Perpectiva Histórica Da Ética
PERPECTIVA HISTÓRICA DA ÉTICA
A
ética como um saber teórico que justifica ou legitima a conduta moral é relativamente
recente. Aparece com o advento da filosofia no séc. VI a.C., na Grécia. A
prática de uma teoria ética no seu sentido mais restrito, surge no séc. V a.C.,
com Sócrates. Sócrates fez uma viragem na abordagem da moral da sua sociedade
ao propor como primordiais os valores espirituais antes dos materiais. Assim
sendo, para Sócrates, a moral não lida com um problema sem importância, mas ela
tem a ver com o como deveríamos viver e porquê?
2.1. Breve historial da ética
De
acordo com Morri (1975), a existência de uma história da moral é sustentada
considerando que cada sociedade tem sido caracterizada por um conjunto de
regras, normas e valores. A história da Ética é complexa e exige alguns
cuidados no seu estudo, uma vez que ela como disciplina filosófica é mais
limitada no tempo e no material tratado do que a história das ideias morais da
humanidade.
A
história das ideias morais da humanidade compreende o estudo de todas as normas
que regularam a conduta humana desde os tempos pré-históricos até aos nossos
dias. Esse estudo é filosófico ou histórico-filosófico e social.
Kant
(2001) acrescenta que, a história das ideias morais é um tema de que se ocupam
a sociologia e a antropologia. A existência de ideias morais não implica a
existência de uma disciplina particular, uma vez que podem estudar-se as
atitudes e ideias morais de diversos povos, orientais, judeus, etc. Sem que o
material resultante seja enquadrado na história da Ética. Assim, só existe
história da Ética no âmbito da história da filosofia.
A história
da Ética adquire uma considerável amplitude. Por isso, é difícil com frequência
estabelecer uma separação rigorosa entre os sistemas morais e – objecto próprio
da. Isto porque a ética é um conjunto de normas e atitudes de carácter moral
dominantes numa sociedade ou fase histórica. Assim, os historiadores da Ética
limitaram seu estudo para aquelas ideias de carácter moral que possuem uma base
filosófica, isto é, em vez de se darem simplesmente como supostas, são
examinadas em seus fundamentos e são filosoficamente justificadas. A
justificação não importa se é do âmbito metafísico ou teológico, mas que seja
uma explicação racional das ideias ou das normas adoptadas. Dai, a razão dos
historiadores da Ética seguirem os procedimentos tomados pelos historiadores da
filosofia.
Neste
sentido, as doutrinas éticas fundamentais nascem e desenvolvem-se em diferentes
épocas e sociedades, na busca de respostas aos problemas nas relações
interpessoais, especificamente pelo valor moral e efectivo.
Se
olharmos para a história, notaremos uma grande diversidade de ideias morais no
tempo. Triedros Nietzsche faz uma exposição da sucessão das doutrinas éticas
quando afirma “aquilo que numa época parece mau, é quase sempre um restolho
daquilo que na precedente época era considerado bom” (Nietzsche, 1977:99).
As
doutrinas éticas nascem e se desenvolvem em diferentes épocas e sociedades como
resposta aos problemas básicos apresentados pelas relações entre os homens e em
particular pelo seu comportamento moral efectivo. Por isso, existe uma estreita
vinculação entre os conceitos morais e a realidade humana social, sujeita
historicamente a devir (a mudanças).
As
doutrinas éticas não podem ser consideradas isoladamente, mas dentro de um
processo de mudança e de sucessão que constitui propriamente a sua história. A
Ética e História se relacionam. Cada doutrina esta em conexão com as anteriores
(tomando posições contra elas ou integrando alguns problemas e soluções
precedentes), ou com as doutrinas posteriores - prolongando-se ou enriquecendo-se
nelas.
Quando
os princípios, os valores ou as normas nela encarada entram em crise e exigem a
sua justificação ou a sua substituição por outros. Surgindo assim, a
necessidade de novas reflexões ou nova teoria moral porque os conceitos, valores
e normas vigentes se tornaram problemáticos.
Apesar
de as doutrinas serem de uma determinada época e sociedade, podem ser tratadas
de forma isolada, mas dentro de um sistema de mudança que constitui a sua
própria história. Neste sentido, quando os princípios ou valores numa
determinada época, regido por uma doutrina, entram em crise, requerendo a sua
justificação ou substituição, surgindo deste modo, surge a necessidade de novas
reflexões, podendo trazer ou não uma nova abordagem, visto que os valores e
normas vigentes se tornam problemáticas.
Bibliografia
KANT, I. (2001). Lecciones de ética. Barcelona: Biblioteca de Bolsito.
MORIN, E. (1975). Paradigma Perdido. Lisboa: Publicações Europa - América.
2.1.1. Ética Grega
Sob
o ponto de vista formal, a história da Ética teve a sua origem na antiguidade
grega através de Aristóteles (384-322 a.C.) e suas ideias sobre a Ética e as
virtudes éticas. Mesmo antes de Aristóteles, já foi possível encontrar na
Grécia fragmentos de uma abordagem com base filosófica para os problemas morais
e até entre os filósofos – présocráticos encontram-se reflexões de carácter
ético, por exemplo, quando pretendiam saber as razões do comportamento moral.
