O fim da Primeira I Guerra Mundial

O fim da I Guerra Mundial

Em 29 de Outubro de 1918, o Comando Supremo Alemão informou o imperador Guilherme II que a situação militar na frente de combate era insustentável, exigindo um cessar-fogo imediato. Recomendava ainda que fossem aceites os «14 Pontos» do presidente norte-americano, Woodrow Wilson, para as negociações de paz. Com isto, permitia-se manter a honra do exército alemão e colocar a responsabilidade da capitulação e as suas consequências nas mãos dos partidos políticos e no parlamento.

Na verdade, os políticos e militares alemães tentavam fugir à responsabilidade de assinar um armistício. Porém, os motins revolucionários, como a revolta dos marinheiros, no porto naval de Wilhelmshaven, que proclamou a república em de 3 de Novembro, levaram o imperador Guilherme II a abdicar, sendo assinado um armistício em 11 de Novembro de 1918.

A paz de Wilson

O presidente norte-americano Woodrow Wilson enfatizava a importância dos direitos humanos, sendo um defensor do direito à autonomia, criticando a ilegitimidade do imperialismo formal. Defendia, no plano internacional, que os Estados Unidos da América não tinham interesse em seguir as políticas das potências imperialistas europeias, tendo um importante papel enquanto mediador de conflitos entre outros Estados.

Assim, não se envolveu na I Guerra Mundial, mantendo o pais neutro no conflito. A fama de Woodrow Wilson (Prémio Nobel da Paz, em 1919) baseava-se na sua visão sobre o estabelecimento da paz na Europa, auxiliando a Sociedade das Nações a promoverem a segurança colectiva, impedindo novos conflitos. Na Conferência de Paris apresentou um conjunto de princípios e propostas que visavam a reestruturação mundial no pós-guerra.
Fig.1: Woodrow Wilson, 1856-1924.

Os 14 pontos de Woodrow Wilson

  • 1.     Inaugurar pactos de paz, depois dos quais não deverá haver acordos diplomáticos secretos, mas sim diplomacia franca e sob os olhos da opinião pública.
  • 2.     Liberdade absoluta de navegação nos mares e águas fora do território nacional, tanto na paz quanto na guerra, com excepção dos mares fechados, completamente ou em parte, por acção internacional em cumprimento de pactos internacionais.
  • 3.     Abolição, na medida do possível, de todas as barreiras económicas entre os países e o estabelecimento de uma igualdade das condições de comércio entre todas as nações que aceitem a paz e a associação multilateral.
  • 4.     Garantias adequadas da redução dos armamentos nacionais até ao mínimo necessário para garantir a segurança nacional.
  • 5.     Um reajuste livre, aberto e absolutamente imparcial da política colonial, baseado na observação estrita do princípio de que a soberania dos interesses das populações colonizadas deve ter a mesma importância dos pedidos semelhantes das nações colonizadoras.
  • 6.     Retirada dos exércitos do território russo e solução de todas as questões envolvendo a Rússia, visando assegurar a melhor cooperação com as outras nações do mundo. O tratamento dispensado à Rússia pelas suas nações irmãs será o teste de boa-vontade, de compreensão das suas necessidades como distintas dos seus próprios interesses e da sua simpatia inteligente e altruísta.
  • 7.     A Bélgica, como o mundo inteiro concordará, precisa ser restaurada, sem qualquer tentativa de limitar a sua soberania a qual ela tem direito, assim como as outras nações livres.
  • 8.     Todo o território francês deve ser libertado e as partes invadidas restauradas. O mal feito à Franca, em 1871, na questão da Alsácia e Lorena, deve ser desfeito para que a paz possa ser garantida mais uma vez, no interesse de todos.
  • 9.     Reajuste das fronteiras italianas, respeitando linhas reconhecidas de nacionalidade.
  • 10.  Reconhecimento do direito ao desenvolvimento autónomo dos povos da Áustria-Hungria, cujo lugar entre as nações queremos ver assegurado e salvaguardado.
  • 11. Retirada das tropas estrangeiras da Roménia, da Sérvia e de Montenegro, restauração dos territórios invadidos e o direito de acesso ao mar para a Sérvia.
  • 12. Reconhecimento da autonomia da parte da Turquia dentro do Império Otomano e a abertura permanente do estreito de Dardanelos como passagem livre aos navios e ao comércio de todas as nações, sob garantias internacionais.
  • 13. In]dependência da Polónia, incluindo os territórios habitados por população polaca, que devem ter acesso seguro e livre ao mar.
  • 14. Criação de uma associação geral sob pactos específicos para o propósito de fornecer garantias mútuas de independência politica e integridade territorial dos grandes e pequenos Estados.
Os «14 Pontos» foram apresentados ao Congresso dos Estados Unidos, em 8 de Janeiro de 1918, que o rejeitou, sob a forte influência do isolacionismo da politica externa americana. A rejeição do Congresso impediu que os Estados Unidos integrassem a Sociedade das Nações.

