Problemas ambientais decorrentes das actividades agropecuárias e suas consequências

 2.9. Problemas ambientais decorrentes das actividades agropecuárias e suas consequências

Impacto das actividades agropecuárias e suas consequências

A actividade agropecuária desempenha um papel crucial para a Humanidade pois está relacionada com a produção de alimentos. Deste modo, esta actividade gera inúmeros impactos, quer positivos, bem como negativos.

De entre os impactos positivos, destacam-se, por exemplo, a melhoria das condições de Vida das populações, o aumento da renda, o emprego e o desenvolvimento local ou regional. No entanto existem impactos ambientais negativos decorrentes destas actividades como, por exemplo, a contaminação do solo por defensivos agrícolas (herbicidas, fungicidas e pesticidas), desmatamento, poluição das águas, compactação dos solos, perda da biodiversidade, desertificação, salinização, erosão, entre outros.

degradação do solo, resultante do desmatamento, pode ser considerada um dos mais importantes problemas ambientais das actividades agropecuárias na actualidade, em resultado de práticas inadequadas do maneio agrícola e pecuário. Assim, do ponto de vista agrícola, a erosão é o processo que consiste no desgaste e consequente arrastamento de partes do solo por acção do vento ou água, colocando os materiais erodidos em locais onde não podem ser aproveitados pela agricultura. Este processo permite a perda de elementos nutritivos do solo, o que os transforma em solos estéreis. Os processos erosivos podem atingir proporções alarmantes, podendo gerar consequências económicas e sociais, como por exemplo, a destruição do património natural, enormes prejuízos económicos dos cidadãos, da administração pública e das actividades privadas.

minimização dos problemas decorrentes da erosão, passam necessariamente por medidas de controlo dos aspectos referentes aos agentes causadores da erosão, nomeadamente, a precipitação, os atributos dos solos, acção antrópica, que podem facilitar ou dificultar o processo erosivo, já as actividades humanas revelam-se como principais dinamizadoras desses processos.

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), uma outra consequência decorrente do desmatamento é o aquecimento global, uma vez que removido o manto vegetal, este deixa de cumprir com as suas funções de fixador do CO2 emitido, cujas consequências repercutem-se sobre a economia, saúde e ecossistemas. A rizicultura contribui igualmente para o aquecimento global pois como resultado da sua produção liberta-se o metano, o chamado gás dos pântanos.

De facto, a actividade agropecuária conduz substituição da cobertura vegetal natural de grandes áreas e se realizado um maneio inadequado do solo, pode originar a degradação dos solos e dos recursos hídricos. A pecuária impacta negativamente sobre o ambiente, provocando a destruição das florestas para abertura de pastos e campos para a alimentação do gado tendo diversas implicações, como o comprometimento da biodiversidade e a promoção dos processos erosivos e a desertificação. Mas a importância das florestas não se limita preservação dos recursos hídricos e absorção de poluentes; as florestas funcionam como acumuladoras de poeiras, e de CO2 da atmosfera, contribuindo para a regulação do clima global.

Fig.40: Solo Degradado

Quando as plantas realizam fotossíntese, captam da atmosfera o CO2 , e aproveitam este gás para a síntese de diferentes moléculas orgânicas, incluindo os seus próprios tecidos. A queima de uma floresta devolve atmosfera grande parte deste carbono absorvido pelas plantas. Estudos mostram que pelo menos 70% das emissões de gases do efeito de estufa estão relacionados com o desmatamento e a pecuária.

A pecuária e os gases de efeito de estufa

Os gases do efeito de estufa são principalmente o dióxido de carbono, o metano, os clorofluorcarbonetos (CFC’s) e os Óxidos de nitrogénio. A queima de material orgânico (madeira e combustíveis fósseis) está relacionada com a emissão de dióxido do carbono.

O nitrogénio oriundo dos resíduos animais é uma fonte importante de óxido nitroso (N2O).
As emissões de N2O dos solos ocorrem principalmente como consequência da desnitrificação a partir do nitrogénio mineral (N). A desnitrificação consiste na redução microbiana do nitrato (NO3) às formas intermédias de N e as formas gasosas (NO, N2O, e N2) que são comummente perdidas para a atmosfera. Estima-se que as emissões actuais globais de N2O pelo Homem sejam de cerca de 5,7 milhões de toneladas de nitrogénio por ano. As emissões directas por parte dos animais de criação comercial (principalmente bovinos e suínos) foram estimadas em 1,6 milhões de toneladas por ano.

A pecuária é igualmente uma das maiores fontes de emissão de gás metano para a atmosfera.

O processo de formação do giz ocorre durante o processo digestivo de fermentação entérica de animais ruminantes (bovinos, bubalinos, ovinos e caprinos) sendo o metano subproduto deste processo e liberto para a atmosfera através da flatulência, arroto e eructação dos animais. Com efeito, o gado ao consumir capim das pastagens, este fermenta dentro do organismo dos animais.

Nesse processo de fermentação, há emissão de metano pela eructação e pelas fezes e também de óxido nitroso resultante da decomposição da urina no solo. O metano e o óxido nitroso são gases que têm um alto potencial para aquecer mais a atmosfera terrestre comparativamente ao dióxido de carbono.

Portanto, segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, o sector agropecuário contribui com cerca de 13,5% do total de gases emitidos que contribuem para o aquecimento global. Um estudo da FAO afirma igualmente que os bovinos geram mais gases de estufa que o sector dos transportes. Esta entidade aponta ainda ser a principal causa da degradação do solo e dos recursos hídricos. Para ela, a pecuária é responsável por 9% de todo o CO2 oriundo das actividades humanas e 65% do óxido nitroso, que tem 296 vezes mais potencial de aquecimento global (GPW na sigla inglesa).

Outra consequência negativa decorrente da pecuária é a erosão dos solos resultante do pisoteio do gado. Quando o número de cabeças de gado é grande e ultrapassa a capacidade de carga dos ecossistemas, ocorre por um lado a compactação dos solo em resultado do pisoteio e a erosão, por outro, se o gado movimentar-se dos locais de pasto para os de abeberamento, atravessando as veredas dispostas perpendicularmente as curvas de nível.

Relativamente erosão, o seu combate passa pelo:
  • Terreceamento, que consiste em fazer cortes, formando degraus nas encostas das montanhas, para quebrar a velocidade do escoamento da água e o processo erosivo. Essa técnica é muito comum em países asiáticos como China, Japão e Tailândia.
  • Curvas de nível, que consiste em arar o solo e depois fazer a sementeira seguindo as cotas altimétricas do terreno. O cultivo seguindo as curvas de nível é feito em terrenos de baixo declive.
  • Associação de culturas, em que se plantam várias culturas entre uma fileira e outra, especialmente algumas espécies de leguminosas que recobrem o terreno. Essa técnica além de evitar a erosão, garante o equilíbrio ecológico.
  • Educação ambiental que consiste na sensibilização das comunidades e de todos os profissionais envolvidos nestas actividades, no sentido de tudo fazerem para evitar acções danosas ao meio ambiente.
  • Substituição ou redução da criação de gado bovino por outro menos poluente.


Bibliografia
MANSO, Francisco Jorge; VICTOR, Ringo. Geografia 12ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2010.

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