Sócrates
(470-399
a.C.) considerou a questão da ética individual como problema filosófico central
e a Ética como disciplina em torno da qual deveriam girar as reflexões
filosóficas. Para Sócrates ninguém pratica voluntariamente o mal. Somente o
ignorante não é virtuoso. Só age mal quem desconhece o bem porque todo o homem
quando fica sabendo o que é o bem, reconhece-o racionalmente como tal e
necessariamente passa a praticá-lo, e ao praticar o bem, o homem sente-se dono
de si e consequentemente é feliz. Daí a velha máxima (frase socrática): Conhece-te
a ti mesmo. Portanto, para Sócrates a virtude seria o conhecimento das
causas e dos fins das acções fundadas em valores morais, identificados pela
inteligência e que impelem o homem a agir virtuosamente em direcção ao bem.
Platão
(427-347
a.C.) ao examinar a ideia do bem à luz da sua teoria das ideias subordinou a
sua Ética a metafísica. A sua Ética está relacionada com sua filosofia
política, porque para Platão a polis (cidade-estado) é o terreno propício para
a vida moral. A sua Ética exerceu grande influência no pensamento religioso e
moral do ocidente.
Aristóteles
(384-322
a.C.) organizou a Ética como disciplina filosófica e formulou a maior parte dos
problemas que os filósofos morais se ocuparam: relação entre as normas e os
bens entre a Ética individual e social; relação entre a vida prática e teórica,
classificação das virtudes, etc.
A
concepção Ética de Aristóteles privilegia as virtudes (justiça, caridade e
generosidade), tidas como propensas aos sentimentos de realização pessoal,
aquele que age quanto simultaneamente beneficiar a sociedade em que vive.
A
Ética Aristotélica busca valorizar a harmonia entre a moralidade e a natureza
humana, concebendo a humanidade como parte da ordem natural do mundo – o
naturalismo. Para Aristóteles, toda a actividade humana tende a um fim que é o
bem supremo que seria resultado do exercício perfeito da razão, função própria
do homem. Assim, o homem virtuoso é aquele que é capaz de deliberar e escolher
o que é mais adequado para si e para os outros movidos por uma sabedoria
prática em busca do equilíbrio entre o excesso e a deficiência: por exemplo,
tendemos mais naturalmente para os prazeres e por isso somos levados mais
facilmente para a concupiscência do que para a moderação.
A
Ética Aristotélica também esta relacionada com a sua filosofia política, uma
vez que a comunidade social, política é o meio necessário para o exercício da
moral. Somente nela pode realizar-se a ideia da vida teórica na qual se baseia
a felicidade. Porque o homem moral só pode viver na cidade e é, portanto animal
político ou social – zoom politicou. Apenas os deuses e os animais selvagens
não tem necessidade da comunidade política para viver. O homem deve
necessariamente viver em sociedade e não pode levar uma vida moral como indivíduo
isolado, mas no seio de uma comunidade. Com a decadência do velho mundo
greco-romano, surge o estoicismo e o epicurismo. Fundamenta-se na
consciência colectiva, implícita no comportamento humano e social aceite por
todos.
Para
Epicuro (341-270 a.C.), o prazer é um bem e, como tal, o objectivo de
uma vida feliz. Dai o surgimento da ideia do hedonismo que assume o prazer como
princípio e fundamento da vida moral. Uma vez que existem muitos prazeres, nem
todos são iguais e bons. É preciso escolher entre eles os mais duradouros e
estáveis, para isso é necessário à posse de uma virtude sem a qual é impossível
escolher. Essa virtude é a prudência que permite seleccionar aqueles
prazeres que não nos trazem a dor ou perturbações. Os melhores prazeres não são
corporais – fugazes e imediatos - mas os espirituais porque contribuem para a
paz da alma.
A
virtude ética é prudência que leva o homem ou a mulher a escolher prazeres que
não trazem perturbações, visto que o prazer é um bem que leva a uma vida feliz.
Para
os estóicos (Zenão, Séneca e Marco Aurélio), o homem é feliz quando
aceita o seu destino com imperturbabilidade e resignação. O universo é um todo
ordenado e harmonioso onde os sucessos resultam do cumprimento da lei natural,
racional e perfeita. O bem supremo é viver de acordo com a natureza, aceitar a
ordem universal compreendida pela razão, sem se deixar levar pelas paixões,
afectos interiores ou pelas coisas exteriores. O homem virtuoso é aquele que
enfrenta seus desejos com moderação aceitando seu destino. O estóico deixa de
ser um cidadão da polis e passa a ser do cosmo.
O
ser humano é um cidadão do cosmo e o seu destino já está predeterminado.
Bibliografia
KANT, I. (2001). Lecciones de ética. Barcelona: Biblioteca de Bolsito.
DONALD, D. (1999) Ética para Psicólogos, Lisboa, Instituto Piaget.
2.1.2. Ética Cristã e Medieval
Com
o fim do mundo antigo (Grécia e Roma Antiga), o regime servil substituiu a
escravidão. Assim o regime servil deu bases para a construção da sociedade
feudal. A sociedade feudal era extremamente estratifica e hierarquizada. No
entanto era uma sociedade fragmentada economicamente e politicamente na medida
em que as estruturas deixadas pelo mundo antigo foram desfeitas e a igreja
continuou sendo a única instituição organizada. É por este motivo que a
religião se tornou o garante da unidade social do povo na época. Assim a igreja
passou, além do poder espiritual e temporal, a monopolizar a vida intelectual.
