isso é demais; isso é pouco; está faltando; está sobrando; é muito caro; é mais barato; por este preço não é possível; os juros estão muito altos; é melhor comprar lá e não aqui; isso deve ser somado, subtraído, dividido, multiplicado... 
  • f)      Porque ensinar. Ensinamos, mas não sabemos claramente porque ensinamos; o aluno quer aprender, mas não sabe bem para quê. Ensinar por ensinar, aprender por aprender parecem ser propostas pedagogicamente inconscientes. Ensina-se para difundir a cultura, para converter a ignorância em sabedoria, para adquirir muitos e sábios conhecimentos. Toda a acção educativa visa sempre propósitos definidos. Qualquer actividade e ser dirigida e orientada em função daquilo que se quer alcançar. As acções docente e discente devem agir em função dos objectivos que devem ser alcançados. O primeiro passo a ser dado na acção educativa é a definição dos resultados e propósitos que se quer alcançar: os objectivo determinam as prioridades, indicam o que se pretende e como se pretende alguma coisa. 
  • g)    Como ensinar. Muitos professores afirmam: foi assim que me ensinaram, portanto, é assim que ensino. Se sempre foi assim, porque fazer diferente? Diferentemente desse raciocínio, temos que defender que o professor deve ser capaz de seleccionar adequadamente o método didáctico e organizar todos os procedimentos e técnicas, visando propiciar aos alunos a melhor aprendizagem. No ensino, sempre se estabelecem certas prioridades. Para atingi-las, traçam-se estratégias que dirigem toda a acção. Os procedimentos didácticos devem estar intimamente relacionados com os objectivos do ensino, com os conteúdos a serem ensinados e com as características e habilidades dos alunos. O melhor procedimento é aquele que atende às características individuais ou grupais. 
  • h)    Quando ensinar. A habilidade de tomar decisões acertadas sobre quando ensinar parece ser uma proposição sem muito significado. Ensina-se a partir do momento em que a criança ingressa na escola, tendo como referência a idade e não tanto a maturidade intelectual, psicológica e motora. Ano apos ano, segundo uma escola cronológica, vão se ensinando as mais diversas disciplinas e conteúdos, povoar a mente da criança com conhecimento, normas, regras, princípios e formulas que um dia podem ser úteis, como também podem ser inúteis. Mas quando a criança está preparada para aprender determinados conteúdos e realizar determinadas tarefas e actividades escolares? Qual a maturidade intelectual e psicológica para entender e analisar determinados conteúdos e ideias? A questão é saber quando a criança está pronta e apta a aprender. Será que a criança, se não souber um conteúdo hoje, não poderá aprendê-lo futuramente na escola ou fora dela? Será que a sociedade, os pais e a escola não querem forçar a criança a aprender coisas que não são do seu interesse e inatingíveis devido à falta de certas habilidades? 
  • i)      Com que ensinar. Os meios e recursos para ensinar auxiliam o professor e aluno no processo de ensino-aprendizagem. Para Gagné, “os recursos ou meios para o ensino referem-se aos vários tipos de componentes do ambiente de aprendizagem que dão origem à estimulação para o aluno”. Quem planifica o ensino deve partir de uma análise dos objectivos, dos conteúdos, dos procedimentos e de todas as possibilidades humanas e materiais que o ambiente escolar pode oferecer em termos de meios a empregar no processo de ensino e aprendizagem. Os objectivos de ensino não são só determinam os conteúdos e procedimentos, como também os recursos e meios de ensino, pois deles depende, em parte, a consecução daqueles. O ensino fundamenta-se na estimulação, que é favorecida por recursos didácticos que facilitam a aprendizagem. Esses meios despertam o interesse e provocam a discussão e debates, desencadeando perguntas e gerando ideias. 
  • j)      Onde ensinar, senão na escola? A escola sempre foi o habitat do ensino. Sempre se afirmou que é na escola que se deve aprender. A escola, ironicamente, se tornou o santuário do saber. O aluno, contaminado pela ignorância, tenta nela ingressar para, depois, sair santificado pela auréola do saber. A escola é uma das muitas condições para se aprender, mas não a única, pois a criança adquire maior quantidade de conhecimentos fora da escola: a verdade é que em todo lugar se pode aprender; assim como todas s pessoas podem ensinar de uma ou de outra forma. Parece, neste sentido, claro percebermos que a escola participa no desenvolvimento do saber enquanto instituição e nela o processo é planificado e sistemático. Eis porque, quando falamos de escola como local do ensino, é pertinente colocarmo-nos questões tais como: como se estruturam administrativamente nossas escolas? Quais as condições das escolas, das salas de aulas, seu mobiliário, sua biblioteca, seu laboratório, suas salas especializadas e seu instrumental básico para que se possa ensinar? Sabemos que há escolas que não têm livros, mapas, giz, etc. São questões sobre as quais a didáctica deve reflectir. 
  • k)    O professor que ensina. Deve-se encarar o “mestre” não apenas como explicador de matérias, mas como educador apto a desempenhar sua complexa função de estimular, orientar e controlar com habilidade o processo educativo e a aprendizagem dos seus alunos, com vistas a um real e positivo rendimento para os indivíduos e para a sociedade. O professor se compromete em defender e testemunhar a verdade e a vida dos outros. Segundo Gusdorf, do professor se exige “que não se limite a apresentar-se como homem de um determinado saber, mas como testemunha da verdade e afirmador dos valores”. A responsabilidade principal do professor é com a verdade. A verdade e o saber não são dados de modo definitivo e acabado. Devem ser procurados. Por isso o professor não é aquele que nos dá a verdade feita e pronta, porque ele não é aquele que nos dá a verdade feita e pronta, porque ele não é apenas um reprodutor ou repetidor da verdade. Ele é o que abre uma perspectiva sobre a verdade, o exemplo de um caminho para o verdadeiro que ele designa. Porque a verdade é sobretudo o caminho da verdade.

Bibliografia
NIVAGARA, Daniel Daniel. Didáctica Geral – Aprender a Ensinar. Módulo de Ensino à distância, Universidade Pedagógica.

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