A Conferência de Paris

A Conferência de Paz de Paris foi a maior reunião diplomática desde o Congresso de Viena, tendo-se estendido de 18 de Janeiro de 1919 a 20 de Janeiro de 1920. Nesta conferência foi assinado um importante conjunto de tratados. O ponto de partida da reunião foram os «Catorze Pontos» do presidente norte-americano Woodrow Wilson, que constituíam a única exposição sistemática dos objectivos de guerra dos «aliados». Porém, os resultados foram muito diferentes, dados os interesses particulares de cada um dos países presentes:
  • A França estava fundamentalmente interessada em garantir a sua segurança, a imposição de sanções e o pagamento das reparações de guerra por parte dos alemães. 
  • A Itália procurava que lhe fossem concedidos os territórios que lhe tinham sido prometidos em 1915, em troca da sua entrada na guerra.
  • A Grã-Bretanha estava interessada em proteger os seus interesses coloniais, ao mesmo tempo que pretendia garantir a sua supremacia naval.
  • Os Estados Unidos da América estavam particularmente interessados na criação da Sociedade das Nações, tendo sido obrigados a fazer numerosas concessões a cada um dos países, de modo a garantira sua existência.

Congresso de Viena: decorreu entre 2 de Maio de 1814 e 9 de Junho de 1815, com o objectivo de redesenhar as fronteiras europeias, alteradas pelas conquistas de Napoleão Bonaparte, restabelecer nos tronos as famílias reais derrotadas e estabelecer alianças entre a burguesia dos vários países europeus.
Foi estabelecida uma aliança político militar: a Santa Aliança, reunindo os exércitos da Rússia, Prússia e Áustria, prontos para intervir em qualquer crise que ameaçasse o Antigo Regime, incluindo a hipótese de intervir nas independências no continente americano.


O Tratado de Paz de Versalhes

A assinatura do Tratado de Paz de Versalhes, em 29 de Junho de 1919, obrigou os alemães a aceitarem pesadas condições, como:
  • Entregar a Alsácia-Lorena à Franca, além de outras regiões Dinamarca e à Polónia.
  • Ceder as minas de carvão do Sarre à França, por um período de 15 anos.
  • Entregar a jurisdição do porto de Danzig à jurisdição da Sociedade das Nações, sendo este gerido.
  • A distribuição das antigas colónias alemãs pela Grã-Bretanha, Franca e Africa do Sul, sob a forma de «mandatos», enquanto as da Ásia eram divididas pelo Japão, Austrália e Nova Zelândia.
  • O desarmamento total das suas forças militares, entregando os navios e submarinos aos países vencedores.
  • A interdição de terem aviação militar e marinha de guerra.
  • A redução do seu exército a 100 000 homens.
  • Pagamento de uma soma de 33 milhões de dólares, como compensação pelas perdas e danos sofridos pelos países vencedores.
Outros acordos foram assinados, em separado, com os aliados da guerra da Alemanha. O Império Austro-Húngaro foi desmembrado, surgindo em seu lugar a Checoslováquia, a Hungria, a Polónia e a Jugoslávia.

A criação da Sociedade das Nações

A derrota da Alemanha significou para o presidente norte-americano Woodrow Wilson, a contenção do militarismo na Europa e a possibilidade da criação de um organismo internacional no qual todos os países, sem excepção, poderiam trabalhar pela paz mundial. A Sociedade das Nações, criada em 28 de Abril de 1919, era esse fórum internacional. A Alemanha e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), a que se seguiriam depois os Estados Unidos da América, não integraram a Sociedade. Esta tinha como órgãos:
  • A Assembleia Geral, constituída por todos os Estados membros.
Um Conselho formado por cinco potências vitoriosas – Império Britânico, Estados Unidos da América, Franca, Itália e Japão - e por quatro membros designados pela Assembleia, procurando conciliar igualdade e eficácia.
De imediato revelaram-se os seus defeitos e limitações:
  • Todas as decisões deveriam ser tomadas por unanimidade, o que equivalia a dar a todas as partes contratantes o direito de veto.
  • Indefinição entre os poderes da Assembleia e do Conselho.
  • Ausência de meios efectivos para evitar a guerra.
Ainda que a Sociedade das Nações tivesse obtido alguns êxitos, quando as situações envolviam potências relativamente menores, o seu fracasso viria a confirmar-se nos conflitos expansionistas que envolviam os próprios membros permanentes do Conselho.

A Sociedade das Nações instituiu a diplomacia multilateral e constituiu organismos que lhe sobreviveram, apos a sua última reunião, em Abril de 1946, como a Organização Internacional do Trabalho e o Alto-Comissariado para os Refugiados.


Bibliografia
SOPA, António. H10 - História 10ª Classe. 1ª Edição. Texto Editores, Maputo, 2017.

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