Evidentemente a Ética, neste período medieval, foi sujeita a conteúdos religiosos.
Os
filósofos cristãos, da época, tiveram uma dupla atitude diante da Ética:
Uma
atitude Ecónoma que fundamenta-se em Deus e nos princípios morais.
Deus criador, omnisciente e todo-poderoso. O homem como criatura de Deus tem
seu fim último Nele que é o seu bem mais alto e o valor supremo. Deus exige a
sua obediência e a sujeição a seus mandamentos – com carácter de imperativo
supremo.
Esta
atitude aproveitou as ideias da ética grega platónica e estóicas inserindo-as
na ética cristã. A Ética cristã é uma ética subordinada a religião num contexto
em que a filosofia era considerada serva da teologia, isto é, a filosofia
deveria ajudar na compreensão da teologia.
A
ética cristã é uma ética limitada por parâmetros religiosos e dogmáticos e
tende a regular o comportamento dos homens com vista a uma outra vida (reino de
Deus) colocando o seu fim ou objectivo fora do homem, mas na divindade.
Ao
pretender elevar o homem da ordem natural para a ordem transcendental ou
sobrenatural, onde possa viver uma vida feliz e plena, livre de desigualdades e
injustiças do mundo terreno o cristianismo introduz uma ideia inovadora: a igualdade
dos homens diante de Deus. Assim o homem é chamado a alcançar a perfeição e a
justiça num mundo sobrenatural, o reino dos céus. Esta teoria absorve bastante
o que Platão e Aristóteles postularam.
Os
filósofos cristãos mais marcantes na ética cristã são Santo Agostinho (354-430)
e São Tomas de Aquino (1226-1274). Estes reflectem respectivamente as
ideias de Platão e Aristóteles. Por exemplo, a purificação de Platão e a sua
ascensão libertadora até elevar-se ao mundo das ideias tem correspondência na
elevação ascética até Deus exposta por Santo Agostinho. A ética de S. Tomás de
Aquino assemelha-se a Aristóteles na questão da contemplação e do conhecimento
que permite alcançar o fim último. Para São Tomás o fim último é Deus.
A
história da ética é complexa a partir do renascimento europeu onde prevaleceram
diversas doutrinas. Contudo, todas elas surgem como reacção a Ética Cristã que
era excêntrica e teológica. A ética do renascimento é antropocêntrica. Isto é,
o ser humano no centro das atenções. Portanto, ela procura reflectir o homem.
Portanto, o renascimento faz uma viragem significativa na história da ética.
Kant
(2001) defende que esta viragem deveu-se as mudanças que o mundo sofreu nas
esferas económicas, políticas e científicas. Na esfera económica, por exemplo,
viu-se crescer de forma muito intensa o relacionamento de forças produtivas com
o desenvolvimento científico. A relação entre a produção e a ciência propiciou
o desenvolvimento da ciência. Este tema não será desenvolvido nesta unidade porque
não faz parte desta disciplina. No entanto, esta relação fortaleceu a nova
classe social – a burguesia – que lutava para se impor politicamente e
economicamente. Este foi um período de grandes revoluções políticas (na
Holanda, França e Inglaterra). O renascimento trouxe as seguintes
consequências:
- A razão se separa da fé (filosofia separa-se da religião);
- As ciências naturais separam-se dos pressupostos teológicos;
- O estado separa-se da igreja;
- Começam a surgir indícios da separação do homem de Deus.
Esta
rotura foi evidente entre a idade Media e a Moderna. Ora vejamos:
Nicolau
Maquiavel (1469-1527) provocou uma revolução Ética ao romper com a moral cristã
que impõe valores espirituais como superiores aos valores políticos. Isto é, o
caracter normativo da ética, na qual a ética preocupa-se com o fim da conduta
humana e com os meios para alcançar este fim. Para Maquiavel a adopção de uma
moral própria em relação ao estado era fundamental. Para este, o que importa
são os resultados e não a acção política em si mesma, adicionalmente, Maquiavel
sugeriu sendo legítimo o uso da violência contra o que se opõe aos interesses
estatais. Maquiavel pretende a aplicação de novos valores, onde o homem é
centro de busca dos seus próprios valores e princípio. As ideias de Maquiavel
tiveram bastante influência em Thomas Hobbes, Baruch de Espinosa no que se
refere à Ética realista.
Bibliografia
KANT, I. (2001). Lecciones de ética. Barcelona: Biblioteca de Bolsito.
DONALD, D. (1999) Ética para Psicólogos, Lisboa, Instituto Piaget.
2.1.3. Ética Moderna
A
teoria da ética moderna teve uma contribuição de vários autores. Em seguida
descrevemos o desenvolvimento da ética moderna na visão de vários autores.
Reme
Descartes (1596-1650) procurou basear as suas reflexões na filosofia e no homem
que passaram a ser o centro de tudo, da política, da arte e da moral. Surgindo,
desse modo, a Ética antropocêntrica.
Thomas
Hobbes (1588-1679) sistematiza a Ética do desejo que esta em cada ser, de
própria conservação como sendo o fundamento da moral e do direito. Para Hobbes,
a vida do homem no estado de natureza - sem leis nem governo – era solitária,
pobre, sórdida, embrutecida e curta, uma vez que os homens são por índole
agressivos, autocentrados, insociáveis e obcecados por um desejo de ganho
imediato.
Para
Hobbes, os indivíduos que decidem viver em sociedade não são melhores ou
egoístas do que os selvagens: são apenas clarividentes se cooperarem, podem ser
mais ricos e mais felizes. Segundo Hobbes o bom comportamento do homem deriva
do seu egoísmo. Por exemplo, para Hobbes a explicação é simples: dois homens
juntos têm mais facilidade de matar uma fera sem se ferirem. Esta é uma razão
que explica a necessidade do homem de se auto conservar.
Baruch
de Espinosa (1632-1677), diz que: os homens tendem naturalmente a pensar apenas em
si mesmos, nos seus desejos e opiniões. As pessoas sempre são conduzidas por
suas paixões, as quais nunca tem em conta o futuro ou outras pessoas. Esta é
uma acção necessitante da substância divina baseada na tendência de conservação
e consecução de tudo o que é útil.
Espinosa
é essencialmente panteísta: entre Deus e o mundo se não há uma diferença de
pontos de vista, Deus é a única substância necessária, una, infinita,
independente, simples e indivisível. Tem uma identidade, de atributos dos quais
conhecemos apenas dois: a extensão e o pensamento. O mundo é o conjunto dos
modos desses dois atributos. O homem é uma colecção de modos da extensão e do
pensamento. A substância divina desenvolve-se segundo as leis necessárias da
sua natureza. Deus é determinado por si mesmo, mas é determinado num sentido
único e irrevogável. O livre arbítrio do homem reduz-se à ignorância das causas
que determinam as suas acções. A verdadeira liberdade cria-se na medida em que
o homem se liberta das suas paixões e, pela contemplação intelectual,
identifica-se com Deus. Portanto, o princípio da moral identifica-se com Deus.
Nesta
época vigora o panteísmo, que se caracteriza na crença de que a natureza e Deus
são idênticos, não acreditando num Deus criador.
Para
Kant (2001), a virtude não é algo diferente da natureza e, ainda menos, oposto
a ela. A virtude é a própria tendência natural para o auto conservação. O homem
actua melhor e mais eficazmente quando se vale da razão, que é a busca útil e,
por isso, a virtude humana está essencialmente ligada ao uso da razão.
Segundo
Espinosa, o bem e o mal são aquilo que permitem ou impedem o entender. “A razão
nada exige contra a natureza, mas ela mesma exige que cada um se ame a si
próprio e procure o bem próprio, e deseje tudo o que verdadeiramente conduz o
homem a uma maior perfeição e, de modo absoluto que cada um se esforce no que
lhe diz respeito por conservar o seu próprio ser” (Ética, IV, 18).
Em
relação aos juízos morais, Donald (1999), refere que os padrões humanos de
julgamento moral, na sua prática, são arbitrários e caprichosos. Quando se
critica ou se avalia no homem, em qualquer aspecto procede-se a um julgamento
tomando por comparação a uma figura pessoalmente pré-concebida ou um ideal de
homem, individualmente construída. Contudo, quando se julga um homem e se diz
que ele poderia fazer isto ou aquilo, isto implica uma ilusória noção de liberdade,
não poderá ser ou fazer nada diferente do predestinado e daquilo que é. O
estado ordinário da mente quando se procede a julgamentos morais é sempre de
confusões e de ilusões. Então, como proceder? Espinosa refere que o modo de
proceder ultrapassa os usos e a linguagem que condicionam o julgamento, que
deverá ser através da experiência.
John
Locai (1632-1704) toma a posição da conservação e satisfação a uma concepção
de felicidade pública, uma vez que estabeleceu um liame indissolúvel entre a
virtude e a felicidade pública, e tornou a prática da virtude necessária a
conservação da sociedade humana e visivelmente vantajosa por todos os que
precisam tratar com as pessoas de bem. Isto é, agir para o bem comum.
David
Nume (1711-1776) nessa mesma linha de pensamento, Nume afirma que o
fundamento da moral é a utilidade, isto é, a boa acção, aquela que proporciona
felicidade e satisfação à sociedade. A utilidade responde a uma necessidade que
leva o homem a promover a felicidade dos seus semelhantes. Ao invés de limitar
os desejos humanos determinados pelo interesse pessoal (comida, dinheiro,
glória, etc.).
Nume
acha que as paixões do homem estão baseadas na simpatia – a capacidade de
sentir em si mesmo os sofrimentos e até as alegrias do outro. O que impossibilita
traçar uma linha divisória nítida entre o interesse pessoal e o interesse
alheio, uma vez que agora é possível encarar o interesse como se fosse um
interesse pessoal.
Emanuel
Kant (1724-1804) está preocupado em estabelecer a regra da conduta na
substância racional do homem. Nele, o conceito de dever é o ponto central da
moralidade – hoje conhecido por deontologia.
Para
Kant, uma coisa que seja boa em si mesma é a boa vontade ou boa intenção,
aquilo que se põe livremente de acordo com o dever. O conhecimento do dever é a
consequência da percepção pelo homem de que é um ser racional e como tal está
obrigado a obedecer – o imperativo categórico: a necessidade de
respeitar todos os seres racionais na qualidade de fins em si mesmo. E o
reconhecimento da existência de outros homens (seres racionais) e a exigência de
comportar-se diante deles a partir desse reconhecimento. Trata portanto da
existência de outros e das consequências dos seus actos.
A
humanidade deve ser tratada na própria pessoa como na do próximo sempre como um
fim e nunca como um meio.
A
Ética kantiana busca sempre na razão, formas de procedimentos práticos que
possam ser universalizáveis, de tal maneira que os princípios que eu sigo
possam valer para todos. “Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao
mesmo tempo querer que ela se torne lei universal”. Analisando a questão da
corrupção, por exemplo, podemos questionar se tal procedimento deveria ser
universalizado ou não. Se não podemos querer a universalização da corrupção,
também não posso aceitá-la no aqui e agora.
Em
Kant, o bem se identifica com a necessidade moral, não interessando para nada
um conhecimento racional da moral. A moralidade está tão afastada da pura
sensibilidade como da racionalidade absoluta. Se o homem fosse apenas
sensibilidade, as suas acções seriam determinadas pelos impulsos sensíveis. Se
fosse só racionalidade seriam determinadas pela razão. Mas sendo o homem ao
mesmo tempo sensibilidade e razão, tanto pode seguir o impulso como a razão. É
nesta possibilidade de escolha que consiste a liberdade que o faz um ser moral.
Kant vê o ser humano como um ser dotado de razão e de impulso e é nata. É nessa
perspectiva onde surge a possibilidade de escolha (liberdade), que o faz o ser
moral.
Para
viver moralmente, o homem deve transcender a moralidade, submetendo-se aos
impulsos sensíveis e evitando assumir qualquer desejo. Como ser racional, o
homem deseja a felicidade, mas enquanto desejo, a felicidade não pode ser o
fundamento de um imperativo moral. A resolução deste dilema está na acção da
vontade: age de modo que a máxima da tua vontade possa sempre ser valor,
como princípio da legislação universal. Esta fórmula constitui a Lei moral,
valendo para todos os seres racionais. A relação de uma vontade com esta Lei é
uma relação de dependência que se exprime numa obrigação – em obrigar a uma
acção conforme com a Lei. Esta acção chama-se dever. A Lei moral é
origem e fundamento do dever no homem. A acção moral do ser humano tem como
objectivo final o bem supremo, então a virtude é o bem supremo e a condição de
tudo que é desejável.
Kant
distingue legalidade e moralidade: A legalidade é a
conformidade com a Lei, efectuada com um motivo natural sensível. Por exemplo:
obter qualquer vantagem ou evitar qualquer dano. A moralidade é a
conformidade imediata da vontade com a Lei sem o recurso dos impulsos
sensíveis.
O
amor de si é o conjunto de impulsos cuja satisfação constitui a felicidade e
acção que realiza a moralidade é a eliminação do egoísmo, isto é, contrapõe o
eu e os seus impulsos a Lei moral. “Nós somos de certos membros legisladores de
um reino moral tornado possível pela liberdade e representado pela razão
prática como objecto de respeito: mas somos súbditos, não o soberano desse
reino, e assim o desconhecer a nossa condição inferior de criaturas, o recusar
presunçosamente a autoridade da Lei, é já uma infidelidade ao espírito da Lei,
mesmo quando se lhe observe a letra”.
A
acção moral do homem tem como objectivo final o bem supremo. Este bem supremo
consiste, para o homem, que é um ser finito, na virtude e na união da virtude
com a felicidade. A virtude é o bem supremo, a condição de tudo o que é
desejável.
A
afirmação de que o “homem é mau” significa apenas que o homem tem consciência
da lei moral e que por vezes se pode afastar dela. A afirmação de que o “homem
é mau por natureza” significa que o que se disse vale para toda a espécie
humana, o que não quer dizer que se trate de uma qualidade, mas de uma
tendência para o mal em todos os homens, isto é, dos homens. Tal tendência para
o mal é moralmente negativa - mal radical e inato na natureza humana.
O
mal radical não pode ser destruído pelas forças humanas, mas pode ser vencido,
a fim de que o homem seja verdadeiramente livre nas suas acções.
Bibliografia
KANT, I. (2001). Lecciones de ética. Barcelona: Biblioteca de Bolsito.
DONALD, D. (1999) Ética para Psicólogos, Lisboa, Instituto Piaget.
2.1.4. Ética Contemporânea
Semelhantes
a ética moderna, alguns autores contribuíram para o desenvolvimento da teoria
da ética contemporânea. Em seguida descrevemos as contribuições desses autores.
Triedros
Hegel (1770-1831) é o filósofo mais importante do idealismo pós-kantiano. A
doutrina de Hegel tem uma tendência panteísta e é conhecida como idealismo
absoluto porque o absoluto é a ideia, o pensamento puro, a abstracção lógica.
Hegel
compreende que a moral não é uma questão perene, mas complexa e dinâmica. Hegel
trata de uma moral que muda algo que se mantém independentemente e acima dos
conceitos que mudam, evoluem e se transformam enquanto ela se matem una,
universal e intemporal. Para Hegel, a ética e a moral das pessoas enquanto
seres culturais, determina-se pelas relações sociais que mediatizam as relações
pessoais.
O
que é comum a todas as perspectivas e conceitos da moral é que o indivíduo
providencia a sua própria moralidade e ao mesmo tempo clama por uma genuína
universalidade. O que permite a sanção das nossas escolhas morais é em parte o
facto de que o critério que governa as nossas escolhas, não é escolhido. É no
contexto da ordem moral estabelecida numa comunidade bem ordenada que se podem
encontrar os critérios éticos gerais e concordâncias com os seus. A autoridade
Ética da sociedade não advém, porém do seu poder real, mas dos seus conceitos
que são encarados como normativos.
Para
Hegel, a vida pode ser vivida dentro de um certo tipo de comunidade que em cada
comunidade certos valores se provarão indispensáveis, adaptando uma posição
diferente da linha sobre a objectividade da moral do séc. XVIII e dos seus
herdeiros posteriores.
Do
ponto de vista do indivíduo isolado, a escolha entre os valores está aberta,
mas para o indivíduo integrado numa sociedade não está. Cada sociedade impõe
certos valores a si próprio e ao indivíduo, só havendo verdadeira possibilidade
de escolha arbitrária ao indivíduo que não esteja integrado numa sociedade.
Platão
e Aristóteles encaram a objectividade e a autoridade ética, porque a descrevem
dentro de uma sociedade de polis. Os individualistas do séc. XVIII vem o
bem como a expressão dos seus sentimentos ou o mandato da sua razão individual
porque se situam como se estivessem fora da sociedade em que vivem. A sociedade
é por eles considerada apenas como um mero agregado de indivíduos. Mas Hegel
levanta uma questão: o que é que, para o homem moderno, toma lugar da polis
grega?
Para
Hegel a vida Ética ou moral dos indivíduos enquanto ser cultural e histórico é
determinada pelas relações sociais que mediatizam as relações pessoais
intersubjectivas. Assim, Hegel transforma a Ética numa filosofia de direito e
divide-a em Ética subjectiva (pessoal) e Ética objectiva (social).
A
Ética subjectiva é uma consciência de dever enquanto a ética objectiva é
formada pelos costumes, pelas leis e normas de uma sociedade. Entretanto, Hegel
dividiu a sua obra de 1821, Filosofia do Direito, em três áreas: direito
abstracto, a moral e a etnicidade.
- Direito abstracto – é da pessoa individualmente considerada e exprime-se na propriedade, que é a esfera exterior da sua liberdade;
- A moralidade – é a esfera da vontade subjectiva que se manifesta na acção;
- A etnicidade – é a esfera da necessidade e das regras sociais que regem a vida dos indivíduos e constituem os seus deveres.
O
domínio da moralidade é caracterizado pela sua separação abstracta entre a
subjectividade que deve realizar o bem, e o bem que deve ser realizado. Esta
separação é resolvida pela ética, onde o bem se realiza de forma concreta e se
torna existente.
Donald,
(1999) Os deveres éticos são obrigatórios e surgem como uma limitação a
subjectividade ou a liberdade abstracta do indivíduo, sendo, no entanto, a
redenção do próprio indivíduo, dos seus impulsos e da sua subjectividade
individual.
No
mundo Ético (família, sociedade civil, Estado) a liberdade torna-se realidade:
“o sistema de direito é o reino da liberdade realizada, o mundo do espírito
expresso por si mesmo, como uma segunda natureza.” Para que o direito - ética
se realize e subsista é necessário que à vontade do indivíduo se reverta numa
vontade mais vasta, universal, a qual se submeta por livre vontade.
O
homem é um indivíduo ético, integrado num sistema social ético que é
constituído pelo sistema de necessidades da sociedade civil. Para o Kant, o
indivíduo está submetido a imperativos categóricos enquanto o indivíduo Emiliano
procura os seus critérios morais nas normas da sociedade.
Para
Hegel, o estado reúne esses dois aspectos numa totalidade Ética.
Donald,
(1999) A vontade individual subjectiva é determinada por uma vontade objectiva,
impessoal, colectiva, social e pública que cria as diversas instituições
sociais. Essa vontade regula e normaliza as condutas individuais através de um
conjunto de valores e costumes vigentes numa determinada sociedade e numa
determinada época.
O
ideal ético está numa vida livre dentro de um estado livre, um estado de
direito que preserve os direitos dos homens e lhes cobre seus deveres onde a
consciência moral e as leis do direito não estão separadas e nem em
contradição. Assim, a vida Ética é a interiorização dos valores, normas e leis
de uma sociedade, condensadas na vontade objectiva, cultural por um sujeito
moral que as aceite livre e espontaneamente através de uma vontade subjectiva
individual. A vontade pessoal resulta da aceitação harmoniosa da vontade
colectiva de uma cultura.
Kart
Marx (1818-1883) a moral é uma superstrutura ideológica, com função social
que permite sacramentar as relações e condições de existência de acordo com os
interesses da classe dominante. Numa sociedade dividida em classes antagónicas,
a moral sempre terá um carácter de classe. Enquanto não se verificarem as
condições reais para uma moral universal, válida para toda a sociedade não pode
existir um sistema moral válido para todos os tempos e todas as sociedades.
Para
Marx, ao se tentar construir tal sistema no passado estava-se a imprimir um
carácter universal a interesses particulares.
Se a
moral proletária é a moral de uma classe que esta destinada historicamente a
abolir a si mesmo como classe para ceder lugar a uma sociedade verdadeiramente
humana, serve como passagem a uma moral universalmente humana. Os homens
necessitam da moral assim como necessitam da produção, e cada moral cumpre sua
função social de acordo com a estrutura social vigente.
Entretanto
torna-se necessária uma moral que não seja o reflexo de relações sociais
alienadas para regular as relações entre os indivíduos tanto em vista das
transformações da velha sociedade como para garantir a harmonia da emergente
classe socialista.
A
transformação da antiga classe e a construção da nova moral exige a
participação consciente dos homens. Porque, a nova moral com suas novas
virtudes transforma-se numa nova necessidade. Assim, o homem deve interferir
sempre na transformação da sociedade.
Friedrich
Nietzsche (1844-1900) é um crítico mordaz de toda a moral, seja a socrática,
judaico-cristão ou moral burguesa.
Para Nietzsche, a vida é à vontade de poder, princípio último de todos os valores. O bom é o que favorece a força vital do homem, e tudo o que intensifica e exalta no homem o sentimento de poder, à vontade de poder e o próprio poder. O mal é tudo o que vem da fraqueza ou o bom fornece a força e o mal a fraqueza.
Nietzsche
vê no super-homem, alguém capaz de quebrar a tábua dos valores, transmutando-os
a todos.
O
pragmatismo afasta-se de questões teóricas de fundo, dos problemas abstractos
da velha metafísica e dedicam-se as questões práticas sob o ponto de vista
utilitarista. A verdade é o útil que ajuda a viver e a conviver. O bem é algo
que conduz a obtenção eficaz de uma finalidade, que nos conduz a um êxito. Os
valores, princípios e normas perdem seu conteúdo objectivo e o bem passa a ser
aquilo que ajuda o homem nas suas actividades práticas, variando de acordo com
as circunstâncias. O perigo apresentado pelo pragmatismo é que ele tenta
reduzir o comportamento moral a actos que conduzem apenas aos êxitos pessoais
transformando-os numa variante utilitarista marcada apenas pelo egoísmo,
rejeitando a existência de valores ou normas objectivas, criando uma distorção
baseada na busca da vantagem particular onde o bom é o que ajuda o meu
progresso e o meu sucesso particular.
INRI
Berços (1859-1941) distingue a moral: moral fechada e moral aberta. A moral
fechada é o conjunto do que é permitido e do que é proibido para os
indivíduos de uma sociedade tendo em vista o auto conservação da mesma. É
imposta aos indivíduos e tem como finalidade tornar a vida em comum possível e
útil a todos. Ela corresponde no mundo humano ao que é instinto em certas
sociedades animais, isto é, tende ao fim de conservar as próprias sociedades.
Donald,
(1999) A moral aberta nasce do impulso criador supraracional. É a moral
do amor, de liberdade e da humanidade universal que resulta de uma emoção
criadora. Ela torna possível a criação de novos valores e de novas condutas em
substituição daquelas vigentes segundo a moral fechada. É a moral dos profetas,
sábios, místicos inovadores e dos santos que inspiram a instauração de uma nova
ética face a moral vigente.
Na
filosofia contemporânea, os princípios do liberalismo influenciaram o conceito
de ética, adquirindo fortes traços de moral utilitarista. Os indivíduos devem
buscar a felicidade e fazerem melhores escolhas entre as alternativas
existentes.
Bertrand
Russell (1872-1970) afirma que a ética é subjectiva. Não contem afirmações
verdadeiras ou falsas. É a expressão dos desejos de um grupo. Mas o homem deve
reprimir certos desejos e reforçar outros se pretende atingir a felicidade ou equilíbrio.
Jurem
Abertas (1924) faz uma revisão e actualização do marxismo capaz de dar conta das
características do capitalismo avançadas na sociedade industrial contemporânea.
Faz uma crítica a racionalidade dessa sociedade caracterizando-a de uma razão
instrumental que visa apenas estabelecer os meios para se alcançar um fim
determinado. O desenvolvimento técnico e a ciência voltada apenas à aplicação
técnica acarretam a perda do próprio bem que estaria submetido às regras de
dominação técnica do mundo actual. E necessário então a recuperação da dimensão
humana de uma racionalidade instrumental baseada no agir comunicativo entre
sujeitos livres, de carácter emancipador em relação à dominação técnica que
distorce a possibilidade da acção comunicativa e produz relações assimétricas e
impede uma interacção plena entre as pessoas.
Abertas
pretende fundar uma nova racionalidade, e recomenda a filosofia analítica da
linguagem para sistematizar as condições do uso da linguagem livre em torno da teoria
da acção comunicativa.
Habermas
busca uma teoria geral da verdade segundo a qual o critério da verdade é o
consenso dos que argumentam e defende a ideia de que argumentar é uma tarefa
eminentemente comunicativa porque o discurso intersubjectivo é o lugar próprio
para a argumentação. O critério de verdade aceite por consenso e somente aquele
que se estabelece sob condições ideais situação ideal de fala. O consenso é
racional quando estabelecido numa condição de fala. Para tal estabeleceram-se
regras cuja observação e condição para que se possa falar de um discurso
verdadeiro, que são:
- Todos os participantes tenham as mesmas chances de participar do diálogo;
- Todos os participantes tenham as mesmas chances para a crítica. Estas são formas de eliminação dos factores de poder que poderiam perturbar a argumentação;
- Todos os falantes deveriam ter chances iguais para expressar suas atitudes, sentimentos e intenções.
- Serão admitidos ao discurso falantes que tenham as mesmas chances enquanto agentes para dar ordens e se opor, permitir e proibir, etc.
Donald
(1999) defende que, um diálogo sobre questões morais entre senhores e escravos,
patrões e empregados, pais e filhos, violariam as condições da situação ideal
da fala. Isto porque o discurso autêntico é aquele que ocorre com pessoas em
situação igual, sob condições igualitárias do ponto de vista de participação no
discurso.
Bibliografia
DONALD, D. (1999) Ética para Psicólogos, Lisboa, Instituto Piaget.
KANT, I. (2001). Lecciones de ética. Barcelona: Biblioteca de Bolsito.
2.1.5. Ética Como Ciência
Depois
de fazermos uma breve abordagem acerca da etimologia dos conceitos de ética e
moral, da diferença entre ética e moral, e do carácter normativo da ética,
vamos de seguida contextualizar o ambiente do surgimento das teorias da ética.
A
ética como um saber teórico que justifica ou legitima a conduta moral é
relativamente recente. Aparece com o advento da filosofia no séc. VI a C, na
Grécia. A prática de uma teoria ética no seu sentido mais restrito, surge no
séc. V a C, com Sócrates. Sócrates fez uma viragem na abordagem da moral da sua
sociedade ao propor como primordiais os valores espirituais antes dos
materiais. Assim sendo, para Sócrates, a moral não lida com um problema sem
importância, mas ela tem a ver com o como deveríamos viver e porquê?
Nesta
cessão vamos demonstrar como a ética surgiu como uma ciência. Note que a ética
como uma disciplina está dividida. No entanto, não devemos nos esquecer que a
Ética é uma só. Estas classificações que descrevemos abaixo têm fins meramente
didácticos.
A
ética como uma reflexão normativa sobre os actos humanos segundo princípios
racionais faz parte da Ética Geral que tenta explicar questões como a
liberdade, a natureza do bem e do mal, a virtude e a felicidade, entre outros
aspectos. Por outro lado, existe a Ética Especial ou a Ética Aplicada
que pretende levar à prática os fundamentos gerais da ética. Por isso, a
ética pode ser: Ética Geral e Ética Especial ou Aplicada.
De
acordo com Lourenço & Vicente (1995), a Ética Geral é aquela, que procura
explicar questões relacionadas com a liberdade, a natureza do bem e do mal, a
felicidade, etc. Ela estuda todos esses aspectos no seu plano mais geral. A
Ética Aplicada ou especial pode ser enquadrada em três planos: individual,
familiar e social. A nível social a ética pode se subdividir em diversos ramos:
ética internacional, económica, profissional, entre outros. No caso da ética
profissional pode se falar da ética para ciências de saúde, ética para a
comunicação; ética para a educação, ética para os psicólogos, ética para o
jurista, ética na administração, etc.
Na
ética especial aplicamos os conteúdos da ética geral a uma realidade
específica, isto é concreta. A ética especial pode ser: ética médica, ética do
psicólogo, ética dos enfermeiros, ética dos professores, ética dos economistas,
ética ambiental, ética dos auditores, etc. Portanto, a ética especial é a
aplicação dos princípios gerais da ética a uma realidade ou tema específico.
Bibliografia
DONALD, D. (1999) Ética para Psicólogos, Lisboa, Instituto Piaget.
LOURENÇO, J & Vicente, J. (1995) Do Vivido ao Pensado. Porto: Porto Editora.
2.1.6. Meta - Ética
De
acordo com Lourenço & Vicente (1995), a Meta - ética é o estudo filosófico
da natureza do julgamento moral. Ela busca o sentido pelo qual se denomina algo
como certo ou errado (bom ou mau), incluindo o significado dos termos morais e
a discussão de quando um julgamento moral é objectivo ou subjectivo. Também a
Meta – ética é uma reflexão sobre a natureza dos próprios juízos éticos como: o
que quer dizer bem moral?
A Meta
- ética estuda, ainda, outros temas como:
- Objectividade da Moralidade;
- A natureza da moralidade;
- A natureza da responsabilidade e sua conexão com o livre arbítrio (a liberdade).
O
estudo da natureza do julgamento moral pode ser enquadrado nas seguintes
disciplinas: a psicologia moral e epistemologia moral.
De
acordo com Kant, (2001), a Psicologia Moral interessa-se pelo estudo da
motivação, da teoria das decisões e da ética descritiva. Por sua vez, a Epistemologia
Moral estuda a natureza do conhecimento moral e a natureza dos argumentos
morais. O estudo da natureza do argumento moral também é enquadrado na
disciplina chamada Lógica Deôntica. A lógica deôntica estuda os
princípios do raciocínio referente às obrigações, permissões, proibições, compromisso
moral, etc.
Bibliografia
LOURENÇO, J & Vicente, J. (1995) Do Vivido ao Pensado. Porto: Porto Editora.
KANT, I. (2001). Lecciones de ética. Barcelona: Biblioteca de Bolsito.
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